sábado, 28 de agosto de 2010

Da audácia do projeto cartesiano – Osvaldo


Há algumas intertextualidades entre Platão, Aristóteles e Descartes, por assim dizer, que nos remetem ao projeto cartesiano.
Após o medievalismo da filosofia que havia se suicidado em termos de experiência devido ao fato das imposições tomistas e aristotélicas empregadas pela escolástica, Descartes é plausivelmente considerado o precursor de toda a modernidade que, ineditamente rompe com os dogmatismos que eram análogos às verdades impostas do mito grego, outrora, ou mesmo de pressuposições céticas quanto ao conhecimento, e este último, já datado no período clássico da Grécia antiga, na qual se via Sócrates e Platão tentando contrapor o relativismo sofista, que abre precedentes à duvida não cientifica e sem critérios.
O projeto de Descartes se torna então de tal magnitude tanto quanto de um "modesto" conhecimento, ou assertiva, dada a inferência de sua "descoberta", se assim posso denominar, da "metafísica do sujeito" que abriu portas para o que conhecemos hoje como fenomenologia e filosofia da mente, tanto como certas ciências cognitivas.
Como não é possível tratar de filosofia de forma sucinta, eu devo discorrer acerca de pontos chaves, ao menos do grande racionalismo de Descartes, que tem um objeto grandioso de evidenciar as verdades através de um método seguro e também evidenciar que, contrapondo o empirismo e o ceticismo, ele volta às questões das reminiscências platônicas e refuta o modo aristotélico de cosmologia e conhecimento.
Bem, de forma inversa eu vou expor que Descartes culmina em seu "argumento antológico" para a existência de Deus, mas este por premissas mais lógicas do que as "especulativas" do argumento de santo Anselmo, no período medieval e escolástico. Mas provar a existência de Deus para descartes era secundário, pois ele pois à prova todo o conhecimento possível existente até então, principalmente os herdados de sua formação acadêmica, e nisto, por fim, ele incluiu as certezas absolutas dos entes da matemática. Fez-se então a duvida "hiperbólica", sendo esta uma alusão às matemáticas e ao radicalismo desta dúvida, que inclui Deus, a si mesmo e o mundo externo.
Como sua primeira descoberta foi a do "cogito", do ser cognoscente, ele funda a sua primeira verdade "exclusiva", e a partir de tal assertiva ele é capaz de chegar às outras verdades através de sua metodologia que, a saber, se resumiria em um critério matemático a priori, que é:
1-Não aceitar nada que não seja evidente e indubitável; 2- Dividir o problema em quantas partes for necessário, a fim de analisá-las individualmente; 3- Conduzir o pensamento por ordem, partindo dos objetos mais simples para os mais complexos; 4- Verificar minuciosamente as conclusões de modo a nada escapar.
O pensamento lógico-matemático aqui não se presume em um ceticismo perene acerca do próprio Descartes, mas penso que é apenas característico de uma "inspiração" que fundamenta todo seu projeto, este com o qual podemos obter a certeza de certas verdades de uma maneira dedutível, porem metodológica, na certeza de que elas corroboram com nossas idéias inatas, pois sendo provado a existência de Deus, a que tudo sustenta como verdade das coisas apreendidas pela mente ,um processo subjetivo para compreender a inteligibilidade das coisas, Descartes obtém sucesso como numa circularidade que culminaria nos próprios entes matemáticos e de sua certeza, criando um problema para o ceticismo filosófico tanto quanto para o irracionalismo, mas alavancando os métodos científicos a partir de então.
Como percebemos, a partir de uma leitura minha, muito do que se preconiza em nossas ciências, como as cosmológicas, parecem aos cientistas premissas tão certas mesmo sendo apriorísticas, como quando se trata de teorias de causalidades e das teorias finais, que fogem aos sentidos humanos e de nossa tecnologia, portanto arrisco dizer que isso se faz através de uma possibilidade de conhecimento intuitivo, já que Descarte afirmava que seria dada ao ser humano a possibilidade de conhecimento das coisas, não havendo "coisa-em-si" (minha leitura) ao menos ao que é inteligível, e sem a prova ontológica da existência de Deus, Descartes seria fadado ao "solipsismo", da existência de tudo somente na mente humana.

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