domingo, 5 de setembro de 2010

Ser ou não ser? A incompreensão de ser- Osvaldo


A todo ato de filosofar, a vida se apresenta de forma muitas vezes irracional, isto é, fora da operação de uma racionalidade que pressupõe que os dados apreendidos à mente sejam verdadeiros.
O existencialismo, já desde seu avô Kierkegaard, sempre questionou o sentido do ser na existência e sua finalidade. Albert Camus diria que a existência individual deveria ter um sentido mediante sua falta de sentido.
A partir da modernidade e após o advento racionalista proposto por Descartes, este eleva o ser humano à condição de “examinador” da existência, ou melhor, o homem estava a partir de então longe, em definitivo, dos dogmatismos impostos pela religião que não permitia questionamentos acerca das causas finais e primeiras.
Citar apenas que Descartes propõe a comprovação ontológica de Deus pelo motivo de sua religiosidade cristã é um erro crasso, o filósofo jamais menciona questões teológicas para sua crença em Deus, e sim parte de um argumento que se encaixa em seu projeto para o conhecimento, e de toda a ordenação aparente do universo que não é apenas criado pelos sentidos humanos. Estes quando muito, podem ser refinados em sua metodologia rigorosa que é baseada nas matemáticas, entes inteligíveis e indubitáveis.
Mas o legado de Descartes também traz várias outras complicações para o ser cognoscente, a partir do advento da subjetividade. Ser ou não ser, mesmo após a afirmação do “ser”, nos coloca em uma posição já amplamente discutida pelo existencialismo, que em seu viés se baseia no ateísmo, na existência que precede a essência.
Se sou, o que faço? Se sou, como posso evidentemente me posicionar mediante um irracionalismo que amargamente se aprofunda através do hedonismo e do primitivismo social e intelectual humano?
O advento da subjetividade já não comporta mais determinismos clássicos para o ser humano, ainda mais das provindas de teorias e crenças que nos mostram um Ser que tem uma relação esquizofrênica com sua prole ou teorias que fazem que nós mesmos sintamos esquizofrênicos. No entanto o existencialismo propõe que o homem se faça a cada dia, e tome como responsabilidade sua conduta.
Nietzsche exorta o homem sem temor mediante sua existência, o além do homem, este que jamais estaria envolto de pressupostos deterministas ou em uma moral aniquiladora de seu potencial mais sublime: sua própria realização.
Crer em uma causa primeira e final para toda a existência não pressupõe uma crença temerosa de preceitos e regras para simplesmente “ser”. Em nossa neo-subjetividade estamos ainda um pouco longe de tratarmos do absoluto sem temores impingidos por aqueles que detêm a verdade “temporal”. Quem assegurou a alguém a posse de verdades acerca de outrem, e do que é melhor para um indivíduo que tem, em sua singular existência, ao menos a noção de liberdade de ações?
Longe do filosofar, só resta ao homem mergulhar no absolutismo de sua neo-subjetividade de temores.

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