sexta-feira, 11 de março de 2011

Quando o humanismo se transforma no “desumano” - Osvaldo


Penso que a erudição da filosofia e sua linearidade às vezes se perdem nos fatos e se situam apenas em maior grandeza nos solavancos entre épocas e em sua tensão dialética de períodos, quando um tenta ser melhor que o outro. No entanto, assim como o positivismo foi outrora algo “promissor”, esta mesma tensão dialética não aponta para o futuro sinais de melhorias no ser humano quando o mesmo preserva ainda instintos “medievais” e um inexorável desejo de sobrepujar as emoções através da razão.
Por assim dizer, notamos cada vez mais uma sociedade advinda de um movimento que por sua vez, novamente, era a bola da vez nesta “dialética”: o renascimento.
É obvio que aqui devemos usar aspas para muitas questões perpetradas durante o período medieval, de forma substancial àquelas relacionadas ao poder das instituições e do uso das questões “divinas” ao bel prazer de seus fins.
Oras, por mais extenso que seja este assunto, e por mais extenuante que seja suas nuanças, qual seria de fato a régua para a medição da melhoria do homem enquanto individuo? Talvez neste processo apenas pulamos de uma extremidade para a outra: o “Egocentrismo”, a individualização, a falta de noção de alteridade e a cada vez mais crescente perda de identidade mediante a virtualidade (lê-se virtualidade aqui, ipsis litteris, no sentido de uma consciência que não a minha, a verdadeira perda do sujeito cognoscente).
Penso que não há muita diferença entre um advento “medieval”, no que tange o homem olhar dentro de si mesmo, para nosso momento atual onde prevalece um niilismo provindo da saturação do conhecimento, o homem prestes a “explodir”.
Isto é um simulacro, uma realidade “virtual”, é o fato da ciência, como a praticamos hoje, seja possível prova de que os instintos elementares que protegem a vida deixaram de funcionar. Talvez qualquer verdade que ameaça a vida não é uma verdade. É um erro.
O império da razão instrumental e seus desdobramentos é um verniz social apenas, isto gera otimismo. Sua insistência na forma, na beleza visual e na compreensão racional ajuda a fortificar-nos contra o terror de nossas emoções , e contra o frenesi irracional que elas produzem.
Por fim, gostaria de citar Nietzsche , quando ele recorda a velha lenda na qual o rei Midas procura Sileno, o companheiro constante de Dionísio, e lhe pergunta: “qual a maior felicidade do homem?” O demônio permanece mal humorado e sem se comunicar, até que finalmente, forçado pelo rei, solta um riso agudo:

“Patife efêmero, nascido por acidente e trabalho árduo, por que me obrigas a dizer-te que seria tua maior benção não ouvir? o que seria melhor para você está fora de seu alcance: não ter nascido, não ser nada, mas a segunda melhor coisa é morrer cedo”.

Bem, de fato , se perceberem,isto é uma alusão à obliteração contemporânea do homem para consigo mesmo, e já que usei esta lenda recobrada por Nietzsche em sua filosofia, finalizo dizendo que a cultura helênica apenas suportou essas terríveis verdades com a ajuda de outro deus: Apolo, que nada mais é do que a razão sobrepujando as emoções.
Penso que há de fato apenas uma tênue linha que separa o homem atual de seu antepassado mais primitivo, e por certo a pretensa erudição que o pensamento ocidental proporciona, no que tange sua racionalidade, não é o cerne para as questões mais humanitárias enquanto homem e sua alteridade, e espelho existencial.

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