segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Richard Dawkins contra a religião (Osvaldo)


De antemão digo que é interessante a idéia de trazer os céticos que estão na "berlinda" a um debate mais elucidativo acerca da razão de adotarem esta posição, tendo bases sólidas para também argumentarem em seu favor mediante o fundamentalismo religioso e proselitismos.

"Ele também defende e divulga correntes como o ateísmo, ceticismo e humanismo. Também é um entusiasta do movimento bright e, como comentador de ciência, religião e política, um dos maiores intelectuais conhecidos no mundo. Esses assuntos são devidamente retratados em seu mais recente livro, "Deus, um delírio", livro que já é best-seller em vários partes do mundo. Através de diversos fatos científicos, Dawkins nos mostra sua idéia da inexistência de Deus. Em enquete realizada pela revista Prospect em 2005, sobre os maiores intelectuais da atualidade, Richard Dawkins ficou com a terceira posição, atrás somente de Umberto Eco e Noam Chomsky"

Bem, penso que muitos estão um pouco "enfadados" e tolhidos com essa conversa fundamentalista religiosa e metafísica. Acho que o ponto crítico do livro é a questão do fundamentalismo religioso, pois Dawkins mesmo alega não poder provar veementemente a inexistência de Deus, mas também tenta inculcar o porque de acreditar; em que bases? Como pode ser racional alguém atribuir a uma criança em formação uma religião? Que arbitrariedade seria esta? E quem decretou que no ensino fundamental deva haver religião?
Este é um campo que não deve haver uma moral estabelecida para julgar as atitudes de Dawkins; é mais do que estabelecer se existe um deus ou não; é comportamental.
Claro que o oposto pode ocorrer, isso também se tornar um fundamentalismo, mas será? Não seria interessante ver até onde vai isto ao menos?
Não creio também que se esteja ofendendo culturas alheias; desculpe, mas desde quando "religião" é simplesmente cultura?
Muitas pessoas que conheço afora já relataram as idiossincrasias e ações deletérias de toda sorte provenientes desta moral e muletas de estupidez humana que teoricamente alegam o "bem estar" de todos; e todos nós sabemos da sujeira social herdada ao longo da historia ao brado de um deus insipiente.
A única forma que se assemelha de um conceito muito respeitável de ação não intolerante é a do "budismo", e este para os que realmente conhecem o sentido desta filosofia.
Da mesma forma que debatemos muitas proposições filosóficas aqui, creio que um ateu deva ter a sua para sustentar de fato se é um ou não. Porque não refutar os "superastros" das grandes massas? Pode até soar a tentativa de uma "metodologia" esta de Dawkins.
Não obstante, quem lê Dawkins estaria se interessando também por outras coisas além de conceitos ateístas, como por exemplo, a própria ciência e o humanismo; paradoxalmente possa isto parecer.
Especular se isto ou aquilo não daria certo antes do tempo não seria uma prova cabível.
Porque será que falar de deus aos ateus incógnitos é o mesmo tabu que falar de sexo para outros tantos?
Vocês sabem em qual proporção os evangélicos, estes mais lunáticos, crescem tanto quanto outros movimentos místicos? Será mesmo que Deus está morto? Acho que nem tanto, foi apenas reinventado.
Pois bem, se a morte de Deus se resume também na pós-modernidade, que tenham os ateus sua voz ativa ao menos; já que o quadro está estabelecido e ninguém viverá além das elucubrações contrarias a isto.
Tomando o exemplo de Dawkins, ainda penso que se dá a impressão de tratados filosóficos serem "self-centered" somente. Seria muito mais interessante ver talvez um filósofo sair de seu estado "autofágico" e dar um brado que fosse contrário a tanta imbecilidade editorial, ao invés de professar suas filosofias para determinadas "castas" somente; elucidando de forma "inteligível" às massas um teor de "lúdica" crítica elementar.
O que talvez falte a Dawkins seja um argumento menos dialético e mais lógico em suas refutações.
Muitos são adepto da "martelada" inicial, e isto não necessariamente quer dizer que quero ver o circo pegar fogo ou qualquer outra apologia que o justifique.

sábado, 28 de novembro de 2009

O poder ilusório da auto-ajuda (Osvaldo)


Vejam por si mesmos aonde chegou a sociedade de modo geral e suas preferências literárias.
Na capa da revista Veja de 2/12/2009 logo se faz a advertência: "não adianta torcer o nariz!"
O que devem estar imaginando os filósofos ao lerem esta matéria?
Creio que dá para acessar o site da revista para ver a matéria na íntegra. Eu nem a li direito, me recusei; mas li nas duas escassas paginas finais o hediondo: " A prima rica da autoajuda é a filosofia. AMBAS se propõem a compreender e interpretar a existência humana, a diferença é que a filosofia vai fundo na definição de conceitos, e nem sempre tira lições práticas de suas conclusões". Depois citam o epicurismo e Sêneca.
Para finalizar citam algumas frases clássicas de alguns pensadores como Spinoza, Montaigne, e outros; com uma alusão final de se pensar na "vida" e esquecer a morte.
Nota-se uma clara concepção de valores opióides que lhes proporcionam o torpor da felicidade momentânea.
Pasmem, onde está Schopenhauer, Nietzsche e tantos outros?
Schopenhauer vaticinou que o futuro da literatura seria a banalização, as ditas "literatices"; termo criado por ele; e que a quantidade de escritores ruins vive somente da tolice do publico.
Aqui fica uma reflexão consoladora de minha parte: a sociedade não ousaria ouvir a verdade; a de que ela aperta cada vez mais a corda no pescoço!
Como isso lembra a morte de deus não?
E a revista, não importa qual fosse, faz um desprezo à filosofia, e nota-se que ela coloca apenas um "momento", uma frase, de um pensador como Spinoza, por exemplo.
Com mil diabos; como um pensador como Spinoza, talvez o mais indicado para uma baliza mediante esta matéria, pode ser citado apenas como um "axioma"?
Troca-se toda a sorte de filosofar por um padreco pop star e seus receituários, outro que pesca nas "sagradas escrituras" versículos mirabolantes, e outro que se afirma no capitalismo empresarial com um nome muito sugestivo para as presas fáceis: "O monge e o executivo".
Isto é o que se chama de niilismo.


Para explicar isto também, segue um texto de quem vaticinou mais de um século atrás este advento literário, Arthur Schopenhauer:

"Parece premonição. Quando o filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860) escreveu os três textos que compõem o livro Sobre o ofício do escritor (Martins Fontes, 222 págs., R$ 21,50) – originalmente para a obra de pequenos ensaios intitulada Parerga e paralipomena, lançada em 1851 –, não poderia supor que seus fundamentos seriam tão verdadeiros num futuro distante. O livro é um prognóstico de tragédia na área das letras. Deixemos de lado a parte em que fala dos problemas da língua alemã, pela especificidade que não é de interesse geral, para centrar nas críticas aos escritores, estilos e vícios. Parece que ele adivinhava que o futuro da literatura seria a banalização – basta ver entre os milhares de títulos lançados diariamente quais realmente merecem ser lidos. Feitas as contas, o resultado é pequeno.
Mas a responsabilidade pela proliferação de obras ruins é repartida com o leitor: “Uma grande quantidade de escritores ruins vive somente da tolice do público”, diz. Schopenhauer chama de literatice – termo certamente criado por ele e que significa literatura chata – “cerca de nove décimos de todos os livros”. E diz o motivo: os autores são “cabeças ocas que querem socorrer seus bolsos vazios”. Ele condena quem escreve para alcançar a fama ou, pior, para ganhar dinheiro. Só se deveria escrever por amor ao assunto, ensina. Não viveu o suficiente para conhecer o marketing, mas pediu que a literatura fosse avaliada apenas pelo pensamento original, e não pela capa ou presepada em volta. Bate pesado nas interpretações e compilações. “Só quem tira diretamente da própria cabeça a matéria do que escreve é digno de ser lido”, afirma. Considera que “os que pensam” são exceções e “no mundo inteiro, a regra é a canalha”. Ou seja, os que se apropriam de reflexões alheias e reproduzem idéias como se faz com “moldes de gesso”.
Schopenhauer afirma que não existe nada mais fácil do que escrever difícil, e que este é um recurso que visa ao logro. A exibição de erudição pomposa, estilo prolixo e palavras que ninguém entende é, na verdade, uma forma de o autor reconhecer que não merece ser entendido e que seu pensamento não é significativo. Dizem que a filosofia está na moda no Brasil atualmente e que os filósofos estão sendo procurados em livrarias. Ok, essa onda pode nos redimir da saga que ele critica em seu livro. “Há gente que lê mais sobre o que foi escrito a respeito de Goethe do que por Goethe e estuda com mais diligência a lenda de Fausto do que o próprio Fausto.” É aconselhável ler Schopenhauer por ele próprio".

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Das muletas existenciais e da crença em Deus (Osvaldo)


Quantos já indagaram o porquê da crença em Deus? E na falta de Deus, por que tantos outros se apegam a outras crenças? Como do consumismo, da hiper realidade, da "estética" do posicionamento social, do par perfeito e outras tantas?
Alternativas para a substituição de Deus, ou para uma simbiose Deus totalmente idéia subjetiva/agnóstica mais realidade fugidia é que não faltam.
Primeiramente, devemos voltar a tempos atrás quando o homem se norteava em seus instintos puros tão somente; a natureza e o homem eram apenas um. Isso foi corrompido pela tentativa de racionalização através do intelecto de um conceito metafísico e cosmológico, originando-se a partir destes as mitologias e os adereços para a natureza.
Como o passar do tempo, o homem foi se tornando mais reflexivo, inquisitivo, deixando de ser guiado por seus instintos somente para dar lugar à dialética, como uma nova arte de "iluminismo"; e o resto é historia.
Acontece que se tornou evidente no homem, dado um certo tempo, a necessidade de conforto metafísico, pois este já teria perdido grande parte de seus puros instintos de proteção; arriscaria até dizer que, ignorados deste conceito, o homem primitivo já se encontrava em um contexto existencialista, pois tudo era concebido de forma irracional anterior à largada do aprimoramento razão/intelecto; e a sobrevivência, a existência mediante tal quadro era seu instinto verdadeiro, livres de quaisquer conceitos extemporâneos.
Mas a metafísica sempre foi de fato o assunto preferido entre grandes pensadores, preocupando-se mais com indagações exteriores do que interiores para os homens, uma tomada de consciência que se justificava pelo simples ato de filosofar e de obter conhecimento como indagações do que é natural e o que é real.
Advém disto também, por caprichos e conveniências de alguns, a idade das trevas do pensamento humano, o cristianismo, a escolástica, os grandes doutores da igreja, muito antes disto ainda o neoplatonismo e suas corruptelas e falácias. O homem volta então ao obscurantismo, mas este de forma perniciosa e premeditada; pois isso é latente no ser humano; um engodo magistral de sandices religiosas e tantos outros sofismas para nós todos que estamos ainda na "caverna" de Platão.
Dá-se depois deste período um grande respiro, da renascença e do iluminismo; este ultimo de forma ímpar com pensadores que remontavam à razão e critica, tentando posicionar o homem novamente em seu centro crítico, com grande colaboração dos louváveis empiristas como John Locke, David Hume e até Descartes,que mesmo dentro de um conceito metafísico abriu uma brecha para o ceticismo metodológico; sem falar em Kierkergaard, precursor do grande pensamento existencialista; bravo, intrépido; tanto quanto Spinoza, inseridos em uma religião e desafiando os próprios conceitos.
Voltando para um pouco mais próximo do tempo atual, temos Schopenhauer com seu estilo literário e filosófico jamais visto antes, e logo após Nietsche, que sabiamente vaticina grandes idiossincrasias sociais jamais vistas até hoje, e não desmerecendo muitos outros que não citarei oportunamente agora. Cito, porém Freud com sua inigualável contribuição ao catalogar proposições oriundas dos dois últimos filósofos mencionados.
Grosso modo, esse é o movimento dado para a constituição intelectual do homem; mas como um cipó parasita, a metafísica suga a seiva do conhecimento humano ao tentar alegar ao indivíduo um conforto tal que não a própria razão crítica; mesmo porque metafísica hoje caiu na sua falácia etimológica, tamanho é desejo do individuo de projetar para lá bem longe de si suas responsabilidades e necessidades imediatas.
O resultado não poderia ser diferente; só pode ser uma piada de mau gosto para quem conta a uma platéia de bípedes autômatos.
Os homens deveriam se invejar dos animais, que cumprem seu círculo na natureza de forma menos deletéria que a nossa. Eles são irracionais? Qual o conceito de razão? Ok, dois pesos duas medidas; esta é outra piada pueril.
Em nome das religiões se fazem guerras, atrocidades e se comete insanidade social. Em nome de uma moral distorcida, se é que alguma seja boa, se oprime os verdadeiros instintos criativos, e, por conseguinte, todo "valor" que hoje existe é um que é multiforme, sem identidade, com máscaras, em polaridade díspar e alta voltagem perniciosa.
Em que se tornou o homem senão um espectro daquilo que ele gostaria de ser, imerso em ideais voláteis e mesquinhos, nem tomando posse de sua real existência ao longo de sua vida e contando apenas seus grandes feitos superficiais; garantindo-se na consoladora "metafísica" do "post mortem", e, se necessário, recomeçar, adiar, deixar sempre para o "amanhã"; idealistas perdidos em elucubrações baratas.
Oras, para encararmos a "realidade" precisamos de certas muletas, hoje a idéia de Deus também pode estar escorrendo entre nossos dedos e esvaindo-se. A pós modernidade e a hiper realidade nos faz cada vez mais esquecermos dele; bem disse Nietzsche que nós matamos Deus!
Afinal, qual é a crença também do ateísta? A crença na ciência? Qual sua posição? Ser ateu e respeitar a metafísica alheia? Pois cada vez mais em nome de Deus cresce a intolerância não somente entre religiões, mas a intolerância a quem não tem religião nenhuma; prova disto é de que uma metafísica de alguma pilhéria qualquer sempre esteve em todas as plataformas sociais, em todos os seguimentos, sem exceção alguma, se fazendo expressiva minimamente que seja em sua moral torpe, pífia e nauseabunda.
Entrementes, o mercado editorial é abarrotado de "literatices", a arte de escrever bem para não dizer nada, somente sofismas, incredulidades e muletas estratosféricas.
A psicologia por sua vez apenas é uma "tabula rasa", que explica o homem e seu comportamento a partir de fatos empíricos, devaneios próprios da sociedade; o homem inserido na própria armadilha que ele criou, os cenários que nós mesmos pintamos, mas agora queremos sair, ou não, desde que o advento "Prozac" veio à tona.
Se não tenho amor à vida? Eu apenas cumpro o papel que a mim mesmo "estabeleci".
Vive-se melhor sob uma ótica iluminista, deixando a adolescência para trás e as referências existenciais de viver. Torna-te o que tu és! É paranóico? Enlouquecedor?
Cada um que segure sua onda! Lembre-se dos primeiros homens que de nada sabiam, e que tinham fé em si mesmos. Mediante o irracional, que possamos posicionarmo-nos criticamente e acreditarmos em nós mesmos.

O mundo como vontade e representação (Osvaldo)


Quando Schopenhauer diz "o mundo é minha representação", não quis dizer que o homem simplesmente representa mentalmente as coisas, ele quer dizer muito mais: que toda a realidade existe, a princípio, enquanto meramente representada pelo homem. O que é dado a este imediatamente é como as coisas talvez pudessem ser em si mesmas; imediatamente dadas são apenas representações das coisas.
O exemplo que se dá: o homem não sabe nada da árvore mesma, mas apenas da representação da árvore. Ele também diz no mesmo sentido que o homem “não conhece o sol algum e terra alguma, mas apenas um olho, que vê o sol, e uma mão, que toca a terra”. Portanto, todas as coisas são aparições ou fenômenos. Daí ele se baseia em Kant, e recusa também espaço, tempo e causalidade aos objetos e os atribui ao espírito humano. Diz que temporal, espacial, causado e causador NÃO são as coisas em si mesmas; mas são coisas do olhar do homem que lança em si, a fim de projetá-los fora no mundo, é de caráter fenomênico. Mas assim a realidade seria idealismo para ele, portanto seria o mundo nada mais que um sonho e aparência do espírito humano.
Mas ao refletir acerca da aparição ou fenômeno, fica claro para ele que, atrás da aparição, tem que haver algo que apareça. Isso Kant tinha observado na coisa em si, um mero “x” sobre o qual não se pode afirmar nada.
Schopenhauer vai adiante e ousa afirmar sobre a essência desta coisa em si, tomando outro caminho para entender como o homem se sabe como ser corpóreo. Ele diz que é de duas maneiras: por um lado uma coisa como as outras, objeto da representação. Por outro, há uma perspectiva interna, pela qual o corpo é sentido. Neste caso é a expressão da vontade do homem. Os movimentos corpóreos vêm dos atos da vontade, da vontade observada exteriormente.
O corpo aparece como coisa material, mas conforme seu ser-em-si, é vontade.
Depois de toda explanação da vontade e sua representação, sofrimento e sublimação do mesmo pelo homem, Schopenhauer cita referencias ao pensamento platônico, as idéias das coisas, dizendo que elas são as eternas e essenciais formas originárias da realidade, acima da transitoriedade: o arquétipo da pedra, do homem, da árvore. Elas se expressam na realidade e nas suas múltiplas configurações. E as idéias por si mesmas o que são? São as puras exteriorizações da vontade originaria que precedem toda a realidade. A vontade originaria se realiza antes no reino das idéias, para depois se realizar na realidade visível.
Schopenhauer propõe então que o mundo é apenas um, mas que há dois pontos de vista nele, da representação e da coisa em si (vontade).
Sendo o fenômeno e a coisa em si uma coisa só, não é preciso que o objeto saia de onde quer que seja para adentrar a mente humana, pois Schopenhauer diz que a mente é uma criação espontânea do mundo; a coisa em si não precisa causar a mente, ela simplesmente se torna mente e passa a ver as si mesma como representação.
É mais ou menos isso, creio.

Amor, um delírio metafísico.(Osvaldo)


As pessoas não concordam com o fato de que por detrás das justificativas que promovem a união de um casal, seja em namoro ou casamento, oculta-se uma inexorável permuta de interesses próprios e ilusões, dada a cognição do mesmo.
Partindo-se do pressuposto biológico, que aqui não se faz necessário discorrer, o corpo humano com o cerne em sua atividade cerebral, produz mecanismos singulares que despertam interesses subjacentes ao processo de acasalamento tal qual fazem os animais irracionais, porem estes se diferem pela não racionalização do evento em si, seguem a lei natural da vontade da natureza.
Uma vez sendo o homem dotado de razão, ele se esquece que esta razão é pífia e mal administrada, empiricamente dotada de valores distorcidos, moralistas e vigentes na sociedade atual mais do que nunca, sobressaindo-se desta forma a procura incessante de parcerias ideais como em um catálogo de compras, à sombra da união abençoada por um deus fatídico, puritano e opressor, ou de forma oposta na crença de um deus como conforto metafísico que não existe.
O que nos move na procura de alguém? Talvez seja a concepção de estórias e histórias mirabolantes que expressam a certeza do amor, mesmo que não seja o perfeito, tanto quanto a concepção do reino dos céus e seres alados que nos protegem das agruras de nossas próprias idiossincrasias e feitos deletérios, ou um estoicismo romântico de redenção àquele que locupletará nossas próprias deficiências e necessidades; pois o erro sempre está em nós também, movidos por modinhas esdrúxulas da era "new age" de lorotas terapêuticas e sofismas acerca da real felicidade do ser; pilhérias pueris, enfados e mesquinharias editoriais, filosofastros que incutam apenas predicados depreciativos do ser.
Pasmem, aqui uma boa dose de razão pura e ceticismo acerca da historia como nos contaram nos remete ao um juízo no qual se infere as causas multiformes das separações, divórcios e outras quinquilharias juvenis.
Os indivíduos gostam de sofrer por amor, se tornando isto um vício, um torpor que em primeira ordem nos alenta na mera especulação do "bem me quer ou mal me quer"; um frisson desajuizado advindo da ordem dada pelos hormônios e outras substâncias que nos preparam para o acasalamento, e este se traduz por sexo apenas, e no final de forma descompromissada; e ao se arriscar nas volições destas aventuras que cada qual se une temporariamente à subjetividade alheia, vem acompanhado o desgaste de tudo ter conhecido em relação ao outro; assim emergem todas as destemperanças do ego.
Quais seriam então estas âncoras que, mesmo ao serem fincadas, ainda deixam os indivíduos à deriva e em movimentos nauseantes dos relacionamentos antes destes decidirem por alçar as âncoras e respirarem a brisa de seu próprio oceano? A reposta é a ilusão, o determinismo, as influencias, o outro como baliza de sua existência, a falta de amor próprio e a necessidade de formar esta auto confiança em outro que não seja a si próprio; a falta de fé em si mesmo, a inferioridade, o porto seguro mediante o absurdo existencial, a falta da personalidade própria, o auto flagelo, os interesses econômicos, a libido sexual, na mulher a mensagem subliminar que uma prole se faz necessária, no homem meramente a vontade de potência, tudo isto de forma consciente ou não.
Mostram os fatos e estatísticas esmagadoras que a união amorosa se torna cada vez mais uma meta inalcançável, e este amor um sentimento peremptório, um desvio das reais necessidades do ser humano, a obliteração de algumas faculdades instintivas do ser para a sobrevivência de seu auto-juízo, adversa da mera propagação da espécie.
O amor se torna hoje uma metafísica imanente, uma meta e ideal intangível, inteligível, um apelo delirante, um sonho de consumo, um assunto que se leva até o fim dos tempos para os românticos, em versos, prosas, trovas e tercetos, um devaneio; explicando-se assim este fenômeno hoje de forma simplesmente mais elucidativa, mais apurada, mas que sempre existiu no meio do homem.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Ateísmo e Neo Ateísmo (Osvaldo)


De fato quando cita-se a questão do neo-ateísmo, me lembro sumariamente de Nietzsche quando este advertiu ou mesmo vaticinou alguns fatos que poderiam resultar nisto, e me faz recordar de fato que ainda ele se encontra póstumo, ou seria o neo-ateísmo uma configuração de seus vaticínios em ultima instancia?
Pelo pouco que sei, o neo-ateísmo se dá como efeito colateral da indolência filosófica dos "clássicos"ateus que não conclamaram sua posição mediante vários segmentos sociais, face à proliferação de movimentos religiosos circunscritos e impregnados em qualquer lugar que seja; política, educacional e tantos outros aparatos ideológicos. Forma-se daí também a dicotomia entre ambos, ou seja, quem suplantará quem, acusando-se mutuamente, porém os neo-ateus advertem para a bancarrota de ambos se não tomada uma ação até mesmo legislativa contra a falácia moral-religiosa impregnada nos recônditos sociais.
Penso que talvez essa conscientização dos neo-ateístas seja de fato uma via de congruência filosófica, uma vez esta dicotomia se faz por ora instalada.
No tocante a transdisciplinaridade entre biologia e filosofia ética, isto é de fato algo inevitável e carece de mais discussão, eu mesmo preciso estudar isto melhor, entrementes, fico com o que Nietzsche pensava acerca de uma certa perda dos instintos elementares que protegem a vida, nos tornando viciados em conhecimento com certas consequências,dado como a ciência é praticada hoje:conhecimento com que fim? Dizia ele que o que conseguimos são descrições de maior complexidade e sofisticação, mas não explicamos nada; tais fenômenos permanecem tão mágicos para nós hoje como para os mais primitivos seres humanos, e que as quantidades epidêmicas de teorias pós modernas, o sentido paranóico de existir em um vácuo hiper real, não são volições meramente científicas e teóricas, mas uma tentativa desenfreada de manter-se junto às revoluções pós modernas em cosmologia, genética e tecnologia digital; a ciência como valor absoluto, como uma nova "religião" para nossa era sem Deus.
Entretanto, ouvindo o cientista Richard Dawkins em sua obra, "Deus, um delírio", percebo que algumas de suas assertivas são de fato convenientes, e isso faz eu voltar ao primeiro assunto em questão, no que lê diz que já é hora daquele que se diz ateu não simplesmente dizer que respeita o conceito de religião, mas se faz necessário refuta-lo com argumentos claros e óbvios.
É para se pensar!

domingo, 1 de novembro de 2009

Da metafísica e o ópio. (Osvaldo)


Muito se comenta nas comunidades em que eu participo acerca de diversas possibilidades que elucubram o porquê da humanidade chegar a este ponto em que estamos, mas muito pouco se fala aonde ela irá culminar.
A escola filosófica aponta diversas proposições à luz da expansão do conhecimento humano, livre do obscurantismo metafísicos e doutrinas incapacitantes, dogmatismos e determinismos.
A metafísica no sentido mais restrito da palavra é hoje sinônimo de apenas vida para além da vida, ou vida que não seja agora, e até mesmo a superação de mim mesmo de acordo com minhas “percepções”. Desvia-se desta forma de seu sentido filosófico de entender a humanidade sem estar baseado em dogmas ou formas superficiais para formular as indagações que intrigam a existência do homem e sua essência. Sendo assim metafísica não é religião, mas podemos pensar metafisicamente quando questionamos o motivo de sua prática e sua influencia no viver diário. Entretanto, ela não está interessada em saber como se faz, mas sim nos “porquês”.
Penso que algumas das escolas filosóficas mais existenciais deixam de lado esse verniz da metafísica quando esta aborda assuntos como: O que é real?; O que é liberdade?; O que é sobrenatural? O que fazemos no nosso planeta? Existe uma causa primária de todas as coisas?
De certo que o homem precisa se situar em sua existência ou até meditar na existência anterior à essência, vislumbrando assim caminhos de auto-supremacia de si mesmo, mas daí também é um passo ao abismo colossal, a grande maioria não quer o existencialismo, e sim o metafísico na sua corruptela.
O medo, a priori, de estar só, lança o homem aos estados mais diversos e mirabolantes de sua percepção no mundo, mesmo porque na nossa mente se processa toda forma que damos à realidade, maneira que concebemos este e a ordem que damos aos eventos e categorização de um mundo que nos é peculiar. Tampouco se resume a metafísica a um “esforço de se pensar com clareza”, aceitando percorrer a vida em axiomas em detrimento de um pensamento claro e da dialética.
O intelecto do homem não é tão forte quanto sua vontade, então acredita no que querem acreditar, em razão de seus esforços comuns e perpetuação de suas crenças a partir deste cenário cognitivo e empírico, dos fenômenos e suas próprias aspirações em relação ao objeto de sua vontade.
Somos então exortados, ao acompanhar o raciocínio que se segue, a suspender nossos juízos finais sobre as coisas.
Forma-se então um pilar no qual levantamos um raciocínio critico acerca dos valores que adotamos e de onde se originam, tanto quanto da necessidade de crenças religiosas ou dogmas dentro de um compêndio catastrófico que leva o homem para além da ética entre os semelhantes, para consigo mesmo e própria natureza.
Caminha-se, portanto, ao sabe-se tudo, mas nada se sabe, à alegoria da caverna de Platão, da necessidade de nos libertar da escuridão que nos aprisiona intelectualmente através da luz da verdade.
Ora o ser humano se perde em seus devaneios “metafísicos”, ora se perde na irracionalidade tecnológica enquanto própria impersonalidade, ou nos conhecimentos científicos sem saber a razão de sua prática e esquivando-se ainda de suas verdadeiras metas cientificas.
Situa-se o homem numa posição folgada mediante a capacidade de avanços advindos da vontade de controlar o que lhe é incognoscível.
A filosofia se situa num campo neutro, entre a teologia e a ciência, na qual é bombardeada por ambas as partes. Formou-se daí, por falta de conhecimento e mesmo por parte do processo evolutivo do homem o qual pensamos ser muito diferentes dos primatas, mas somos apenas pela razão, a necessidade do homem viver assistido, vigiado e julgado por um deus como ainda é pertinente nos dias atuais nos reality shows da vida.
As religiões, a necessidade da fé pelo incognoscível, a falta de ética no coletivo, o não exercício da cidadania, a falta de conscientização para com a natureza em seu limite, poderiam ser mais elucidadas à sombra do exercício do conhecimento desprovido do medo de conhecer sempre mais e da noção de libertar-se do dogmatismo e determinismo.

Eros ou tânatos? Apolíneo ou Dionisíaco? A morte intelectual (Osvaldo)


Os conceitos modernos e ultra virtuais, que são na sua contingência ainda de ordem subjetiva advindas da procura por respostas de como situar-se no mundo atual, ressuscita varias proposições de ordem ético-moral e mais do que nunca metafísicas.
Apregoa-se que, no entendimento mais racionalizado em vista da realidade subjetiva e da ordem que concebemos o mundo, o que lhe propõe prazer esta intrinsecamente relacionado com o desejo de viver, que é “Eros”, ao passo que, dentro ainda destas percepções voláteis e frugais, sua contraposição é “morte”- Tânatos.
É certo que na individualidade e característica de cada qual o que prevalece sempre será o modo particular de ver as coisas, e estas, sempre são de ordem empírica e causais na nossa mente.
Precisamos então entender que os valores, condicionamentos, observações do mundo em nossa volta, e intelectualidade do observador que se atém ao reducionismo da equação Eros – Vida, se limita a tão somente categorizar estes conceitos, escapando ainda da percepção de si mesmo nesta contingência.
Como poderíamos apenas classificar o que é o ímpeto de vida e o que também a cerceia? Pela mera supressão da do sofrimento ou o que nos propõe prazeres absolutos?
A psicologia poderia muito bem tratar destes tratados enquanto movimento das grandes massas, mas a filosofia propõe um estudo da fenomenologia para tal, que não pode ser desprezado, ou seja, há uma distinção entre pensar o que é de fato “ser” e o porquê se pensa desta forma.
O que se atém a Eros, a priori, podemos dizer que são sensações do prazer mais imediato como assim é o sexo e suas formas mais lúdicas. Este se situa nas esferas mais abrangentes do ser humano e, consequentemente , desvela-se latententemente, empiricamente e causalmente uma ampla gama de atribuições para objetivar tal estado de prazer, assim como se dá a forma os prazeres mais elementares extraídos da subsistência do ser humano como o calor, alimento, afeto e toda sorte de manutenção a vida.
Não obstante, pode-se dizer também que a antítese ao supracitado, embora suscite na esfera da temporalidade da razão determinista a idéia tanática, é uma proposição ou até via de regra para elucidar as reais aspirações da “idéia” do ser humano que vive mais focado em sua própria natureza mais do que sentidos e percepções temporais das representações que sua mente impinge a si mesmo, salvaguardando suas necessidades básicas e estas não a revelia.
O que mais ouvimos atualmente é uma determinante acerca de nosso bem estar em oposição com o verdadeiro conteúdo que habita as reais necessidades do homem, como a mídia de forma geral no seu papel avesso, inculcando uma falsa realidade e aspirações para além de suas capacidades, sendo estes estéticos ou mesmo sociais; a hiper tecnologia que rouba uma grande porção da capacidade do homem de criação e pensamento crítico, a má educação escolar na qual não se advém indivíduos críticos, e por fim, mas não último, o norteamento que as grandes massas seguem desviando-se da auto-conscientização política e sócio-econômica, valorizando-se mais a realidade subjetiva da aquisição dos prazeres imediatos do que o bem estar coletivo e uma ética assertiva mediante os devaneios políticos e seus praticantes. Desvela-se mediante de nós então um ciclo de vicissitudes.
Forma-se a partir disto um embasamento da morte intelectual, que contrapõe a idéia de “Eros” pelo fato de que estando o ser humano nessa dormência intelectual não está apregoando sua própria salubridade intelectual e até racional ao não confrontar o que de fato o mantém muito além da apreensão de si mesmo.
Outra inserção que se adequa aqui é a dicotomia do homem “contemporâneo” com o metafísica, de sua necessidade de crenças no “para além desse momento”, que promete, equivocadamente em si, um objetivo final para além desta realidade no qual se faz valor a perpetração do mundo subjetivo concomitantemente ao juízo de que nesta dualidade se encerra o ciclo homem-existência, na promessa de, ou de um deus redentor, ou punitivo.
Isso também nos remete ao “Apolíneo e o Dionisíaco”, um embate filosófico ou necessidade de nos despertamos perante o que seguimos de convenções, dogmatismos, formatos e estatutos, mesmos os religiosos, em contraposição com o que de fato queremos, somos ou necessitamos, dentro de uma perspectiva de resgate da capacidade humana de criar, recriar e criticar, de longa data tolhida por nos mesmos, que deixamos desprotegida a lacuna do saber e da lucidez morrendo intelectualmente, já que assim entendemos o mundo na sua representação.