quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Do eclipse da razão - Osvaldo


Por certo podemos dizer que hoje o que resta daquele período clássico em que a polis surgiu é: NADA. Isto é de fato um olhar niilista sobre o mundo.
De forma análoga ao um período medieval, penso que o homem parte cada vez mais rumo ao eclipse da razão, razão esta que está diametralmente oposta ao racionalismo filosófico ou da razão filosófica. Ela é sistematicamente apenas uma razão instrumental que atende aos interesses de uma sociedade em que todos somos co-autores, que é a ditadura doas coisas materiais em detrimento das intelectuais.
Onde falta a filosofia em seu sentido estrito, que deixou seu campo para o individualismo, o relativismo, e o ceticismo filosófico, só poderá haver as sombras da caverna de Platão.
Muito evidentemente escalamos questões cientificas e melhorias em prol da humanidade em geral, porem não do humanismo. Deixamos de ter aquela noção básica dos instintos que protegem a vida.
Não há nada de significativo hoje no que concernem as questões que sempre buscou a filosofia, pois os dogmatismo são ainda clássicos sobre o homem, e mesmo assim, vivemos numa ambiguidade sem precedentes.
O homem hoje é fruto de confluências externas que lhe deixa disforme, e para complementar esta deformidade a psicologia, sobretudo a análise freudiana, lhe confere uma evidente “verticalidade” interna provinda da necessidade de “assentamento” e coadunação com as idiossincrasias sociais que lhe impinge sua formalidade diante do status quo.
Como parte da filosofia e o inadvertido “empréstimo” que Freud fez de Nietzsche e Schopenhauer às suas proposições, as mesmas são passíveis de criticas por se tratar de outra teoria.
O eclipse da razão provém também da fragmentação dos saberes, assim como se fragmenta o homem em partes, esquecendo –se de sua unidade de Ser imutável, mutável apenas na aparência daquilo que se transforma de acordo a necessidade contextual e ilusória que dão uma propriedade de transformação perene.

sábado, 23 de outubro de 2010

Da atual afronta à Ética política - Osvaldo


Podemos dizer que a Ética é uma das questões mais polemizadas no compêndio de discussões filosóficas, em seu sentido estrito. Mas diametralmente oposto ao debate das questões da moral e dos costumes de cada nação, a ética política sempre tentou para uma sistematização lógica dentro dos pressupostos sociais que determinam seu sistema de governo por assim dizer,e em nosso caso, a democracia.
Podemos então deixar nossos juízos de lado aqui, em especial os aprioristicamente partidários, para nos situarmos na discussão filosófica que, por sua vez, desde o inicio da civilização ocidental, se remete à Ética como “investigadora’” e balizadora destas normas sociais e principalmente dos que detém o poder em nome das massas.
Pressupõe-se que, embora a vontade da maioria não necessariamente atenda a vontade de minorias, a Ética, independentemente de partidos, visa um escopo de conformidades estanques e não voláteis que visam , no caso da democracia, a liberdade de expressão, o não aparelhamento partidário em questões unilaterais, e o exemplo social de que os homens no poder sirvam de antemão como exemplo organizacional ao qual todo cidadão fomenta por observância.
Não podemos permitir, em uma Ética política e uniforme, que questões de relatividades partidárias engendrem o desmantelamento das instituições que solidificam a forma de governo democrático, em prol de uma sandice individualizada, paternalista e messiânica que com bravatas e uma equipe de “pedreiros” venham a ruir os pilares daquilo que atenda o bem comum a todos os cidadãos. Maquiavel aqui estaria aqui mais vivo do que nunca.
Não precisamos se versados em filosofia e Ética, mas o menos incautos dos homens entenderá que um governo, um partido e um presidente que enceram em si mesmos a governabilidade de uma nação ignorando as nossas instituições que deveriam se sólidas, não se encaixam em um escopo que visa, respectivamente, sua preservação.
Exemplos como barganhas mirabolantes e televisivas e de acordos pífios com a corrupção de muitos outros políticos encerram a verdadeira prostituição do intelecto ético-político .
Sem sombra de dúvidas, estes homens levam ao pé da letra uma máxima sofista de que um homem é sua própria medida para todas as coisas, mas isto se torna perigosamente banal no que tange sua representatividade.
Se os fins aqui não justificam seus meios, isto só pode ser um exemplo de retrocesso para aquilo que há pouco abrimos os olhos após um período de trevas com os ditames de uma política ditatorial.
Afinal de contas qual seria a tênue linha que separa o desrespeito às instituições maiores de um caudilho tresloucado de bravatas populistas e pueris? Fazendo vistas grossas ao despudor endêmico de um partido que fora outrora a máxima de uma política esquerdista?
Como em filosofia não se pode pousar sobre partidos, credos, e etnias, o papel da ética ainda é estritamente relacionado a esta inspeção, não importando quem esteja sob as luzes deste holofote.
De certo os mais incautos não perceberão, de seus políticos pouco éticos, o exemplo que estes mesmos deveriam dar. Seja talvez pelo fato de os fins não justificarem os meios, ou mesmo da própria lacuna enorme entre nossa educação e a implementação de uma critica nela própria. Tudo isto pode ser talvez até explicado. Mas em se tratando dos ditos intelectuais que dizem amém a tudo isto, de forma vergonhosa para sua classe, ou eles não sabem de fato do que se trata ética na política, ou eles ainda sonham, como os fins não justificam os meios, com aqueles vieses políticos e sociais que mostraram ser na história falhos e autoritários, e que cercearam toda forma de expressão livre de seus cidadãos e fugiram de um bojo em que se encerra a Ética e o humanismo em potencial.
Nada explica que uma vanguarda de intelectuais faça, discretamente ou publicamente, bravatas em prol daquilo que vai contra o que encerra em seu cerne a mais das altas discussões acerca da Ética política.
Em um campo de neutralidade, esta Ética foi extinta, ao menos o pouco daquilo que restava e estava estritamente relacionada a uma democracia jovem, onde errar é humano, mas perpetuar os erros que ecoam a iminência do caudilhismo, é insensato, para não dizer outra coisa!

sábado, 16 de outubro de 2010

Santo Agostinho e o problema do Mal - Osvaldo


Esta é uma elaboração não apenas centrada na visão de Agostinho para o problema do mal como também encerra em si uma crítica ao mesmo, e para aqueles vieses teológicos que de certa forma coadunam com tal explanação para o mal no mundo.
O problema do mal se constitui em um dos grandes problemas da filosofia, e nada melhor, neste contexto, de citar Santo Agostinho que inexoravelmente “precisa” elaborar, por assim dizer, um pensamento que unifique um entendimento das idiossincrasias existenciais com fé e razão.
Podemos então dizer que o mote principal de Agostinho para o mal e seus desdobramentos é a idéia de que o mal e si é necessário para que possamos apreciar melhor o bem.
Santo Agostinho observou que, se nada de mal acontecesse alguma vez, não poderíamos conhecer e apreciar o bem.
É interessante lembrar que ele, antes de ser cristão, foi um maniqueísta e o Maniqueísmo defendia que havia dois princípios opostos: um Deus bom e outro mal e que portanto o mal era uma substancia. Somente depois, Santo Agostinho vai encontrar uma fantástica solução para a resolução do problema. A solução deste problema por ele achada foi a sua libertação e a sua grande descoberta filosófico-teológica, e marca uma diferença fundamental entre o pensamento grego e o pensamento cristão. Antes de tudo, nega a realidade metafísica do mal.
Ele constata que o mal não é um ser, não tem caráter ontológico, não tem nada de positivo, enfim ele é um não-ser. Ele diz: “O mal não tem natureza alguma, pois a perda do ser é que tomou o nome de mal”.
Se todo o bem fosse retirado das coisas boas, nada sobraria, pois o mal não é uma substância como queria os maniqueístas, e assim sendo seria impossível que o mal tenha se originado de Deus, pois Deus é aquele que dá o ser às coisas.
A solução de Agostinho para o problema do mal está relacionada à pergunta “o que é o mal?”
Em Agostinho temos dois silogismos acerca da inautenticidade do mal:
A-1) Todas as coisas que Deus criou são boas; 2) o mal não é bom; 3) portanto,o mal não foi criado por Deus.
B-1) Deus criou todas as coisas; 2) Deus não criou o mal; 3) portanto,o mal não é uma coisa.
Agostinho observou que o mal não poderia ser escolhido, pois ele não era uma coisa a ser escolhida. Alguém pode apenas afastar-se do bem, isso é, de um grau maior para um grau menor (na hierarquia de Agostinho) desde que todas as coisas são boas. Pois, segundo ele, quando a vontade abandona o que está acima de si e se vira para o que está abaixo, ela se torna má - não porque é má a coisa para a qual ela se vira, mas porque o virar em si é mau. O mal, então, é o próprio ato de escolher um bem menor. Para Agostinho a fonte do mal está no livre arbítrio das pessoas e na contemplação das dimensões do mal que, a saber, são de caráter metafísico, físico e moral.
Esta observação é parcialmente lógica e parcialmente psicológica. Logicamente, na ausência do conceito de mal não poderia haver uma concepção do bem, tal como não poderia haver uma noção de alto na ausência de uma noção de baixo. Não poderíamos sequer saber o que é o bem se não tivéssemos o mal para servir de comparação. Alem disso, psicologicamente, se nunca sofrêssemos, tomaríamos as coisas boas por garantidas e não as desfrutaríamos tanto. Como poderíamos reconhecer e desfrutar a saúde se não existisse a doença? Portanto, desejar um mundo que contenha apenas coisas boas é uma tolice.
No entanto, mesmo que isto seja verdade, explica apenas por que razão Deus poderia permitir a existência de algum mal. De fato podemos precisar que nos aconteça algumas coisas más de vez em quando, apenas para que não nos esquecermos que somos tão afortunados. Mas isto não explica por que razão há tanto mal no mundo. O problema é que o mundo contém mais mal do que necessário para apreciar o bem. Se por exemplo o numero de pessoas que morrem de tuberculose por ano fosse reduzido para metade, isso seria ainda suficiente para nos fazer apreciar a saúde. E como já temos que lidar com a tuberculose, não precisamos realmente do câncer, e ainda menos da AIDS, da distrofia muscular, da paralisia cerebral, do Ebola, da doença de Alzheimer e por aí vai.
A idéia deque o mal é uma castigo pela conduta imoral é de caráter teológico e remonta à história da Criação do Gênesis, que nos diz que inicialmente os seres humanos habitavam em um mundo sem mal, mas de repente entram dois protagonistas famosos nesta histeria lúdica chamados de Adão e Eva, e com a ajuda de uma “serpente”, o resto é “estória”.
O problema de Agostinho passou a ser casar o conhecimento antigo com sua nova crença e mostrar que eram interdependentes.
Ele também tinha um problema com o Tempo e a Criação. Segundo o Gênese, deus criou o mundo do nada. Mas na filosofia grega havia uma forte objeção a algo ser criado do nada. O que Deus andava fazendo antes de criar o céu e a terra?
Agostinho não aceitava responder essa pergunta, mas fazia a seguinte piada: “preparando o INFERNO para quem mete o bedelho nos mistérios”.
Se não debatermos filosoficamente estes fatos, vai parecer que todo argumento que o refuta é de caráter reducionista e dispensável, dado o caráter próprio do que a humanidade entende por teologia e suas premissas atemporais, dogmáticas e inexoráveis.
Dizer que podemos livrar a religião do criticismo filosófico, este engendrado a partir dos grandes iluministas, é um erro crasso, que foge do escopo da própria filosofia em seu sentido “estrito”, o que difere do senso comum e das crenças verdadeiras. Assim como é errôneo dizer que o próprio movimento do cristianismo da era medieval fosse é um movimento que concebe o homem em toda sua totalidade a partir de pressupostos alhures à sua própria natureza humana e pragmática. Este é um erro oriundo não da tentativa de conceber Deus racionalmente, mas de impor ao homem, a partir de Deus, premissas santificadas que estão além de sua praticabilidade, que o remete à culpa de “nada”, e o amedronta por séculos até os dias de hoje.
Não creio que uma lógica axiomática de belos dizeres dogmáticos e religiosos venha a atender os grandes problemas da humanidade que estão, livremente, no acesso do campo da filosofia estrita e questionadora, que é um campo neutro, sempre sendo bombardeado, hoje, pela ciência e a religião.
Impreterivelmente a filosofia para alguns estancará no período medieval, e me pergunto se ainda assim os coadunados apenas com Platão, Sócrates e Aristóteles, que fomentam Agostinho e Aquino, não reduzirão ao pó os outros vieses filosóficos até a nossa contemporaneidade, que analogamente ao processo dialético histórico, também evoluiu.
Digo-lhe que há muitos problemas relacionados à atemporalidade e supremacia da verdade a partir da teologia, me parece que de fato ela só pode ser apreendida a partir de sua infantilidade expoente no inconsciente humano, caso contrário o homem, ao invés de ficar “encima do muro do agnosticismo” hoje, verificaria de pronto a improcedência da teologia como forma de controle passional versus a “racionalidade” da mesma.
Se não forem as questões políticas como debatemos de início aqui, adentraremos em outro debate exaustivo acerca daquilo que é “humanamente constituído” como verdades eternas, e muitas delas que endossam dogmas que não atendem as necessidades do homem moderno, se é que alguma uma vez o atendeu!
Há de ser compreendido aqui que as questões não são de caráter de refutação do viés religioso a esmo, mas sim de como esta é classificada dentro da teoria do conhecimento, e como pode ocorrer aos doutos da igreja se apoderar de questões que endossam a irrefutabilidade daquilo que é incognoscível, e quem tem o direto de determinar que Deus ora castiga, ora ama; ora perdoa, ora abençoa? Que contribuição estaríamos aqui falando deste “caldinho”?
Não dá para desatar Agostinho e Aquino nesta produção histórica, mesmo se assim fosse, iríamos descambar para outras questões muito pertinentes que estão inexoravelmente atreladas ao pensar peculiar de sua época mediante uma Europa desmantelada, em que o homem foi incitado a olhar para longe de si mesmo.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

A educação advinda da patrística e da escolástica não preparou o homem para o mundo - Osvaldo


Se nossa realidade “pragmática” é onde de fato nossas ações devem ser executadas, e disto se faz um debate atualíssimo sem solução, tampouco um viés que não atenda estas prerrogativas, circundado apenas de questões atemporais egoísticas que apreendiam sandices tais como vendas de indulgências, pecado original, maniqueísmo, e poder atemporal irrefutável, o fará.
É notório que a os procedimentos educativos contemplados por Agostinho e Aquino não contemplam as necessidades já questionadas outrora desde a antiga Grécia, este é mais um processo “estancado” no período medieval na qual o modelo educativo estava embasado nas premissas escatológicas de redenção e sublimação da infabilidade dogmática, que vem a calhar com o domínio do poder atemporal do papado mediante uma Europa desmantelada.
As necessidades práticas de uma educação não foram alastradas por todo o território no qual o papado exerceu um poder de interesses escusos para a perpetração de seu poder.
Em seu caráter dogmático e repressivo, este viés educacional levava o homem apenas a contemplar o ideal “post mortem” em detrimento das questões mais básicas de sobrevivência e praticidade, cuja escassez refletiu nos mais diversos campos do saber.
Podemos então dizer que se o homem não foi, em sua totalidade, promovido rumo ao seu potencial inato de diversidade e criatividade latente. Uma educação que se esmerava apenas em alguns dominadores e , entre eles a astronomia de singular caráter “exógeno”, mas ainda assim baseada nos moldes aristotélico, não poderia levar o homem a alçar suas características laicas que tomam maior fôlego na renascença e iluminismo.
Não é de fato inverossímil afirmar que este período “rompe” com a glória do pensamento humano engendrado pelo período clássico até o helenismo de Alexandre o grande.
Mais tarde o homem vai, em especial após o grande racionalismo e iluminismo, reclamar de volta sua genialidade latente e verificar que questões atreladas ao humanismo não estão necessariamente envoltas em teorias “bipolares” educativas, subliminares, e tampouco admitir que somente os poderes de dogmas podem unir o homem sem que este entenda a si próprio.
“Homem, antes de conhecer aos deuses e ao universo, conhece-te a ti mesmo”
E se tratando de iluminismo,no que tange a educação, podemos dizer que Rousseau delineou um método liberal para tal, cujo objetivo era desenvolver a criança sem destruir seu estado "natural".
As idéias do primeiro ensaio foram desenvolvidas no segundo, o Discurso sobre a origem da desigualdades entre os homens. A idéia central aí eras que o homem é naturalmente bom, e só pelas instituições é corrompido.
A partir deste raciocínio, Rousseau elogiou o que chamou de "bom selvagem": o homem primitivo não corrompido por coisas terríveis como educação e sociedade.
Rousseau enviou este ensaio a Voltaire, que respondeu: "Quem lê seu livro fica com vontade de andar de quatro"
Na verdade, Rousseau queria dizer que o homem primitivo parecia viver em unidade orgânica consigo mesmo, em harmonia, ao passo que o homem moderno vivia afastado de si mesmo
Podemos inferir disto que apenas todos o interpretavam como se estivesse dizendo "Ajam como primitivos".
Sua concepção de religião, de que sentimento, a emoção e o assombro eram uma espécie de prova de Deus, mudou a cabeça de muita gente, na verdade, tão completamente que as pessoas esquecem que essa concepção foi uma invenção de Rousseau, colocar o coração acima da razão, a poesia acima da ciência, dar ênfase ao sentimento, à emoção e aà imaginação, tudo isso era fundamental no romantismo.
Aos contrário das teorias da educação criadora (Helvécio, Locke...), Rousseau não considerava a educação como uma "segunda natureza", mas como uma continuação da natureza por todos os desvios possíveis e imagináveis.
O problema se torna um paradoxo quase insuperável, uma vez que se trata de socializar o ser humano sem "desnaturá-lo", educá-lo sem deformá-lo. Como elevar o ser humano à cultura sem sair da natureza? Para responder a um paradoxo como este, vai tratar-se de retirar a educação da mãos exclusivas dos educadores, tomando por norma última a própria natureza; querer secundá-la seria um erro, é preciso apenas segui-la sem o que, como Rousseau gosta muitas vezes de dizer, "tudo está perdido", não há mais remédio.
"tudo está bem, saindo das mãos do autor das coisas, tudo degenera nas mãos dos seres humanos" (livro I). partindo deste princípio, Rousseau vai tomar o contrapé da educação usual e sua deplorável tendência de querer fazer da criança um adulto "antes do tempo". Para chegar lá, ele inventa a "educação negativa" que consiste em seguir o desenvolvimento interno das faculdades (sensação, entendimento, razão, imaginação) e não apressá-las. Por exemplo, deixar de querer proteger demais as crianças, não ceder a todos os seus caprichos, especialmente pelo choro, não interpor palavras supérfluas, valores e idéias que não convém à sua idade. Este procedimento consiste em deixar trabalhar a natureza e as coisas prevenindo toda desnaturação das crianças. Assim, a educação negativa consiste em "não ensinar absolutamente a virtude nem a verdade mas em preservar o coração do vício e o espírito do erro.
Os sustentáculos educacionais da idade das trevas atendiam aos interesses do sacro império romano apenas.
A principio, devemos nos ater ao fato de que sacro império romano não tem relação com o grande império romano, este que é anterior a aquele.
Nada é muito diferente do que é hoje em termos de alicerces educacionais na idade media. Analogamente, hoje estamos prostrados a um subliminar e sutil jogo de interesses do poder vigente em sociedade, este que está alhures de um humanismo (não é a religião que dará as respostas para isto).
Grosso modo, podemos dizer,que enquanto tudo o mais se desmantelava na Europa, a igreja romana sistematicamente se organizava, transformando- se em força dominante.
Numa época de guerras e pestes , o Papado ocupou o vácuo político criado com a queda do Império Romano.
Pois bem, manobrando imperadores gregos, príncipes italianos, atacando vândalos, guerreando lombardos e francos e quem mais estivesse interessado num pedaço da Europa, o papado foi ampliando seu poder de forma consistente.
Num acordo com o franco Pepino, o Papa ficou com a cidade de Ravena e as terras italianas da igreja e, em troca, coroou Pepino rei em 751
O império bizantino foi contra e forçou outra cisão entre as igrejas do Ocidente e do oriente,. Para legitimar o acordo, forjou-se um documento, a “Doação de Constantino”. Segundo este documento, Roma e suas terras foram doadas ao Papado quando Constantino transferiu a sede do Império para Constantinopla em 312.
Em meio a esta desordem, podemos dizer, o filho de pepino, Carlos Magno, criou um breve renascimento. Fez-se coroar imperador pelo Papa no dia de natal do ano 800, que marca o inicio do Sacro Império Romano.
O grandioso esquema de Carlos magno era composto de dois sonhos: a criação do poder imperial dos Césares e a construção na terra da Cidade de Deus de Agostinho.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

A moral e religião como modelos de medo e prisão humana – Osvaldo


Por certo a retórica não pertenceu somente aos longínquos sofistas.
A arte de falar bem e também a arte de bem escrever, ao longo dos tempos, ganhou uma configuração do que podemos hoje chamar de ganho em causa própria, algo que está endemicamente inserido em todas instituições da humanidade, e quando muito, acobertadas pela “inexorabilidade” de sua premissas não passiveis de contestações.
Como na maioria das vezes o desejo das massas não é o desejo individual de muitos outros, esta confluência externa somente ressalta o caráter idiossincrático e deletério de suas ações sobre o progresso humano e sua aquisição do saber, saber este que ilumina os resquícios últimos de uma sôfrega e cambaleante proscratinação do homem à sabedoria, e o conhecimento de si mesmo, ao invés dos outros ditarem o que é e como deve ser o homem desde seu nascimento. Dentro desta lacuna entre o que é dogmático e o que é contingente, o homem só tem a perder.
Já que filosofia em seu sentido estrito, e não “tendencioso”, tende a abarcar toda forma de questionamento e pensamento, muitos diriam que padecemos por repetir constantemente os mesmos moldes históricos.
Poderíamos talvez criar nossa própria cultura, em vez de perseguir as culturas do passado, engolindo-as inteiras como um crocodilo engole um antílope, o que leva a uma completa inércia.
Com efeito, essa perene ação sobre o imaginário humano está diretamente relacionada ao medo do desconhecido,da falta de provisão, do abandono, e da mescla moderna entre o hedonismo e crenças que suprimem o potencial humano criativo, genuíno e inovador, que poderia levar o homem a sair deste círculo vicioso que se repete de tempos em tempos. Um homem de fato “novo”.
Nietzsche é implacável no que concerne a moral e sua historicidade. Com efeito, muitos de seus dizeres são de fato indagadores no exercício da filosofia.
A pesquisa nos mostrará que existem morais mas não “moral”, nenhum credo ou mesmo um reino onde a “bondade’ e a “verdade” possam reinar felizes para sempre. Isso nos levará finalmente para a mais difícil das verdades concernentes à moral segundo o autor: “não existem fenômenos morais, mas apenas interpretações morais dos fenômenos”.
Por exemplo, consideremos como julgamos uma pessoa “virtuosa”. Uma pessoa virtuosa (isto é, boa) é apreciada pelos outros pelo bem que ela faz a eles. As virtudes, obediência, castidade, imparcialidade, diligência, etc, na realidade são “dano” à pessoa que as possua. Segundo ele, se o homem possui uma virtude, ele é vitima dela. Assim, apreciamos a virtude nos outros porque tiramos vantagem dela.
No entanto, o poder do conceito de “virtude” continua sem desafiantes, talvez como a idéia da “culpa”. Embora os mais perspicazes juízes de bruxas e até mesmo as próprias bruxas estivessem convencidos de que elas eram culpadas de bruxaria, de fato não existia nenhuma culpa. Assim ocorrem todas as culpas.convicções morais, portanto, são sempre convicções de grupo, e o grupo é maior que qualquer indivíduo discordante. Com a moral, o indivíduo só pode dar valor a si mesmo como uma função do rebanho. O rebanho mais tarde se transformará em uma idéia central no pensamento de Nietzsche sobre as origens da moral.
Por certo a indagação central aqui fica no âmbito de se as idéias de moral são de fato o simples resultado do egoísmo humano e do impulso evolutivo de sobrevivência.
Por certo podemos dizer que os homens vivem em um turbilhão de sensações e alta volatilidade intelectual, este último apenas engendrado a partir de uma dialética e apreensão clara de sua existência, e por assim dizer, tudo que se assemelha ao absurdo, não encontra significância dentro de uma comunidade e seus parâmetros estabelecidos para a boa convivência.
Ética e moral, como disse anteriormente, é uma faculdade pertinente à razão, e desta provém certas confluências que, como dizia Pascal, “o coração tem razões que a própria razão desconhece”. Por certo os “lampejos” passionais estão para o “amoral” (não imoral) assim como a Ética está para a liberdade “livre” da passionalidade primitiva do homem mais incauto. Isto é bem socrático, platônico e aristotélico.
Penso que partindo-se de um pressuposto aristotélico da Ética em sua visão “comunitária” , aquele indivíduo que não se configura nos padrões estabelecidos pela maioria, está de certo fadado à suas próprias leis. Isto é moral, e em se tratando de Ética, que é algo desafiador no tocante ao próprio âmago humano, os “juízos” subjetivos estão de igual forma atrelados ao desenvolvimento racional/intelectual individual de humanismo, alteridade, contingência. Liberdade está então inserida neo em um contexto de livre de arbitrariedade, mas sim naquilo que a passionalidade não faz com que o homem não prejudique a si mesmo nem ninguém desta cadeia entrelaçada de humanismo.
A saber, aos que não compactuam com o solipsismo existencial, que apregoa que o mundo é uma ilusão a não ser de sua própria subjetividade, o existencialismo filosófico contemporâneo, em seu sentido estrito, vide Sartre, professa que esta filosofia em si também é um humanismo.
Se escutarmos apenas o galo cantando não se sabe onde, iremos imaginar que nesta singularidade existencialista podemos, ao som de “O homem está condenado à liberdade”, desfrutar de um grande bacanal de ações que visam somente ao nosso bel prazer. Errado! Pois esta liberdade é a obrigatoriedade de sempre “escolher”, em meio a muitas confluências exteriores.
O existencialismo é uma doutrina que nos aponta o homem com uma das maiores cargas de responsabilidade existenciais. Uma vez que a “existência precede a essência”, somos convocados a dar um sentido cotidiano em nossas vidas, nos configurando a cada momento singular de nossas existências como coadjuvantes não apenas de nossas ações responsáveis, mas também daquelas que visam, essencialmente, a alteridade (o outro), pois é somente sob o olhar do outro que nossa apreensão de existência se realiza.
Portanto já que estamos condenados a escolher, de dar significado à existência, isto engloba, por assim dizer, um “comunismo” no qual a atitude do outro não venha interferir com meus projetos pessoais. E como para a maioria, em especial na comunidade “Estado”, nossos interesses são basicamente os mesmos no que tange a pragmática de viver-se em sociedade, todos nós somos responsáveis também em âmbito macro, visando um mundo de melhorias sociais, estas que, em um âmbito existencialista pessoal, corroborará para meus projetos mais singulares, que não se resume em uma pueril e idiossincrática indagação acerca de roubar uma malinha de dinheiro ou não. Este exemplo e análogos, estão muito batidos, fazem parte meramente de uma possível filosofia cética e caótica da terra de ninguém, e onde o ser humano é desprovido de intelecto.
O campo da ética tem vislumbres de maior magnitude hoje do que estas puerilidades do homem que ainda não cresceu.
De fato a filosofia nos leva a vôos altos de uma liberdade de indagações e questionamentos.
A concepção de liberdade é muito efêmera. Se bem analisada em seu sentido estrito, nada mais é do que uma concepção apriorística .Não somos livres a nada, a não ser de fazermos nossas próprias escolhas dentro de muitos “determinismos”, os da própria existência que em seu âmago não é compreendida, ou dentro mesmo de nossa sociedade que em si nos remete aos fatalismos de diversas confluências organizacionais, sejam elas da moral dos “bons costumes” instituída, ou dos ditames do “além” que não encontram as necessidades de um homem pragmático em seu viver.
A Ética só tem um valor a partir da constituição social do próprio homem, seus modelos morais e suas “constituintes”, mesmo dentro de sua contingência.
Se a Liberdade nada mais é do que a escolha dentro das contingências, então a Ética está estritamente relacionada com as ações em que o homem deve escolher e a responsabilidade sobre tal. Talvez aí resida o que há de mais coerente em Ética, ou seja, de que suas ações serão as melhores para você ou não, visando também sua felicidade, tanto quanto daquelas que não levarão o outrem para o “buraco”, pois inadvertidamente, longe de um solipsismo existencial, somos uma malha na qual o outro, a todo instante, nos confere um caráter existencialista.
Ainda em se tratando de Liberdade, podemos inferir das grandes doutrina e teologias, que o homem não escapa do indissociável determinismo de que ele foi criado ao bel prazer de Deus e suas demandas autoritárias.
Oras, ao conceber um Deus castrador, a remissão do homem perante Ele só se dá em caráter de “aprisionamento”. Não há lógica que determine que uma moral teológica esteja estritamente ligada à liberdade de ser “contingente”. O pressuposto de que estarmos sempre buscando um objetivo “além” das questões humanas e terrestres nos libertará, é outro pseudônimo para a Liberdade, conquanto nossas ações mais “libertárias”, a exemplo do fardo social, não são aplicados no aqui agora, vide a procrastinação do homem referente a política, Estado e meio ambiente.
O pseudônimo de Liberdade também se encontra no âmbito social.Se os homens são em essência iguais, não o são em vontade, projetos e ambições, então a partir de uma necessidade inevitável, que foi a elaboração de uma sociedade e Estado, é notório que os desejos da coletividade não atendem os desejos individuais, derivando daí as confluências externas que exercem um “poder” sobre o homem e este inadvertidamente e “subliminarmente” encarna os joguetes das instituições de poder que, como se não bastasse, nos educa de forma a nos transformarem em seres autômatos através de um racionalismo instrumental, perdendo inclusive nossa capacidade de sujeito epistemológico no sentido stricto.
Poderíamos dizer que o homem de fato sempre esteve à mercê de si mesmo, pois os desígnios de Deus veementemente são de caráter incognoscível e, portanto, ninguém pode decifrá-los, o que nos remete ao fato de que o que se diz quando “Deus mandou fazer assim”, é muita pretensão humana. Fala-se de Deus como uma “individualidade” de parâmetros que podem ser captados em toda Sua Essência, como a mais sucinta explanação ontológica de Si mesmo.
É muito mais plausível filosoficamente abordar a liberdade no homem de maneira diversa da lógica maniqueísta para fomentar a ética do bem.
Nada podemos fazer, ao ter que tomar qualquer decisão, senão criar ou inventar nossa própria saída para nossos impasses, exercendo, assim, a liberdade e responsabilizando-nos pelas consequências de nosso ato. Mas essa liberdade está meramente situada entre todos os impasses de nossas vidas, pois não é uma liberdade em que podemos sequer evitarmos o “olhar crítico” de nosso outrem. Mesmo em uma selva, sozinho, todo o instante se constitui de tomadas de decisões que o projetam a um projeto, objetivo.
Nada viria em nosso auxílio para nos eximir, depois, da responsabilidade da decisão que tomamos. Nada teria ofuscado nossa liberdade, pois esta seria a única efetivamente obrigatória em nossa vida. Todos os atos, linguisticos ou não, seriam de nossa responsabilidade, e de mais ninguém.
Mas precisamos ater ao fato que, novamente, liberdade aqui não se refere à teoria caótica, mesmo porque em plena luz deste século, teorias existencialistas nunca foram tão aclamadas como agora para trazer o homem em torno de sua responsabilidade de fato, e isto significa que o ato responsável não está mais somente centrado nos diálogos da célula mater da sociedade e suas convenções.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Nosso modelo vigente de racionalismo não contempla a ética. Cito Descartes e Habermas - Osvaldo


De certo não podemos culpar o racionalismo em seu sentido estrito, advindo do primado da subjetividade de Descartes, como um processo que abnega a apreensão de conceitos éticos para a humanidade. Explico o porquê.
É inevitável o ser humano desembocar no racionalismo, este é um processo natural para o homem tanto fisiologicamente como intelectualmente. Descartes apenas dá um solavanco inicial ao demolir até aquelas questões últimas do ceticismo e relativismo no que concerne o processo do conhecimento, levando a cabo a dúvida da própria existência.
A parir daí, fica claro, neste vês epistemológico, que o fenômeno ou objeto se relaciona com o sujeito cognoscente de forma clara, e por certo, as questões éticas, embora não profundamente tratadas por Descartes, é de apreensão imediata ao sujeito quando o assunto é humanidade e humanismo.
Não me refiro aqui às questões da moral, pois para Descartes, estão diretamente relacionadas com os povos e costumes, e ele escreveu um trabalho acerca da “moral provisória, ou seja, dadas as peculiaridades circunstanciais . Portanto penso que as questões que concernem a ética é para os filósofos sem duvida de caráter universal. Podemos verificar um espaço considerável entre ambas aqui.
Mas voltando ao assunto da racionalidade, em Habermas verificamos, em sua teoria crítica à racionalidade, que esta, hoje, é “a maneira como os sujeitos falantes e atuantes adquirem e usam o conhecimento”.
Harbemas afirma que os homens alcançaram um grande domínio tecnológico sobre a natureza. No entanto, não conseguiram resolver da mesma forma as questões éticas, de justiça e de convivência. Dessa forma, tem-se um desenvolvimento desigual da razão técnica, instrumental apenas, em detrimento da razão prática. Por esse motivo o autor estrutura uma mudança de paradigma, que a meu ver, nos remete novamente a Descartes.
“O parâmetro de racionalidade e de critica deixa de ser o “sujeito” cognoscente que se relaciona com os objetos a fim de conhecê-los e manipulá-los, passando a ser a relação intersubjetiva que os sujeitos, entre si, estabeleceram, a fim de se entenderem sobre algo”
Bem, é dispensável dizer portanto por que moral muitas vezes pode ser confundido com ética, e que conceitos morais muitas vezes se chocam com a inspeção da ética. Isto é uma confluência interna que de fato ainda não iluminou o homem em sua totalidade, tampouco teorias messiânicas o fará com impactos ufanistas meramente.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Os gregos antigos e nossa atual educação falha- Osvaldo


O processo educativo engendrado desde a Paidéia homérica está inextricavelmente atrelado à sociologia da educação que largamente discutimos hoje.
Bem notamos que a partir de Sócrates, Platão, Sofistas, Aristóteles e Isócrates, a formação educacional tramita entre virtudes, prudência, força, temperança, harmonia na sociedade, discursos claros para todos e discursos de vantagens pessoais e pragmatismo mediante o papel social do homem.
No entanto, ainda se faz necessário salientar que nenhum debate se torna tão atual e verossímil quanto o da sociedade em que vivemos e suas idiossincrasias.
Hoje sabemos que o ideal educacional a partir dos gregos antigos sim vingou de certa forma, no que tange em especial o da oratória e o homem que é a medida de todas as coisas, fator este que se tornou “homem exclusivista”.
Estamos longe de uma educação que, em teoria, é minuciosamente análoga ao pleno desenvolvimento humano, dadas várias circunstancias.
Nossa sociedade nunca falou tanto em educação: violência, desemprego, aquecimento global, mudança de valores. É na educação que imaginamos encontrar a solução de todos os impasses que vivemos. Mas será que escola pode dar conta dessa enorme expectativa?
Que tipo de pessoa a escola busca formar? Enfim, o que é a escola hoje?
A escola é uma forma de educar que nasceu na Grécia antiga, com propósito de formar cidadãos, mas foi só com a modernidade que adquiriu o objetivo que tem hoje: formar mão de obra de qualidade.
Desde então, basicamente nada mudou. O modelo educacional que predomina ainda hoje no mundo foi influenciado pela revolução industrial, é como se a escola fosse uma linha de montagem como em uma fábrica.
Português, matemática, química, geografia, etc, são peças a serem encaixadas; no final da linha sai um produto para atender as exigências do mercado, um aluno formado.
Mas hoje diante do enorme desenvolvimento tecnológico, e ao mesmo tempo, o extremo caos social em que vivemos, precisamos nos perguntar: será que é apenas para o mercado que a educação deve nos formar?
A escola que nós temos ainda é aquela que parece que é o único espaço de construção do conhecimento científico, e não é.
Segundo o filosofo e educador Edgard Morin, a escola não lida com indivíduos, mas com uma massa de alunos.A escola não está montada para desenvolver a capacidade de cada um, apenas ensina conteúdos isolados, separados um dos outros sem relação com a vida, acumulando informações que se empilham, sem sentido.
Penso que não existe uma separação dos saberes, só fazemos isto metodologicamente.
Vivemos numa sociedade cada vez mais desigual, dividida, e nós não podemos nos omitir e achar que tudo isto não nos atinge. Costumamos falar de um ser humano violento, cruel, que destrói o planeta, que desrespeita o vizinho e a cidade. Mas não falamos de um novo cidadão e de uma nova "cidade", portanto mais do que nunca devemos nos perguntar: "Quem somos, quem queremos ser, e qual a ”cidade" em que queremos viver?"
Acho que está faltando um pouco de mobilização social por parte do homem, precisamos dar umas "chacoalhadas" aqui e acolá.
Perda dos instintos básicos de sobrevivência.
Como dizia Nietzsche, se quisermos produzir uma cultura vital autêntica, teremos de ser "menos" educados no sentido tradicional.
De fato o que acontece na sociedade é que o homem não está mais engajado com nada que vise sua promoção enquanto individuo "independente" de uma massificação.
Todos nós apenas agimos como se esperássemos algo ou alguém de forma "messiânica" que nos libertasse da atual condição em que nos encontramos. O homem ainda não tem consciência de uma autonomia em si mesmo e sempre age de acordo com os moldes estabelecidos em detrimento se sua razão crítica.
Vou aqui novamente citar Nietzsche quando ele disse que nós modernos não temos uma cultura para chamar de própria. Estamos cheios de artes, filosofias, ciências e costumes estrangeiros, o uso em abuso da "História" nos tornou enciclopédias ambulantes. A História é um peso morto para o presente ao assimilarmos o passado para fazermos nossa própria vida e cultura.
Agora aqui podemos discutir correlatos, intertextualidades e talvez soluções mesmo que elas sejam impossibilitadas de serem praticadas agora; bem mais do que apontar as falhas metodológicas do ensino como possível fonte singular do movimento da história até o dado momento.
Para mim parte do escopo deletério formativo e educacional do homem ainda se encontra em movimentos históricos/filosóficos na sociedade que cunharam um "proceder" no homem que o desconecta inteiramente se seus atributos de autonomia impregnados pela noção não constituinte de sua ordem ontológica e social. Devemos muito isto a Platão, neoplatonismo e à escolástica por desviarem o homem de seu escopo existencial e traçarem os liames de dependência de um absolutismo que por sua vez mais tarde foi também a do estado e dos homens que representam o poder.
Através da reviravolta da metafísica realizada por Nietzsche, somente resta uma mudança em direção à sua própria desordem e falta de essencialidade.
Heidegger, interpretando Nietzsche, nos diz que para ir além desse estágio é necessária uma nova relação com a "verdade", e para Heidegger isto seria uma nova relação com o ser também.
O homem está à espera de um milagre.
Não existe mais um senso comum que observe estas desordens.
A "superação" do homem é de fato a superação de si mesmo, o domínio de seus próprios desejos e o uso criativo de seus poderes. A força de vontade pode superar o maior poder das armas, e, no entanto a superação mais difícil será a superação de si mesmo. Aquele que não pode obedecer a si mesmo será comandado.Que pena que a sociedade seja tão passiva.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Do poder do mito e religião.Dogma versus Filosofia - Osvaldo


Em um estudo da filosofia, em seu sentido estrito, devemos colocar nossos juízos de lado, mesmo sendo religiosos, afinal de contas a historicidade dos fatos é acreditada ou não, assim como tão facilmente aceitamos nossas crenças em detrimento de uma apuração cientifica dos fatos. A junção entre razão e fé não nos dá as respostas para todos os questionamentos da vida.
A saber, o homem sempre “mitificou” a natureza ao seu redor. Dentro deste escopo, a Paidéia grega foi a que mais distanciou o homem, em especial o espartano, da prostração “irrevogável” frente o mito, ao passo que em demais localidades a mitologia e suas religiões já estabelecidas eram analogamente deterministas e de certa forma exerciam um caráter dogmático sobre o homem.
A questão toda não é da apreensão de Deus ou não, mas sim de uma institucionalização daquilo que jamais pode ser concebido como ordens divinas outorgadas a um ser humano e sua atemporalidade de certificação de fé. Mito ou religião no final dá no mesmo, dadas as circunstâncias que entremeiam a gnosiologia e a possibilidade do conhecimento certo.
Talvez eu vá contra sua crença pessoal, mas me sinto na liberdade de expor um ponto de vista histórico e da mitologia que se faz acerca de personagens comuns na história e posteriormente santificados. Talvez nossas crenças de fato sobrepujam toda sorte de questionamento que venha abalá-la.
Joseph Campbell, em seu renomado trabalho “O poder do Mito”, já apontava uma das religiões mais antigas, que são os ensinamentos dos Upanishads, e estas embasadas também em uma mitologia própria e peculiar.
Na realidade, podemos dizer que a distinta impressão de nós seres humanos é que trabalhamos apenas com “capítulos” separados de um único “épico mitológico” do imaginário humano.
Um clássico exemplo que podemos expor é de uma figura muito conhecida e religiosa, que nasceu de uma virgem, utilizou rituais como o “batismo”, beber “vinho”, e partir o “pão”; foi também simbolozado por uma “cruz”, e comemora seu “nascimento” no dia 25 de Dezembro.
Se alguém disse que essa figura foi “Mitras”, acertou! Deus da fertilidade no antigo império romano. Não há absolutamente nada que, em um estudo das causas filosóficas do homem e seu meio, que desmereça um mito que precede uma religião de outra religião “socialmente correta” e aceita nos moldes ocidentais.
Claro que duas concepções imaculadas não são motivo para empolgação para os cristãos. Nascer de uma virgem é uma das idéias elementares mais “elementar” de todas, encontrada não só nas histórias de Mitras ou Jesus, mas na de Deganawida, o grande pacifista dos iroquois, e de Buda, que dizem ter descido do paraíso para o útero de sua mãe na forma de um elefante branco.
Somos análogos, hoje, à Grécia antiga e de sua mitologia. Estamos apenas um tanto sofisticados na maneira de explicar certas coisas que perduram as mesmas por milênios.
Penso que a filosofia que pouco discutimos deveria é a parte quando a ela segue o “iluminismo”, ao passo que a religião se dá pela troca de um dogma pelo outro sem nenhum beneficio para os homens, a não ser o culto à obediência.
No século XVIII, Kant afirma que o iluminismo ou o “esclarecimento” exige o “pensar” pela própria razão. A religião enquanto algo que dita normas para além da razão humana, é posta aversa à filosofia.
Podemos indagar que a filosofia começa em grande medida com a religião (mito), e o primeiro filósofo, Sócrates, era devoto do deus do templo,a quem ele consultou e Sócrates dizia que seu trabalho de filosofar em Atenas era uma missão dada pelo Deus. De certo Sócrates diz isso.
Mas esse é um ponto de amplo debate, a relação entre filosofia e religião. Sócrates diz que o “daemonion” que fala ao seu ouvido e que ele toma como “voz” divina nunca diz o que ele “deve” fazer. Ele sempre julga o que deve fazer pela própria razão.
Não pé este o caráter das religiões que não são as religiões de Sócrates. Elas dizem o que deve fazer mas não explicam por que. Elas dizem que se deve obedecer determinadas regras que seriam “morais”, mas não dizem por que elas são assim. Não explicam por que Deus não gosta de determinados atos humanos, mesmo aqueles que estão dentro daquilo que chamamos de humanismo.
Quando ninguém sabe destas respostas, mas a seguem, ou aqueles que sabem recorrendo à autoridade de textos, a filosofia aí não está. Porque a filosofia é o ato do atirador voluntario, livre, o franco atirador, que não segue partidos, não segue instituições, não segue governos, e não segue doutrinas que não podem ser questionadas pelos seus próprios instrumentos a si mesmas.Este é o filósofo autêntico.
Sócrates conseguiu ter uma relação com a religião e com a filosofia que poucos outros filósofos conseguiram. A maioria deles, para ficar livre e filosofar, abandonou a religião, e os que ficaram na religião abandonaram a filosofia.
Muitos autores costumar brincar com a vida de Agostinho antes de sua total devoção ao cristianismo com a frase: “...dê-me castidade e moderação...só que não agora”.
Se partirmos para uma análise mais coerente frente à própria tese de Agostinho professada após sua ascensão, notaremos algumas contradições que volitam nos recônditos dos mais incautos dos seres humanos. A saber, estas contradições jazem no conceito de pecado, vida eterna e dos eleitos de Deus, segundo Agostinho.
Se for professado, segundo ele, que Deus é bom, que ele é a “própria” bondade, como o mesmo Deus também pode criar o “desejo maléfico” que permite que as pessoas façam o mau? Caso contrário seriamos bons desde o nascimento. As prerrogativas que atestam esta dicotomia maniqueísta jazem em dogmas ditos atemporais e profissão de fé, como da castidade, do pecado “original”, da ascese e da privação dos sentidos mais latentes que já foram largamente catalogados por Freud e outros.
Com poucos séculos de idade, o cristianismo ainda estava em estado bruto. Seu dogma formal ainda precisava ser lapidado. E as seitas proliferavam.
O adiocionismo (visão teológica do cristianismo primitivo), queimaria os devotos do arianismo (nada a ver com Hitler), que refutavam os adicionistas ao dizer que o Pai é o único Deus verdadeiro.
Por outro lado havia o nestorianismo, que alegava que Cristo era “duas entidades”, uma divina e a outra humana. Os monotelistas afirmavam que Cristo tinha uma faceta, mas duas naturezas, e que pendia para o divino. E assim também tínhamos o monofisismo.
Agostinho por certo enveredou para o maniqueísmo, ao proferir que o bem sem o mal não existe, que não poderíamos ver a luz sem a escuridão, e a luz do sol é a origem das sombras.
Os elementos do grande “Maniqueu” revelam isso e muito mais.
Maniqueu foi um místico iraniano que sintetizou diversos pedaços do budismo, da mitologia babilônica (para os que acreditam ainda que religião e mito não dão um bom casamento), e do dualismo de Zoroastro em uma filosofia que se espalhou como um incêndio por toda a Europa, Ásia e Oriente Médio no século três.
A santificação do homem que o cristianismo propõe já foi discutida séculos atrás por um cristão dinamarquês de nome Soren Kierkegaard, que foi um filósofo que abriu um precedente à posterior filosofia existencialista.
Kierkegaard aponta de certa forma os anacronismos da exigência de uma postura santificada ao homem, advinda das religiões de sua época e das escrituras. A exemplo de como poderia o homem estar inserido em um mundo de tantas regras deterministas frente as destoantes deste próprio mundo. Santificação seria portanto algo muito bem escrito em teoria, ao passo que na pratica o homem, seguindo sua própria consciência, poderia dar o melhor de si e não viver em uma crise existencial de culpa e fracasso por aquilo que é incapaz de perpetrar.
Kierkegaard foi obviamente expulso de sua sinagoga e odiado por muitos, mas foi imprescindível para filósofos de peso como Heidegger, Camus, e Sartre.
Hoje o debate pode ser muito diversificado, Aquino obviamente está fora de seu tempo, já que Deus é concebido subjetivamente de formas diferentes e não deterministas. Sabemos que o mal e o pecado não existem, o que difere um homem do outro é apenas seu caráter, ao passo que seu nível de instrução intelectual (filosofia) o separa de medos infundados.