quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Existencialismo e Freud (baseado em texto diverso)


Parto de Sartre, ao refutar a idéia de causas inconscientes dos fatos psíquicos; para ele tudo que está na mente é consciente. Rompe-se desta forma com a psicanálise por ela retirar a responsabilidade do indivíduo ao invocar a ação de uma força subconsciente e estados mentais inconscientes, que para Sartre, não existem. A consciência é necessariamente transparente para si mesma.
Todos os aspectos de nossas vidas mentais são intencionais, escolhidos, e de nossa responsabilidade, que é incompatível com o determinismo psíquico postulado por alguns autores.
Teríamos de atribuir a repressão inconsciente a alguma instancia dentro da mente , como a censura, que distingue entre o que será reprimido e o que pode ficar consciente, de forma que essa censura tem de estar a par da idéia reprimida a fim de não estar a par dela. Portanto, o inconsciente não é verdadeiramente inconsciente.
Por isso penso que não podemos usar "o inconsciente" como va´vula de escape parameu comportamento. Mesmo que não possa admitir para im mesmo, eu estou consciente e escolhendo. Mesmo na decepção que sofro, eu sei que sou eu aquele que me decepciona, e o assim chamado "censor" de Freud deve estar consciente para saber o que reprimir.
Ao usarmos o inconsciente como desculpa do comportamento, acreditamos que nossos instintos, nossas inclinações e complexos constituem uma realidade que simplesmente é; que não é verdadeira nem falsa em si mesma mas simplesmente real.
De certo esta proposição de Sartre é uma linha dura, pois não trata de nenhum dualismo o qual o ser humano se locupleta ao fugir de suas questões existenciais e seu real papel de responsabilidade perante o mundo enquanto forma e humanidade.
Penso que muita das idiossincrasias vista na humanidade são dadas ao fugir deste escopo de responsabilidade ontológica; da alta "voltagem" que constitui a obrigação imediata do homem de arcar com os danos de sua própria casa que engloba todo o outro, longe do solipsimo que lhe nega sua alteridade.
Somos responsáveis também por nossas emoções, visto que há maneiras que escolhemos para reagir frente ao mundo. Somos também responsáveis pelos traços de nossa personalidade. Não posso dizer "sou tímido", como isso fosse um ato imutável e inextricavelmente pré-determinado ao meio; uma vez que nossa timidez representa a forma como agimos, e que podemos escolher agir diferente, pois na vida nossos atos se definem, o homem se compromete, desenha seu próprio retrato e não há mais nada senão este retrato.
O que sobra são ilusões e imaginação a nosso respeito, sobre o que poderíamos ter sido, que são decepções auto-infligidas.
Por isto citei o papel de uma "psicologia" mais voltada ao escopo existencialista, que é um movimento que se aflora hoje.
Eu mesmo, em minhas grandes indagações existenciais, sempre em relação a sociedade, nunca encontrei tantas respostas no existencialismo que em diversas terapias que discorriam em eterna procura de meu "self".
Senti-me bem melhor ao assumir minhas "responsabilidades"; tentando definir, sem aspectos causais, a mim mesmo.
Isto não é uma forma de solipsismo, para maior esclarecimento consulte "Sartre e o Humanismo".

domingo, 27 de dezembro de 2009

Do suicídio (Osvaldo)


Boas referências ao tema também se encontram no livro "O mito de Sísifo" de Camus, que ao meu ver também é de maior compatibilidade e congruência ao tema por se tratar de uma abordagem existencialista. Na obra ele também começa citando que só existe um problema absolutamente sério e este é o suicídio, e cita também a questão do "absurdo", uma ótima literatura, embora às vezes um tanto prolixo demais.
Penso antes de qualquer coisa que devemos nos certificar das causas medicinais, da psiquiatria, que hoje claramente "diagnostica" um ímpeto de vontade suicida se o mesmo for de ordem de desajustes bioquímicos e advindos de estados depressivos profundo; pois qualquer banalidade que não seja de ordem "existencial" também é motivo de depressão.
Creio que o homem moderno mais do que nunca se defronta com estados de "lampejos" frequentes acerca de sua existência; e isto se dá ao fato da saída de um estado contemplativo em oposição ao mergulho puramente racional dos menos preparados a viver suas vidas sem um auxílio metafísico, no sentido da garantia do determinismo do homem e seu post mortem.
O homem vive cada vez mais cercado de estímulos que o leva a um foco fora de si; o hedonismo não é um "amuleto" de auto-suficiência que corrobora com a sensação de bem estar permanente, e até lembrando da metafísica da vontade de Schopenhauer quando este cita a efemeridade dos desejos humanos.
Pois bem, então penso que é dado um momento de nossas vidas, ou vários deles, que nos assombramos com o sentido da própria existência independentemente de sermos filósofos, religiosos ou cientistas. Mas pior ainda é quando hoje estamos envoltos de uma realidade social que não se explica em si mesma; o homem passa a ser seu pior inimigo, resultado de um movimento histórico do absoluto almejo do "fora-de-si" ontologicamente dizendo.
A consciência do homem enquanto ser social, gregário, e constituinte de seu próprio meio, desvirtuou-se ao longo do tempo no sentido de negação de si mesmo em auto-análise.
Sempre se tratou o suicídio apenas como um fenômeno social, mas penso que ao contrário, trata-se da relação entre o pensamento individual e o suicídio. Um gesto desses se prepara no silencio do coração como uma grande obra.
Começar a pensar é começar a ser atormentado. A sociedade não tem muito a ver com esse começo, a não ser pela promoção dissociativa do homem de seu meio que o torna cego à questões mais pragmáticas de seu cotidiano, porém, não obstante, penso que exista uma má sinergia do homem contemporâneo entre o pragmatismo enquanto cumprimento de seu papel social e uma má fé no mesmo quando este deveria ser antidogmático.
Há vários motivos para o suicídio, em sua maioria motivos "superficiais". A noção de "Absurdo" que trata Camus, do "Nada", da "Angústia" e "Inautenticidade" de Sartre, são interpretados com má fé ou concebidos tardiamente e equivocadamente.
Raramente alguém se suicida por reflexão. O que desencadeia a crise é quase sempre incontrolável. Torna-se então difícil o instante preciso, o percurso sutil que o espírito apostou na morte, é mais simples extrair do gesto em si as conseqüências que ele supõe.
Matar-se, em certo sentido, é como um melodrama; confessar que fomos superados pela vida ou que não a entendemos, que isto "não vale a pena".
Penso que viver, de certa forma, não é fácil, mas refutar a vida em meu conceito é um ato de covardia. Continuamos fazendo os gestos que a existência impõe por muitos motivos, o primeiro dos quais é o costume, de um caráter ridículo, ausência de um motivo profundo, de caráter insensato da agitação cotidiana e a inutilidade do sofrimento.
O "Absurdo" existencial talvez ocorra de forma mais clara no confronto da razão que é insuficiente para o homem formular todos os aspectos existenciais e volitar em diversas hipóteses, pressuposições e proposições da mesma. É dado ao homem em sua grande maioria se apegar a uma "fé" somente que lhe norteie a vida.
Permanecendo ainda em uma questão existencialista, penso que o homem deve rejeitar o suicídio na medida em que assume um estado de revolta e aceita o caráter absurdo da vida, de forma "suficiente", aceitando suas contingências.
Schopenhauer parte de um caráter mais profundo porque sai de um fundamento metafísico, da doutrina da negação do querer viver É estranho o fato de Schopenhauer "negar" o ato suicida tendo em vista toda uma analogia ao niilismo passivo e ressentido em relação à vida, se fizermos um certo correlato, ele e Camus de certa forma comungam com algumas coisas; pois me parece que para um schopenhaueriano a vida também é absurda, mas seu caráter é menos denso do que para um ateísta que não acredita em uma metafísica que seja, mesmo que de cunho pessimista.
Não poderia deixar de finalizar com Nietzsche quando ele cita o "amor fati", o niilismo ativo:
"Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás passar, para atravessar o rio da vida - ninguém, exceto tu, só tu.
Existem, por certo, atalhos sem números, e pontes, e semideuses que se oferecerão para levar-te além do rio; mas isso te custaria a tua própria pessoa; tu te hipotecarias e te perderias.
Existe no mundo um único caminho por onde só tu podes passar.
Onde leva? Não perguntes, segue-o!"
A vida exige que se enfrente sofrimentos, incógnitas e obstáculos sem fim, entretanto, ela é cheia de mistérios e tesão que, inexoravelmente, nos fazem até estarmos aqui debatendo estes temas, ao menos por enquanto; pois não nos esqueçamos que podemos dizer não a tudo isto e viver ordinariamente.
Não vamos também nos esquecer do suicídio mental, que é um problema de maior cunho iminente.
Bem, o termo suicídio mental ou intelectual me veio como insight na hora que escrevia o texto do tópico aqui,
Eu penso que toda fuga que o homem possa ter referente a sua condição enquanto "ser-no-mundo", se traduz como um suicídio intelectual, da aquisição de valores fúteis e volatilidade se si e de teorias, em detrimento de sua razão frente a ilusões adquiridas e vivenciadas "ipsis-litteris" dos fenômenos dados à consciência.
Ao se discutir a questão do sentido do ser, a fenomenologia compreende a verdade com um caráter de provisoriedade, mutabilidade e relatividade, radicalmente diferente do entendimento da metafísica que pressupõe uma condição estável e absoluta.
Esta é uma das razões de dizer que a fenomenologia é uma postura ou atitude, um modo de compreender o mundo, e não uma teoria, um modo de explicar.
Isso em ultima análise, representa o rompimento do clássico sujeito/objeto.
Para além desta minha menção acima, podemos no referir às marteladas de Nietzsche no quesito temporalidade de conceitos e desnivelamento intelectual do homem.
A coadunação do homem com o sistema vigente e a hiper realidade, sem a desconfiança mínima de um caráter malicioso que jaz por detrás disto, o leva ao ordinário, se locupletando no trivial e banal. Desta forma o homem se conforta em um estado de realidade "forjada", um simulacro, que deleta de sua mente quaisquer resquícios de crítica mediante tais fatos; sua racionalidade é também volátil e tende a dar as mãos com a melhor e menos custosa das aquisições enquanto objetos para o sujeito, uma zona de conforto intelectual que se resume na imbecilidade do ser humano.
Viver autenticamente é viver na plena consciência da nulidade do próprio ser, e plena consciência da nulidade significa estar certo de que nosso futuro é a morte.
De fato nossa "natureza" também é nada até que um caráter é escolhido. Somente desse modo podemos viver autenticamente em termos existencialistas.
Voltando ao assunto do suicídio, penso que indubitavelmente o homem é assolado por este fantasma do "Nada", ou um estado de ansiedade e angústia.
A ênfase de Nietzche no papel fundamental da "vontade" fornece a base do pensamento existencial, uma filosofia de "liberdade" desejada e o inescapável fato da escolha humana mediante a nulidade, e a fenomenologia visa uma austera inspeção dos conteúdos lógicos da mente, que Heiddeger usa para investigar estados extremos de ansiedade, preocupação, autenticidade e o nada.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Esperança na educação? (Osvaldo)


Nossa sociedade nunca falou tanto em educação: violência, desemprego, aquecimento global, mudança de valores. É na educação que imaginamos encontrar a solução de todos os impasses que vivemos. Mas será que escola pode dar conta dessa enorme expectativa?
Que tipo de pessoa a escola busca formar? Enfim, o que é a escola hoje?
A escola é uma forma de educar que nasceu na Grécia antiga, com propósito de formar cidadãos, mas foi só com a modernidade que adquiriu o objetivo que tem hoje: formar mão de obra de qualidade.
Desde então, basicamente nada mudou. O modelo educacional que predomina ainda hoje no mundo foi influenciado pela revolução industrial, é como se a escola fosse uma linha de montagem como em uma fábrica.
Português, matemática, química, geografia, etc, são peças a serem encaixadas; no final da linha sai um produto para atender as exigências do mercado, um aluno formado.
Mas hoje diante do enorme desenvolvimento tecnológico, e ao mesmo tempo, o extremo caos social em que vivemos, precisamos nos perguntar: será que é apenas para o mercado que a educação deve nos formar?
A escola que nós temos ainda é aquela que parece que é o único espaço de construção do conhecimento científico, e não é.
Segundo o filosofo e educador Edgard Morin, a escola não lida com indivíduos, mas com uma massa de alunos.A escola não está montada para desenvolver a capacidade de cada um, apenas ensina conteúdos isolados, separados um dos outros sem relação com a vida, acumulando informações que se empilham, sem sentido.
Penso que não existe uma separação dos saberes, só fazemos isto metodologicamente.
Vivemos numa sociedade cada vez mais desigual, dividida, e nós não podemos nos omitir e achar que tudo isto não nos atinge. Costumamos falar de um ser humano violento, cruel, que destrói o planeta, que desrespeita o vizinho e a cidade. Mas não falamos de um novo cidadão e de uma nova "cidade", portanto mais do que nunca devemos nos perguntar: "Quem somos, quem queremos ser, e qual a"cidade" em que queremos viver?"

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Da música como arte que transcende (Osvaldo)


Schopenhauer e a música, que eu tanto gosto. Os méritos vão para ele nessas afirmativas quando o mesmo a elucida como uma via de atenuar a "vontade", e sem sombra de duvida o mérito de expor a música como uma das mais importantes das artes e seu efeito sobre o homem é dele.
Nietzche recorda a velha lenda na qual o rei Midas procura Sileno, o companheiro constante de Dionísio, e lhe pergunta: "Qual é a maior felicidade do homem?" O demônio permanece mal-humorado e sem se comunicar, até que finalmente, forçado pelo rei, solta um riso agudo e diz:
"Patife efêmero, nascido por acidente e trabalho árduo, por que me obrigas a dizer-te o que seria tua maior benção não ouvir? O que seria melhor para você está bem fora de seu alcance: não ter nascido, não ser, ser"nada". Mas a segunda melhor coisa é morrer cedo!"
Como a cultura helênica suportou essas terríveis verdades? Com a ajuda de outro deus: Apolo.
Apolo, o Sol, deus da ordem e da razão, incorporado no sonho da ilusão, representa o homem civilizado. O culto apolíneo gera otimismo.
Sua insistência na forma, na beleza visual e na compreensão racional ajuda a fortificar-nos contra o terror dionisíaco e o frenesi irracional que ele produz.
Para serem capazes de viver os gregos deviam colocar diante de si mesmos a brilhante fantasia do Olimpo, com Apolo como seu maior deus. Autocontrole, autoconhecimento e moderação: o caminho do meio de Aristóteles.
Nietzche pergunta então que efeito estético é produzido quando as forças da arte e apolínea e dionisíaca, usualmente separadas, são forçadas a trabalhar lado a lado. Ou para dize-lo de forma mais precisa, em que relação a música se coloca frente à imagem e ao conceito.
A melhor resposta estaria com Schopenhauer:
"a musica se diferencia de todas as outras artes pelo fato de que não é uma copia do fenômeno, mas uma copia direta da própria vontade."
Ainda ao meu ver coadunando com Schopenhauer, Nietzche diz que a arte dionisíaca, portanto, afeta o talento apolíneo de uma maneira dupla. Primeiro, a musica nos incita a uma intuição simbólica do espírito dionisíaco, em segundo lugar, dá aquela imagem de significação suprema.
O espírito dionisíaco na musica nos faz entender que tudo que nasce deve ser preparado para enfrentar sua dolorosa dissolução. Ele nos força a olhar fixamente o horror da existência individual, porém sem sermos transformados em pedra pela visão.

Crítica ao cristianismo (Osvaldo)


Soa um tanto "romântico" e abstrato demais ainda o fato do homem estar à procura de uma síntese que o justifique em sua existência além daquela que o recoloque em seu papel social, interpessoal e constituinte de uma coletividade.
Eu penso que toda e qualquer abstração ou proposição que tenha implícito uma ordem de incognoscibilidade para o homem apenas o afasta de sua própria compleição enquanto ciência de si mesmo e perda de suas matrizes instintivas.
Dada qualquer circunstância que nos leve para um atributo de atemporalidade, este ainda nos remete a simples contingências que nos desconectam de um estado contemplativo de sermos "solistas" para engendramos nossa própria historia concomitantemente com o tempo a nossa frente; excluindo ou atenuando desta forma um maior vislumbre do bojo existencial ao qual somos inseridos na qualidade de humanos, e da mesma forma sermos menos resistentes a "frustrações" que, em nossa existência, se contrapõem a "idéias" nas quais subjazem certas explanações categóricas que ilustram o ser humano de forma reducionista; esquecendo das premissas ontológicas num sentido mais existencial.
Não adoto nenhuma postura que seja puramente "externa" a mim; ao menos tento preservar o fato de que enquanto homem preciso cotidianamente dar um sentido a tudo e reinventar-me.
Penso que a cultura é nossa meta mais importante, poderíamos perguntar o que acontece com as teorias metafísicas que especulam sobre a natureza fundamental da realidade usando apenas a razão. A possibilidade absoluta da metafísica dificilmente pode ser discutida, portanto também não posso ser radical ao extremo, partindo do pressuposto que tudo está no crivo da razão humana.
Apenas penso que teorias que tentam responder a esta questão estão fora do escopo da investigação humana. Historicamente, esta questão sempre exerceu um fascínio sobre os filósofos, mas que ganhamos ao especular o tempo todo a existência de uma dimensão metafísica? Por que?
Porque somos habitantes de um mundo físico, somente aqui nossos pensamentos e desejos têm uma aplicação; e é através deste processo que o homem deve se aprimorar cada vez mais tendo ciência das idiossincrasias perpetuadas por ele mesmo; e não advindas de uma realidade subjacente; forças antagônicas que anulam o potencial humano e o reduzem ao cataclismo especulativo e escatológico.
O homem precisa bem mais de motivação de suas capacidades latentes do que o constante levantamento de suas temeridades.
Eu mesmo nada posso afirmar em relação à existência de Deus, me posiciono em um patamar agnóstico; nada, além disso.
Carl Seagan: " A ausência de evidencia não evidencia a ausência".
Mas sigo Nietzsche no que diz respeito ao cristianismo como um todo, e toda outra religião de massas. Defendo de certa forma a filosofia budista, sou simpático ao movimento de Richard Dawkins e na questão virtude sigo o raciocínio do amigo Jório.
Mesmo dada existência de Deus, não se pressupõe que o homem tenha que se lograr nesta fé para ter sua formação social e altos valores apreciativos para com seu semelhante, portanto digo novamente que "existir" é o que importa, nossos maiores problemas sociais estão veementemente truncados com uma metafísica não somente das más interpretações de livros sagrados, dogmas e ditames escatologicos e apocalípticos que inculcam uma má fadada moral e virtude para com o outrem, mas também porque o homem é temeroso e covarde de sua própria historia de mundo, de seu existir.
Eu li uma trilogia literária um dia que se chama "Conversando com Deus", que creio que seja uma obra muito rica e para além de nosso tempo para quem quer se livrar do conceito de "demiurgo" do velho barbudo sentado no trono dos céus. O que extrai ainda desta obra é um papel existencial do ser humano, pois deus não vai interferir na tua vida, na minha e de ninguém aqui; você é dado ao mundo, faça sua existência; pois suas ações são inexoravelmente marcas no todo da coletividade, sejam elas boas ou ruins.
Existencialismo também é humanismo.
Bem, vou entrar aqui em defesa de Schopenhauer e sua primazia sobre a ética cristã, isto na minha opinião é singular, pois é dada a natureza humana se referir ao outro e entendo que isto está inserido de certa forma na "compaixão" que cita Schopenhauer.
Agora, Rodrigo meu caro, longe se soar uma atribuição que lhe estou dando, percebo um proselitismo de tua parte ao defender o cristianismo.
Ao que me parece, até bem pouco tempo atrás e inferido de suas postagens passadas, você simpatizava com as "marteladas" de Nietzche acerca da moral estabelecida; e esta é veementemente associada ao transcorrer do cristianismo em nossa historia de humanidade, uma mancha sem precedentes na qual o ser humano foi desprovido de toda sorte de auto-crítica em prol de um sistema infame, pífio, hediondo, expoente do irracionalismo humano e suas idiossincrasias no que refere a uma alteridade do ser humano somente em função de seu ego salvo pelas indulgências do pai e do filho.
Refuto seu pressuposto que na moral cristã estão os exemplos de "valores" humanos, pois estes são em função da "pseudo" salvação do próprio homem, ainda um expoente egóico em detrimento das reais motivações para o bem comum, ou seja, não há a necessidade de uma moral cristã ou outra que seja estabelecida para fundamentar o homem enquanto pré-determinismos para o embate entre o "bem e o mal".
É impossível que toda o boa ação humana seja por causa de uma moral cristã tão somente, ao meu ver, como um existencialista, isto seria apenas uma linguagem para se realizar o desejo, uma ação voluntária inerente ao ser sem o escopo de uma determinação.
Na própria filosofia temos vários autores que mesmo sem a concepção de um criador formulam exemplares passagens acerca de um humanismo.
o cristianismo tolhe completamente o homem, assim eu refuto veementemente este conceito.
Se eu hoje tiver que dar um conselho para alguém que quer seguir uma religião, que este seja budista.
A imagem de Deus está diretamente e inexoravelmente relacionada a uma antropormofização do mesmo como ente paralelo e demiurgo em relação ao ser humano; esta é a carga cultural que todos temos, e vejo em Nietzsche um expoente ao atacar essas mazelas da maior massificação religiosa que existiu.
Eu mesmo já fui evangélico por forças das circunstancias quando era criança, depois fui católico, espírita e tudo foi passando pelo crivo de uma crítica sob a luz de um raciocínio não extemporâneo da realidade que o homem se encontra. A religião e seus conteúdos são meramente muletas existenciais ao homem fraco e acovardado mediante seu existir.
Como já lhe disse, Deus não iria, se fosse o caso, interferir nas ações humanas e tampouco Cristo, pois se você acredita que foi "dado" a existir por parte de uma pré-determinação, dentro disto ainda você iria se defrontar com suas questões existenciais (vide Kierkegaard).
A volatilidade e alta tensão que o ser humano encontra comparados com as premissas evangélicas são inconcebíveis no ponto de vista existencial. Mesmo partindo do pressuposto da vida de Jesus Cristo e sua passagem "existencial" até sua crucificação, ainda resta ao homem ou indagar acerca do absurdo existencial ou dar um salto de fé no fundamentalismo religioso, que via de regra é cego e anárquico no sentido de instintos represados; se fores um homem não tens vocação à santidade, pois esta está em fabulas fictícias somente.
Por que você acha que seria conveniente ao homem ter este conceito "evangelizador"?
Convicções morais de ordem religiosa são, portanto, sempre convicções de grupo, e o grupo é maior que qualquer indivíduo discordante. Com a moral, o indivíduo só pode dar valor a si mesmo como uma função do rebanho. A censura e o controle moral somente podem surgir através do consenso social.
Ela representa o poder daqueles que são individualmente fracos, mas coletivamente fortes. Suas leis os protegerão (eles esperam), assim como justificarão o seu modo de vida.
Não ter a certeza desta metafísica religiosa, ou mesmo nega-la, apresenta um terrível e ao mesmo tempo hilariante pensamento. Terrível porque mos sentimos abandonados por nosso antigo protetor, e ao mesmo tempo hilariante porque subitamente nosso mundo se abre ao infinito. "Qualquer coisa" agora é imaginável, qualquer aventura temerária do conhecimento está permitida outra vez.
Não há nada natural na religião organizada. Pode-se substituir a palavra "natureza" por "neurose", pois não vejo nada natural nisto. A história viu numerosas "epidemias" religiosas (por exemplo, a inquisição, o fundamentalismo, a auto-flagelação corporal e psicológica), mas a aflição, a angustia, o absurdo sempre existiu em algum nível no ser humano.
Resta ao ser humano que tenta refutar a fé cristã um profundo sentimento de condenação por sua própria razão, uma temeridade e temor; parece, de uma maneira terrível, um prolongado suicídio da razão; pois a fé cristã desde o começo é sacrifício, escatologia temerária para o homem, sacrifício de toda liberdade, toda autoconfiança de espírito, e ao mesmo tempo escravidão e auto-escárnio, automutilação.
Kierkegaard embora cristão chamou a fé de "divina loucura", um "absurdo" que requeria um "salto" sobre nossa capacidade de raciocínio. Uma condição de que nenhum desespero existe e também uma formula de acreditar, ou está transparentemente ligado ao poder que o constitui; mas é auto-sacrifício outra vez; neste caso, para salvar seu espírito do desespero.
O homem faz o máximo de seu sofrimento, mas ironicamente, existem elogios à religião quando ela serve ao homem comum. A maioria dos seres humanos encontrará grande consolo nos ensinamentos religiosos.
"aos mansos e humildes será dada posição igual que os mais importantes da terra"; "todos são iguais aos olhos de Deus"; "nossos sofrimentos atuais são uma apólice de seguro para a felicidade futura".
Acreditar em tais idéias traz contentamento para os homens. É necessária uma vontade FORTE para dizer NÂO quando tanto está sendo oferecido.
Desde que existem os seres humanos existem também os rebanhos humanos (grupos familiares, comunidades, tribos, nações, estados igrejas), e sempre muitos que obedecem, comparado com o pequeno número daqueles que ordenam; considerando, por assim dizer, que até agora foi praticado e cultivado entre os homens de forma melhor ou por mais tempo do que a obediência, é justo supor que como regra, ter uma necessidade dela é, por agora, algo inato, como um tipo de "consciência formal" que ordena: você tem que fazer isso incondicionalmente, e incondicionalmente não fazer aquilo, em poucas palavras, uma obrigatoriedade.
Esta necessidade procura ser satisfeita e preencher suas formas com conteúdo: fazendo isso ela agarra tudo a sua volta sem pensar, de acordo com o grau de sua força, impaciência e tensão, como um apetite bruto, e aceita qualquer coisa que qualquer comandante, pai, professor, lei, preconceito de classe, opinião publica, gruta aos seus ouvidos.
O conceito de bem e de mal está inextricavelmente unido à moral cristã; em uma época anterior (pré-moral?) não teria utilidade para o conceito. Aquilo que uma época considera ser o mal é usualmente um eco posterior e extemporâneo daquilo que anteriormente era considerado o bem, o atavismo de um ideal mais antigo.
Desta maneira a mágica, a ausência de deus. A adoração de falsos deuses (satanismo?), o comportamento irracional (esquizofrenia?), o erotismo, foram todos classificados como fenômenos "do mal" do ponto de vista do grupo em uma outra época. Isso porque eles elevavam o individuo acima do grupo, ameaçando a maioria. Que essa ameaça seja chamada de mal!
Por fim peço desculpas se meu texto soa um tanto "acirrado", mas eu particularmente esperava uma crítica sua longe da sombra do cristianismo; ao invés de usa-lo como um fim. E sua suposição de que a bíblia foi alterada, eu diria que ela só existe a partir de seus fundadores sob uma razão coercitiva mediante mistérios insondáveis da natureza humana; é a pior obra que já existiu na vida.
As criticas em relação a Nietzsche mostram duas vertentes; ou você de fato é cristão ou, como a maioria das pessoas, lê-se mais de Nietzsche do que ele realmente escreveu, e o acusa de formar até o nazismo pela precariedade de quem lê de ordem hermenêutica.
A crença evangélica e as igrejas que a ela representa, não são mais naturais para mim. Com os evangélicos e católicos de carteirinha não há diálogo saudável e sustentável; pois eles são "delirantes" a ponto de dar medo e de não querer gastar meu latim.
Um exemplo disso é que o fundamentalismo cristão das pessoas não nos permite uma aproximação "fraterna" sem que elas tirem seus "óculos" da moral de cristo todo poderoso. Não há meio termo aqui, compreende? Ser cristão é inexoravelmente estar preso em uma camisa de forças da irracionalidade humana.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Da auto consciência da mulher na sociedade (Osvaldo)


O fato é que (uma observação minha) eu percebo uma certa constância das mulheres em geral, não todas, levarem muito as elucubrações filosóficas antes por um crivo deveras emocional; isto é percebido em muitas comunidades.
Um pensamento raso meu com toda certeza. Mas ainda quero tentar provar o contrario.
Já fiz convites a algumas delas, de outras comunidades, mas até agora uma velha conhecida se prontificou, e foi bem autentica dizendo que só dará futuras contribuições quando estudar mais acerca de Schopenhauer.
Não obstante, é desnecessário citar o escárnio de tantos filósofos sobre elas, algo que não concordo muito, ou em quase nada; pois se inserem na questão de "ontologia" assim como nós os homens; portanto talvez a importância do existencialismo para todos nós, quando este se resume também em "humanismo"; ao menos o de Sartre, que com sua companheira, de modo de um não interferir no outro, teve uma grande crítica ao seu lado!
Uma é a inexorável questão de sentimentos que impregnam as mulheres no que se refere à sua composição e o papel que lhe foi "concebido" ao longo das eras.
Não precisamos nos basear em filósofos e nem em axiomas aqui para tal; pois mesmo perante uma observação constante de seus atributos, comportamentos, e anseios; podemos inferir como ela se "apercebe" no meio social.
Hoje a mulher mais do que nunca procura sua autonomia em contrapartida ao "poder" masculino estabelecido; já não são meras donas de casa, e menos que isto, subservientes ao homem no papel esposa.
Não raro, nos deparamos com algum homem que não se sinta "ameaçado" com a análoga inteligência feminina; ou o desconforto por estas não seguirem mais seus padrões de outrora quando o flerte era proveniente do homem no geral; ou seja, a mulher frente à seus desejos sexuais é sinônimo de "promiscuidade".
Ao meu ver, há muitos resquícios em todas as partes de machismo e autoritarismo por parte dos homens que ainda sufocam uma inconsciente tomada de atitude da mulher em seu real posicionamento no "estar aqui", no "vir a ser".
Podemos também citar o existencialismo, que de seu pressuposto da liberdade das nossas tomadas de atitudes mediante os estratagemas do "mundo" e "consciência" de estória de vida, a maioria das mulheres talvez sempre preferiram e preferem optar pelas "estórias" que foram e são precedentes de sua atual condição mediante a sociedade; ou seja, o "formato" daquilo que já conhecemos. Muitas outras vão preferir optar em dizer que "o inferno são os outros" também quando se mobilizarem em causa própria; mas mesmo neste parâmetro tanto o homem como a mulher não pode se dissociar um do outro, pois se "precisam" mutuamente para este "menu" de opções no qual na sociedade os outros são nossos "observadores" enquanto sujeitos.
Eu particularmente penso que a elas não foram dadas as oportunidades iguais à de um homem; seja no seio familiar, seja por processos de repetição de modelos impregnados, tanto em nível de "inconsciente coletivo".Em suma: uma matrix exclusivamente feminina. rs...rs..., ou uma alusão à alegoria da caverna de Platão na qual as mulheres não se apercebem de seus reais e melhores atributos; uma evolução de personalidade estagnada e de forma até equivocada se si mesmas.
Mas a realidade é esta e as idiossincrasias "colaterais" do sexo frágil estão aí.
Raramente a mulher foi citada no passado como uma filósofa, salvo algumas personalidades que passam desapercebidas até na historia da filosofia; que na maioria das vezes não tiveram um final feliz. Talvez se adotássemos o método desconstrutivista para esta analise poderíamos achar mais elementos; ou então perguntemos, se assim fosse possível, para "Simone de Beauvoir", Marilena Chauí (apesar desta ser muito tendenciosa) e Viviane Mosé; intelectuais que eu admiro muito.
Alguns outros dados para complementar minha postagem anterior; pois penso que aqui de fato a questão da mulher deva "transcender" pressupostos temporais, e creio que no Existencialismo isso é possível de se "realizar" ao menos no intento de questionamentos mais profundos.
Simone de Beauvoir influenciou muito Sartre e foi uma figura importante do Existencialismo. No entanto, talvez seja mais lembrada por sua influência no feminismo.
Seu livro seminal "O segundo sexo" iniciou uma nova onda de feminismo que também questionava a filosofia e sua incompreensão da natureza histórica e específica da opressão da mulher. De Sócrates a Sartre, a questão da mulher havia sido filosoficamente invisível. Isso era muito estranho, já que as mulheres pareciam constituir uma grande parte da humanidade. A pergunta "o que é uma mulher?" perturbava os filósofos.
Sartre acreditava na liberdade, a liberdade de tomar decisões, de dar "saltos" existenciais para o desconhecido. A pergunta de Simone em "O segundo sexo" era: como explicar a eterna opressão das mulheres se todo mundo tinha essa liberdade? Seria uma opção delas?(coadunando com minha postagem anterior) ou esse potencial de liberdade seria meio ilusório, especialmente para a mulher?
A filosofia pretendia ter respostas para tudo, mas nem sequer fizera a pergunta. Esse era realmente um problema importante que não acabaria.
Se a filosofia concebia a mulher como "outro" em relação ao homem, e, portanto, como subserviente, a própria filosofia estava deixando de conceituar as condições sob as quais operava. Estava tão cega quanto os homens na caverna de Platão.