sábado, 31 de outubro de 2009

Crítica ao apego e à filosofia individualista (Osvaldo)


Todos nós partiramos de um pressuposto filosófico individualista advindo de outro discurso de alguma escola filosófica de determinada autoria, e frente nossa própria realidade se aplica devidas determinações, aquilo que faz bem e é conveniente professar. Forma-se a partir disto uma forma de pensar própria, que é bom, mas desde que objetivando o dialogo que engloba outras conjecturas também.
O assunto levantado aqui referente ao apego é interessante porque hoje a sociedade procura respostas mediante varias opções de como conseguir uma vida “classificadamente” melhor e preocupações banais, e não mais uma resposta acerca do “quem sou eu “, meu papel na sociedade e o que fazer para me tornar um indivíduo melhor para comigo mesmo não atritando em diversos níveis com os demais. Suas referências ainda são catalogadamente dispostas de forma pontual e não creio que resignar-se a este movimento seja interessante em termos de coletividade, isso é banal demais para o homem, tanto quanto pensar que cada um se vire da forma que desejar conquanto se adquira, passe por cima, destrua, e infinitas ações deletérias provindas de sua “situação” no meio. Ao invés, se publica nas revistas o apocalipse em 2012 em antagonismo com a necessidade do homem se tornar insuperável nos negócios, no amor, sexo, beleza, etc...
Ainda penso que os grandes discursos na maioria, principalmente os ininteligíveis para a população, não levam a lugar nenhum, embora alguns seletos pensadores de fato souberam “premeditar” ou até tornar ainda vívido seus conceitos para os dias de hoje.
Não é uma questão de determinismo somente, que é o que parece nos dias atuais, ou aforismos ao pé da letra, ou eterna reciclagem de livros de auto ajuda , (as literatices, segundo Schopenhauer nada mais fácil do que escrever difícil).
Formulas de prateleiras, unidas ao fermento social, resultando em um mundo voltado para si com as mascaras do que não é, e de que tudo está bem no meu mundo, ao passo que o individuo se assombra com sua falta de poder de escolhas mediante tanta oferta e frente a convenções.
Porque não dizer que isso tudo também é obscurantismo e apego ao vazio?(que não é o “nada”), e sim ainda um estado de torpor que não se desperta o verdadeiro gênio em si.
O determinismo reflete ainda suas “irracionalidades” e, a grosso modo,ao se calçar no indeterminismo geral o homem volta à toca preferindo o verniz das múltiplas escolhas da contemporaneidade e seus desdobramentos “ocupacionais”.
Vamos então ser racionalistas, usar os quatro métodos para refilmar o clássico “assim caminha a humanidade”.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

A Solidão/Crítica aos Relacionamentos (Osvaldo)


Por que nas desventuras do cotidiano alguém se deparar com um estado de solidão do outrem, isso se faz motivo de preocupação de quem observa o fenômeno?
Ser/estar solitário pode ser um estado muito saudável para os que intelectualmente precisam apenas de paz e harmonia, para estarem em contato consigo mesmos para além das aparências de uma objetivação empírica criada pela maioria das pessoas ao redor de quem se cala. Se calar frente à banalidade contextual, a literatice, e as percepções mais esdrúxulas do cotidiano é uma proeza e tanto, como a qual de estado em que se faz necessário um momento mais sublime de inspiração, ao recorrer ao silencio absoluto para não ser açoitado pela agressão intempestiva e indolente do barulho que agride o momento que no silêncio se dá forma a concepção da arte e seu artista.
No meio de uma massa amorfa que segue essa sociedade em que vivemos, a qual cada um estabelece caoticamente seus preceitos e pré-conceitos inadequadamente e pressupostamente à luz da vã racionalidade, estar no silencio nos transporta para um estado de segurança longe deste torpor anestesiante, de cólera inadvertida da ignorância latente sem valores e sem nada, niilismo mental, o vazio cerebral.
As pessoas sempre carecem, como numa matilha, agregarem umas as outras, por instintos básicos e primitivos, é certo, porém a tagarelice dos indivíduos pode ser indicadores de outras pressuposições que divergem das meramente amistosas ou do banal cotidiano. Que resultado pode advir de abordagens repetitivas e maçantes em ambientes corriqueiros? Que sentimento pode algum intelecto mais esclarecido que fomenta aspirações do conhecimento recíproco e abrangente obter das mesmices cotidianas grupais?
Diversas são as máscaras, muitas vezes até inconsciente, empregadas para dissimular mimos e afabilidades entre as pessoas, sejam elas por beneficio próprio ou por estabelecimento inconsciente do “poder” de persuasão e astucia sobre os demais. Em qualquer grau de relacionamento, as pessoas se adéquam ao outro para não perder sua “colocação” na vida alheia, para poder gozar do sentimento benfazejo de pertence, muitas das vezes momentâneo, de que “possui” o outro nas mais diversas escalas do inconsciente, perdendo assim sua vida em detrimento dessas concessões. Uma metamorfose deletéria daquilo que não se consegue ser por si só, buscando no outro a auto-afirmação diária em um processo de auto-estima decadente e sentido de pertence.
Ao se abrir os olhos para tal descoberta, uma força interna impele o individuo a proclamar seu novo “estado”, sua “individualização” mediante tais processos mesquinhos, produzindo-se assim a dor da partida, as desavenças, a incompreensão, o ato de se fazer julgado por não seguir a ordem das convenções e estatutos sociais, mas segue-se a partir daí a compreensão que a maturidade em escala maior, e a razão farão companhia para ser solitário novamente com esmero.
Quem realmente tem os olhos voltados para a amizade real que se estabelece entre dois indivíduos, passara alhures dessa rasa insipiência de fazer sempre para o outro em beneficio de si próprio e estabelecer uma dialética banal, mal conseguindo promover a síntese seja lá do que for, desferindo apenas conjecturas dentro de abstrações do que é um ser comunitário ou uma parceria.
Estar em silencio faz bem, e compreender isto de forma inteligível e não ser banal na abordagem é melhor ainda, contribuindo de forma auxiliadora à promoção da tarefa alheia e respeitar a individualidade de cada um e de quem também está próximo, compreender que nem todos precisam do ópio generalizado como o pop, futebol, novela das oito e tantas outras coisas que tocam única e exclusivamente o indivíduo, e não contingentes.
Ser igual é a preferência, ser diferente tem seu preço, mas tem sempre sua identidade e individualidade impressa sob vários adjetivos. Ser você mesmo supera tudo isso: o comum. Que bom navegar com um barco por um oceano de mentes que se igualam em sua composição.
Sua consciência, não a dos outros, é sua melhor amiga.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Tendencionismo filosófico (Osvaldo)


Muitas das citações de certas pessoas são uma“ilusão da onipotência individual”,sendo mais ideologia do que o processo de filosofar, uma tendência proselitista que confronta o pensamento individual de cada um negando a mescla de várias correntes filosóficas no sentido da pura análise e debate para fins esclarecedores.
Existe o que nós temos acolhido como norteador e aquilo que também não podemos expor sequer em uma sala de aula de ensino médio, a dita grade curricular: é fraca do ponto de vista de seu conteúdo, mas adequada a um início de formação de opinião e necessária, assim como a sociologia, voltar massivamente para as escolas.
Muitos pensam que filosofar hoje é ser “descolado”, encher o caneco de breja até o talo ou fumar um baseado em frente suas “respectivas” instituições de ensino e discutir o pseudo-marxismo dentre aqueles que são burgueses por si mesmos (salvo muitos que levam a idolatrada “coisa em si” para além da diversão e do vociferar).
A filosofia é o seguinte, quando a água bate na bunda, nossos instintos considerados mais imbecis se mostram na superfície proveniente dos remanescentes culturais, familiares, da realidade social, etc. Daí se emprega o que? Caos? Niilismo? Existencialismo? Racionalismo? Volta-se a acreditar no anjo da guarda? Já passaram por situações que de fato viram a face daquilo tudo que não gostariam de ver e nem imaginavam porque estavam tão protegidos em um “bunker social” diverso?
A imparcialidade se faz mister para quem se denomina filosofo.Mesmo eu curtindo muito Nietzche ou Schopenhauer, também tenho apreciação por outros tantos, mesmo porque muitos se fundamentaram sucessivamente.
O que vale de fato é pensar em quais bases a humanidade caminha e a projeção de tudo isso, e que ainda a sociedade se impõe limites e que ainda se espelha em modelos absurdos para os bilhões que precisam de seus ídolos em diversos seguimentos: culturais, metafísicos, educacionais e políticos.
Quem já vê a luz no fim do túnel que me diga, antes de me acusarem de niilista apenas digo que estou usando a razão, fatos e estatísticas para tal, embora esperança possa ser algo frustrante também, mas no caos valerá a lei do mais forte.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Aos críticos de Schopenhauer- Osvaldo


Verborragias à parte, o fato é que há um certo cheiro de "proselitismo" filosófico e de certa forma um dogmatismo em certas referências individualistas quando se aborda Schopenhauer, deixando de lado a imparcialidade.
No que tange sua filosofia, nada é mais apropriado que seu pensamento para elucidar sua escola que de fato desagrada sobremaneira vários intelectuais ate os dias de hoje apenas por mostrar a face “noir” da humanidade que é em si própria uma constatação de si mesmo e de um lado da realidade que nos apresenta inexoravelmente. Este também foi precursor de outro pensador que apenas rompe com esse niilismo de forma reativa, trocando em miúdos.
Não há mal nenhum em mostrar o que há de mais feio no mundo ou da forma que chega em nossa percepção, assim como existe suas belas nuances.
O impacto da obra vai de acordo com a afinidade de cada qual para com seus interlocutores e suas elucubrações,classes sociais e própria filosofia: todos somos filósofos a partir de questionamentos contra verdades e morais estabelecidas, nunca se esquecendo que a filosofia em si visa o esclarecimento de idéias frente a nossa hiper-realidade com pilares ruídos.
Alguns apontaram aqui algumas outras faces do pessimismo humano, mas o que também há de tão positivo socialmente e politicamente nos dias de hoje? E nossa educação que é informativa e escassamente formativa? E os meios de comunicação torpes? A elite social pífia?Medonho. Quem vai nos salvar? Chapolin Colorado? Não, ninguém (...) no homem ainda devemos depositar nossas “esperanças”, é a superação a cada dia como uma montanha russa desgovernada em meio às trevas do absolutamente necessário para a sobrevivência primeva mascarada em conhecimento cientifico adquirido em tonalidade de potência messiância.
Schopenhauer,entre outros e suas definições mais esclarecidas, uma mera questão de semântica.
Considerando o mundo da maneira que se mostra, e reformulando a metafísica partindo de Kant,Schopenhauer convida-nos a assumir um ponto de vista diferente, e considerar que a felicidade não está em questão da mesma forma que não estaria para porcos-espinhos ou macacos. Ele não queria nos deixar deprimidos, mas nos libertar das expectativas (quem não as tem) que podem acabar gerando frustrações.
De fato um pensador muito próximo do ser humano, sendo distinto em sua forma de elucidar e elegância da escrita, uma afronta aos que pensam que a vida é um bolo cheio de creme com a cereja no topo.
Penso que não há necessidade de tanta erudição ao propor, atualmente, temas que já foram massivamente devorados, digeridos e formatados. O que se nota é que o ser humano nunca deixou de ser primitivo de fato até esse estágio da evolução e que as correntes filosóficas que de fato tentam dar um salto qualitativo geral são as que incutam a “existência” livre de paradigmas dogmáticos, fazendo os homens descerem de um pedestal arrogante e ilusório.
Devemos agradecer a Schopenhauer o fato de mostrar a vida despida de contos de fada, e ao mesmo tempo, ouvir que é um alento se muitos aspectos da vida nos trouxerem tristeza é porque a felicidade não fazia parte da equação inicial. Faz parte de nosso impulso de vida até questionarmos tudo isso aqui e até discordarmos uns dos outros ou mesmo juntar um pouco de cada grande filosofia.
Quem pode dizer que o mundo caminha para a dissolução de seus emaranhados de toda sorte?
O que de fato, a não ser bases humanísticas que toquem o individuo e sua sociedade em prol de seu desenvolvimento maior, poderia ser sugerido?
Somos HUMANOS com o DNA impregnado de lorotas celestiais do obscurantismo da escolástica e biologicamente temos “necessidades” emocionais pertinentes.
As vezes os pensadores mais pessimistas, paradoxalmente, podem ser os mais consoladores.
So se estampa em Schopenhauer o pessimismo,mas quem de fato é depressivo poderia procurar um psiquiatra, já que se espera diretamente na filosofia uma “estampa” de um pensador levando apenas a obra de um filosofo ao pé da letra. Há diversas “máscaras” filosóficas nesse sentido que podemos escolher.
Voltando ao assunto de forma séria e em última análise, o que merece respeito é a falta de complacência de Schopenhauer. Ele não se situa em terreno seguro, arriscando-se em vez disso a enfrentar problemas dos quais não podemos deixar de nos mostrar “inseguros”, (ou mesmo sem as aspas aqui).
Ele pergunta o que é o eu, e não tem como dar aqui uma resposta fácil. Ele se lança então ao que há de mais inseguro, perguntando que valor pode ter a existência do homem, e a conclusão que chega nesse ponto é ainda menos agradável.
Os especialistas em filosofia se comprazem com seu estilo maravilhoso e julgam suas idéias provocadoras, mas não costumam tomá-lo como modelo: para uma pessoa versada em Kant ou Aristóteles, ele pode se afigurar demasiadamente “literário”. Mas é filosofia que ele pratica, fazendo poucas concessões, e muitos leitores que ele inspirou o têm tomado como paradigma de metafísico profundo, difícil. É pena que o rejeitem por considerá-lo filosófico demais, ou pessimista, (pessimismo, ou seu oposto, tomado muitas vezes também literalmente de forma “new-age” de prateleiras de supermercado).
Ainda que o calcanhar de Aquiles de Schopenhauer seja o fato de seu “sistema” desabar mesmo sob a mais tolerante prova analítica, grande é nossa perda mediante seus pontos fortes, uma tola atitude de um especialista em filosofia.

Nietzsche e o Niilismo


O legado da obra de Nietzsche foi e continua sendo ainda hoje de difícil e contraditória compreensão. Assim, há os que ainda hoje associam suas idéias ao niilismo, defendendo que para Nietzsche:

"A moral não tem importância e os valores morais não têm qualquer validade, só são úteis ou inúteis consoante a situação"; "A verdade não tem importância; verdades indubitáveis, objectivas e eternas não são reconhecíveis. A verdade é sempre subjectiva"; "Deus está morto: não existe qualquer instância superior, eterna. O Homem depende apenas de si mesmo"; "O eterno retorno do mesmo: A história não é finalista, não há progresso nem objectivo".

Outros, entretanto, não pensam que Nietzsche seja um autor do nihilismo, mas ao contrário um crítico do nihilismo. Pois, para ele o homem pode ser, além de um destruidor, um criador de valores. E os valores a serem destruídos, como os cristãos (na sua obra, faz menção à doença, à ignorância), um dia seriam substituídos pela saúde, a inteligência, entre outros. Tal afirmação se baseia na obra Assim falou Zaratustra, onde se faz clara a vinda do super-homem, sendo criar a finalidade do ser. Tal correspondência é totalmente contrária ao nihilismo, pelo menos em princípio. Ou um "nihilismo positivo", para Heidegger. Todavia, Nietzsche, contrário ou não, não deixando escapar de suas críticas nem mesmo seu mestre Schopenhauer nem seu grande amigo Wagner, procurou denunciar todas as formas de renúncia da existência e da vontade. É esta a concepção fundamental de sua obra Zaratustra, "a eterna, suprema afirmação e confirmação da vida". O eterno retorno significa o trágico-dionisíaco dizer sim à vida, em sua plenitude e globalidade. É a afirmação incondicional da existência

Friedrich Wilhelm Nietzsche


Biografia
Friedrich Nietzsche nasceu numa família luterana em 1844, sendo destinado a ser pastor como seu pai, que morreu jovem em 1900 aos 55 anos, junto com seu avô (também pastor luterano). Entretanto, Nietzsche perde a fé durante sua adolescência, e os seus estudos de filologia afastam-no da tentação teológica. Durante os seus estudos na universidade de Leipzig, a leitura de Schopenhauer (O Mundo como Vontade e Representação, 1818) vai constituir as premissas da sua vocação filosófica. Aluno brilhante, dotado de sólida formação clássica, Nietzsche é nomeado aos 25 anos professor de Filologia na universidade de Basiléia. Adota então a nacionalidade suíça. Desenvolve durante dez anos a sua acuidade filosófica no contacto com pensamento grego antigo - com predileção para os Pré-socráticos, em especial para Heráclito e Empédocles. Durante os seus anos de ensino, torna-se amigo de Jacob Burckhardt e Richard Wagner. Em 1870, compromete-se como voluntário (enfermeiro) na guerra franco-prussiana. A experiência da violência e o sofrimento chocam-no profundamente.

Em 1879 seu estado de saúde obriga-o a deixar o posto de professor. Sua voz, inaudível, afasta os alunos. Começa então uma vida errante em busca de um clima favorável tanto para sua saúde como para seu pensamento (Veneza, Gênova, Turim, Nice, Sils-Maria… ) : "Não somos como aqueles que chegam a formar pensamentos senão no meio dos livros - o nosso hábito é pensar ao ar livre, andando, saltando, escalando, dançando (… )." Em 1882, ele encontra Paul Rée e Lou Andreas-Salomé, a quem pede em casamento. Ela recusa, após ter-lhe feito esperar sentimentos recíprocos. No mesmo ano, começa a escrever o Assim Falou Zaratustra, quando de uma estada em Nice. Nietzsche não cessa de escrever com um ritmo crescente. Este período termina brutalmente em 3 de Janeiro de 1889 com uma "crise de loucura" que, durando até à sua morte, coloca-o sob a tutela da sua mãe e sua irmã. No início desta loucura, Nietzsche encarna alternativamente as figuras míticas de Dionísio e Cristo, expressa em bizarras cartas, afundando depois em um silêncio quase completo até a sua morte. Uma lenda dizia que contraiu sífilis. Estudos recentes se inclinam antes para um câncro (câncer) do cérebro, que eventualmente pode ter origem sifilítica. Sua irmã Elizabeth Vöster Nietzsche falseou seus escritos após a sua morte para apoiar uma causa anti-semita. Falácia, tendo em vista a repulsa de Nietzsche ao anti-semitismo em seus escritos. Entretanto, sua irmã morre confortavelmente sob a tutela nazista.

Durante toda sua vida sempre tentou explicar o insucesso de sua literatura, chegando a conclusão de que nascera póstumo, para os leitores do porvir. O sucesso de Nietzsche, entretanto, sobreveio quando um professor dinamarquês leu a sua obra Assim Falou Zaratustra e, por conseguinte, tratou de difundi-la, em 1888.

Muitos estudiosos da época tentaram localizar os momentos que Nietzsche escrevia sob crises nervosas ou sob efeito de drogas (Nietzsche estudou biologia e tentava descobrir sua própria maneira de minimizar os efeitos da sua doença).

Obra

Nietzsche ao lado de sua mãe.Crítico da cultura ocidental e suas religiões e, conseqüentemente, da moral judaico-cristã. Associado equivocadamente, ainda hoje, por alguns ao niilismo e ao nazismo - uma visão que grandes leitores e estudiosos de Nietzsche, como Foucault, Deleuze ou Klossowski procuraram desfazer - Nietzsche é, juntamente com Marx e Freud, um dos autores mais controversos na história da filosofia moderna, isto porque, primariamente, há certa complexidade na forma de apresentação das figuras e/ou categorias ao leitor ou estudioso, causando confusões devido principalmente aos paradoxos e descontruções dos conceitos de realidade ou verdade como nós ainda hoje os entendemos.

Nietzsche, sem dúvida considera o Cristianismo e o Budismo como "as duas religiões da decadência",embora ele afirme haver uma grande diferença nessas duas concepções. O budismo para Nietzsche "é cem vezes mais realista que o cristianismo" (O anticristo). Religiões que aspiram ao Nada, cujos valores dissolveram a mesquinhez histórica. Não obstante, também se auto-intitula ateu:

"Para mim o ateísmo não é nem uma conseqüência, nem mesmo um fato novo: existe comigo por instinto" (Ecce Homo, pt.II, af.1)

A crítica que Nietzsche faz do idealismo metafísico focaliza as categorias do idealismo e os valores morais que o condicionam, propondo uma nova abordagem: a genealogia dos valores.

Friederich Nietzsche quis ser o grande "desmascarador" de todos os preconceitos e ilusões do gênero humano, aquele que ousa olhar, sem temor, aquilo que se esconde por trás de valores universalmente aceitos, por trás das grandes e pequenas verdades melhor assentadas, por trás dos ideais que serviram de base para a civilização e nortearam o rumo dos acontecimentos históricos. E assim a moral tradicional, e principalmente esboçada por Kant, a religião e a política não são para ele nada mais que máscaras que escondem uma realidade inquietante e ameaçadora, cuja visão é difícil de suportar. A moral, seja ela kantiana ou hegeliana, e até a catharsis aristotélica são caminhos mais fáceis de serem trilhados para se subtrair à plena visão autêntica da vida.

Nietzsche golpeou violentamente essa moral que impele à revolta dos indivíduos inferiores, das classes subalternas e escravas contra a classe superior e aristocrática que, por um lado, pelo influxo dessa mesma moral, sofre de má consciência e cria a ilusão de que mandar é por si mesmo uma forma de obediência. Essa traição ao "mundo da vida" é a moral que reduz a uma ilusão a realidade humana e tende asceticamente a uma fictícia racionalidade pura.

Com efeito, Nietzsche procurou arrancar e rasgar as mais idolatradas máscaras. Mas a questão é: que máscaras são essas? Responde, então, que as máscaras se tornam inevitáveis pela própria vida, que é explosão de forças desordenadas e violentas, e por isso, é sempre incerteza e perigo.

A vida só se pode conservar e manter-se através de imbricações incessantes entre os seres vivos, através da luta entre vencidos que gostariam de sair vencedores e vencedores que podem a cada instante ser vencidos e por vezes já se consideram como tais. Neste sentido a vida é vontade de poder ou de domínio ou de potência. Vontade essa que não conhece pausas, e por isso está sempre criando novas máscaras para se esconder do apelo constante e sempre renovado da vida; pois, para Nietzsche, a vida é tudo e tudo se esvai diante da vida humana. Porém as máscaras, segundo ele, tornam a vida mais suportável, ao mesmo tempo em que a deformam, mortificando-a à base de cicuta e, finalmente, ameaçam destruí-la.

Não existe via média, segundo Nietzsche, entre aceitação da vida e renúncia. Para salvá-la, é mister arrancar-lhe as máscaras e reconhecê-la tal como é: não para sofrê-la ou aceitá-la com resignação, mas para restituir-lhe o seu ritmo exaltante, o seu melismático júbilo.

O homem é um filho do "húmus" e é, portanto, corpo e vontade não somente de sobreviver, mas de vencer. Suas verdadeiras "virtudes" são: o orgulho, a alegria, a saúde, o amor sexual, a inimizade, a veneração, os bons hábitos, a vontade inabalável, a disciplina da intelectualidade superior, a vontade de poder. Mas essas virtudes são privilégios de poucos, e é para esses poucos que a vida é feita. De fato, Nietzsche é contrário a qualquer tipo de igualitarismo e principalmente ao disfarçado legalismo kantiano, que atenta o bom senso através de uma lei inflexível, ou seja, o imperativo categórico: "Proceda em todas as suas ações de modo que a norma de seu proceder possa tornar-se uma lei universal".

Essas críticas se deveram à hostilidade de Nietzsche em face do racionalismo que logo refutou como pura irracionalidade. Para ele, Kant nada mais é do que um fanático da moral, uma tarântula catastrófica.

Para Nietzsche o homem é individualidade irredutível, à qual os limites e imposições de uma razão que tolhe a vida permanecem estranhos a ela mesma, à semelhança de máscaras de que pode e deve libertar-se. Em Nietzsche, diferentemente de Kant, o mundo não tem ordem, estrutura, forma e inteligência. Nele as coisas "dançam nos pés do acaso" e somente a arte pode transfigurar a desordem do mundo em beleza e fazer aceitável tudo aquilo que há de problemático e terrível na vida.

Mesmo assim, apesar de todas as diferenças e oposições, deve-se reconhecer uma matriz comum entre Kant e Nietzsche, como que um substrato tácito mas atuante. Essa matriz comum é a alma do romantismo do século XIX com sua ânsia de infinito, com sua revolta contra os limites e condicionamentos do homem. À semelhança de Platão, Nietzsche queria que o governo da humanidade fosse confiado aos filósofos, mas não a filósofos como Platão ou Kant, que ele considerava simples "operários da filosofia".

Na obra nietzscheana, a proclamação de uma nova moral contrapõe-se radicalmente ao anúncio utópico de uma nova humanidade, livre pelo imperativo categórico, como esperançosamente acreditava Kant. Para Nietzsche a liberdade não é mais que a aceitação consciente de um destino necessitante. O homem libertado de qualquer vínculo, senhor de si mesmo e dos outros, o homem desprezador de qualquer verdade estabelecida ou por estabelecer e apto a se exprimir a vida, em todos os seus atos - era este não apenas o ideal apontado por Nietzsche para o futuro, mas a realidade que ele mesmo tentava personificar.

Aqui, necessário se faz perceber que, involuntariamente, Nietzsche cria e cai em seu próprio Imperativo Categórico, por certo, imperativo este baseado na completa liberdade do ser e ausência de normas.

Para Kant a razão que se movimenta no seu âmbito, nos seus limites, faz o homem compreender-se a si mesmo e o dispõe para a libertação. Mas, segundo Nietzsche, trata-se de uma libertação escravizada pela razão, que só faz apertar-lhe os grilhões, enclaustrando a vida humana digna e livre.

Em Nietzsche encontra-se uma filosofia antiteorética à procura de um novo filosofar de caráter libertário, superando as formas limitadoras da tradição que só galgou uma "liberdade humana" baseada no ressentimento e na culpa. Portanto toda a teleologia de Kant de nada serve a Nietzsche: a idéia do sujeito racional, condicionado e limitado é rejeitada violentamente em favor de uma visão filosófica muito mais complexa do homem e da moral.

Nietzsche acreditava que a base racional da moral era uma ilusão e por isso, descartou a noção de homem racional, impregnada pela utópica promessa - mais uma máscara que a razão não-autêntica impôs à vida humana. O mundo para Nietzsche não é ordem e racionalidade, mas desordem e irracionalidade. Seu princípio filosófico não era portanto Deus e razão, mas a vida que atua sem objetivo definido, ao acaso, e por isso se está dissolvendo e transformando-se em um constante devir. A única e verdadeira realidade sem máscaras, para Nietzsche, é a vida humana tomada e corroborada pela vivência do instante.

Nietzsche era um crítico das "idéias modernas", da vida e da cultura moderna, do neo-nacionalismo alemão. Para ele os ideais modernos como democracia, socialismo, igualitarismo, emancipação feminina não eram senão expressões da decadência do "tipo homem". Por estas razões, é por vezes apontado como um precursor da pós-modernidade.

A figura de Nietzsche foi particularmente promovida na Alemanha Nazi, tendo sua irmã, simpatizante do regime hitleriano, fomentado esta associação. Em A minha luta, Hitler descreve-se como a encarnação do super-homem (Übermensch). A propaganda nazi colocava os soldados alemães na posição desse super-homem e, segundo Peter Scholl-Latour, o livro "Assim Falou Zaratustra" era dado a ler aos soldados na frente de batalha, para motivar o exército. Isto também já acontecera na Primeira Guerra Mundial. Como dizia Heidegger, ele próprio nietzscheano e nazista, "na Alemanha se era contra ou a favor de Nietzsche".

Todavia, Nietzsche era explicitamente contra o movimento anti-semita, posteriormente promovido por Adolf Hitler e seus partidários. A este respeito pode-se ler a posição do filósofo:

Antes direi no ouvido dos psicólogos, supondo que desejem algum dia estudar de perto o ressentimento: hoje esta planta floresce do modo mais esplêndido entre os anarquistas e anti-semitas, aliás onde sempre floresceu, na sombra, como a violeta, embora com outro cheiro.[3]

… tampouco me agradam esses novos especuladores em idealismo, os anti-semitas, que hoje reviram os olhos de modo cristão-ariano-homem-de-bem, e, através do abuso exasperante do mais barato meio de agitação, a afetação moral, buscam incitar o gado de chifres que há no povo…

Sem dúvida, a obra de Nietzsche sobreviveu muito além da apropriação feita pelo regime nazista. Ainda hoje é um dos filósofos mais estudados e fecundos. Por vários momentos, inclusive, Nietzsche tentou juntar seus amigos e pensadores para que um fosse professor do outro, uma espécie de confraria. Contudo, esta idéia fracassou, e Nietzsche continuou sozinho seus estudos e desenvolvimento de idéias, ajudado apenas por poucos amigos que liam em voz alta seus textos que, nos momentos de crise profunda, ele não conseguia ler.

Idéias

Nietzsche em 1862Seu estilo é aforismático, escrito em trechos concisos, muitas vezes de uma só página, e dos quais são pinçadas máximas. Muitas de suas frases se tornaram famosas, sendo repetidas nos mais diversos contextos, gerando muitas distorções e confusões. Algumas delas:

1."Deus está morto. Viva Perigosamente. Qual o melhor remédio? - Vitória!".
2."Há homens que já nascem póstumos."
3."O Evangelho morreu na cruz."
4."A diferença fundamental entre as duas religiões da decadência: o budismo não promete, mas assegura. O cristianismo promete tudo, mas não cumpre nada."
5."Quando se coloca o centro de gravidade da vida não na vida mas no "além" - no nada -, tira-se da vida o seu centro de gravidade."
6."Para ler o Novo Testamento é conveniente calçar luvas. Diante de tanta sujeira, tal atitude é necessária."
7."O cristianismo foi, até o momento, a maior desgraça da humanidade, por ter desprezado o Corpo."
8."A fé é querer ignorar tudo aquilo que é verdade."
9."As convicções são cárceres."
10."As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras."
11."Até os mais corajosos raramente têm a coragem para aquilo que realmente sabem."
12."Aquilo que não me destrói fortalece-me"
13."Sem música, a vida seria um erro."
14."E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música."
15."A moralidade é o instinto do rebanho no indivíduo."
16."O idealista é incorrigível: se é expulso do seu céu, faz um ideal do seu inferno."
17."Em qualquer lugar onde encontro uma criatura viva, encontro desejo de poder."
18."Um político divide os seres humanos em duas classes: instrumentos e inimigos."
19."Quanto mais me elevo, menor eu pareço aos olhos de quem não sabe voar."
20."Se minhas loucuras tivessem explicaçoes, não seriam loucuras."
21."O Homem evolui dos macacos? é existem macacos!"
22."Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal."
23."Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na loucura."
24."Torna-te quem tu és!"
25."O padre está mentindo."
26."Deus está morto mas o seu cadáver permanece insepulto."
Longe de ser um escritor de simples aforismas, ele é considerado pelos seus seguidores um grande estilista da língua alemã, como o provaria Assim Falou Zaratustra, livro que ainda hoje é de dificílima compreensão estilística e conceitual. Muito pode ser compreendido na obra de Nietzsche como exercício de pesquisa filológica, no qual unem-se palavras que não poderiam estar próximas ("Nascer póstumo"; "Deus Morreu", "delicadamente mal-educado", etc… ).

Adorava a França e a Itália, porque acreditava que eram terras de homens com espíritos-livres. Admirava Voltaire, e considerava como último grande alemão Goethe, humanista como Voltaire. Naqueles países passou boa parte de sua vida e ali produziu seus mais memoráveis livros. Detestava a arrogância e o anti-semitismo prussianos, chegando a romper com a irmã e com Richard Wagner, por ver neles a personificação do que combatia - o rigor germânico, o anti-semitismo, o imperativo categórico, o espírito aprisionado, antípoda de seu espírito-livre. Anteviu o seu país em caminhos perigosos, o que de fato se confirmou catorze anos após sua morte, com a primeira grande guerra e a gestação do Nazismo.

Referências nietzscheanas

Contudo, no próprio legado do filósofo podemos inferir suas opiniões em relação a outras filosofias e posições. É sumamente importante notar que Nietzsche perdeu o pai muito cedo, seus primeiros livros publicados até 1878, que não expunham suas idéias mais ácidas, ainda assim fizeram pouco ou nenhum sucesso. Que ele ficou extremamente desapontado com o sucesso de Richard Wagner, o qual se aproximou do cristianismo. Teve uma vida errante, com poucos amigos, e sempre perseguido por surtos de doença.

Na sua obra vemos críticas bastante negativas a Kant, Wagner, Sócrates, Platão, Aristóteles, Xenofonte, Martinho Lutero, à metafísica, ao utilitarismo, anti-semitismo, socialismo, anarquismo, fatalismo, teologia, cristianismo, budismo, à concepção de Deus, ao pessimismo, estoicismo, ao iluminismo e à democracia.

Dentre os poucos elogios deferidos por Nietzsche, coletamos citações, muitas vezes com ressalvas a Schopenhauer, Spinoza, Dostoiévski, Shakespeare, Dante, Goethe, Darwin, Leibniz, Pascal, Edgar Allan Poe, Lord Byron, Musset, Leopardi, Kleist, Gogol, Voltaire e ao próprio Wagner, grande amigo e confidente de Nietzsche até certo momento.

Ele era, sem dúvida, muito apreciador da Natureza, das guerras dos pré-socráticos e das culturas helénicas.

Super-Homem


Termo originado do alemão, Übermensch, descrito no livro Assim Falou Zaratustra (Also sprach Zarathustra), do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, em que explica os passos através dos quais o Homem pode tornar um 'Super-Homem' (homos superior, como no inglês a tradução também pode ser compreendida como super-humano).

Através da sede de poder, manifestado destrutivamente pela rejeição, rebeldia e rebelião contra velhos ideais e códigos morais;
Através da sede de poder, manifestado criativamente em superar o nihilismo e em reavaliar ideais velhos ou em criar novos.
de um processo continuo de superação.
O Super-homem foi contrastado com a ideia de o "último homem", que é antitese do Ubermensch. Visto que Nietzsche considerado não ser exemplo de um Super-homem em seu tempo, (através do “porta-voz” de Zarathustra) declarou que havia muitos exemplos de últimos homens. Zarathustra atribui à civilização de seu tempo a tarefa de preparar o venue do Übermensch. Na compreensão deste conceito, entretanto, um tem que recordar a crítica ontológica de Nietzsche do assunto individual quem reivindicou “uma ficcção gramatical"

O desejo de destruição
A motivação de Nietzsche ao dizer que Deus está morto e o desejo pela destruição da consciência cristã, ou seja da maneira centrada em Deus de pensar. Seus símbolos para isto são a chama e o trovão. Somente rompendo com as normas idealistas um homem pode tornar-se um Super-Homem (Übermensch). O ponto de partida para a destruição é a igreja que é, de acordo com Nietzsche, o oposto exato do que Jesus pregou. A razão para isto seria um processo iniciado pelo apóstolo Paulo, que causou um transfiguração dos ensinamentos de Jesus, tornando-os uma doutrina de recompensa e castigo. Apesar disto não desaprovar a existência de Deus, essa linha de pensamento nihilista mostra que a crença em Deus é contrária aos valores de realidade e de vida Nietzsche. Ou seja, se você é um super-homem, não precisa de Deus.

Diz-se que a irmã de Nietzsche, que o acompanhou nos seus últimos tempos de vida, ofereceu a bengala de Nietzsche a Hitler. Fato que acompanhado com o desenvolvimento e propaganda da ideia de raça ariana por Hitler gerou um mal-entendido acerca da pretensa associação de Nietzsche à causa nazista. Tal mal-entendido originou um repúdio dos leitores face à obra de Nietzsche durande várias décadas, em alguns casos até aos nossos dias. Tal mal-entendido talvez não se coloque no que diz respeito à filiação e associação de Martin Heidegger à causa nazista. Contudo, e afastando a perspectiva revisionista que pretende anular as consequências do holocausto nazista, o contributo para a Filosofia Ocidental destes filósofos não deve ser anulado. Saliente-se que em Heidegger tal implicação entre política e filosofia não é imediatamente evidente. Contudo, e injustamente em Nietzsche a teoria do super-homem que nada tem que ver com o ideal ariano que Nietzsche desprezava, facilmente pode ser mal lida por leitores inexperientes.