sábado, 30 de janeiro de 2010

Desmistificando Platão (Osvaldo)


Muito pelo contrário dos que pensam que o ideal platônico em si encerraria uma certa perfeição,o casamento, por exemplo, não era para Platão uma vida baseada em simpatia e disposições comuns entre dois seres humanos, mas um acordo visando à geração e criação de filhos. E que não é a simpatia que deve unir um homem e uma mulher, mas a tarefa de produzir uma descendência o mais capaz e bem educada possível.
Então dizia por isto que uma incumbência do estado cuidar para que os parceiros adequados se encontrem. As mulheres são destinadas aos homens como recompensa pela capacidade guerreira ou, ainda mais radicalmente, são consideradas POSSE comum dos homens.
Assim, diferente de tudo que se possa conhecer acerca do filósofo, Platão não nos oferece uma imagem romântica do amor entre homem e mulher.
Quando hoje se menciona o nome do filósofo em conversas do dia a dia, na maioria das vezes tem que ver com a expressão "amor platônico". Entende-se por isso aquele amor pelo no qual, em primeiro plano, não se encontra a cobiça sensual, mas a atração espiritual, baseado no respeito à mulher amada. De fato parece até injusto ligar este conceito a Platão.
Folheando a sua obra, em parte alguma se encontram sinais de um respeito particular pelas mulheres. Pelo contrário, ele afirma que as mulheres, quanto à virtude, estariam bem atrás dos homens e que, como sexo frágil, seriam bem mais traiçoeiras e astutas do que eles. Chama-as de superficiais, fáceis de exaltar e de exasperar, chega a denomina-las pusilânime e superticiosas. Platão chega a afirmar que nascer mulher seria uma maldição dos deuses.
Sua enaltecida "metafísica" afirma que aqueles homens que não tivessem se controlado em vida, sendo covardes e injustos, após sua morte, como punição, renasceriam mulheres.
Penso que é difícil presumir uma idéia de "Estado" ideal tendo como base intelectual estes pilares ruídos.
Bem, não desviando do tópico em si, mas já que enveredamos por este raciocínio aqui, é fartamente curioso o fato de como certos mecanismos "biológicos" e poder da linguagem levam o homem a uma transubstanciação da palavra amor e sua presunçosa identificação com outra pessoa. Como já disse em outros tópicos, os estudos da filosofia da linguagem é interessante para se atingir uma outra extremidade do que se tenta institucionalizar mesmo de forma filosófica, moral e ética.
Em um âmbito até metafísico, por parte de alguns espiritualistas, a máxima "seu amor ideal de hoje poderá ser sua pensão a pagar de amanhã", se faz presente.
É inexoravelmente claro que este sentimento que brota está, sobretudo, inextricavelmente atrelado pela necessidade de procriação do homem, como bem explica Schopenhauer. Esta fábula também está diretamente relacionada a etapas do desenvolvimento "etário" de um indivíduo o qual, ainda em uma ordem empírica, não provou as etapas necessárias de sua própria apreensão do mundo e de sua vida social e sexual, ou seja, tudo se converge para atender necessidades "primarias" do ser humano neste aspecto.
Schopenhauer explica:

"Aquilo que o homem maduro ganha com a experiência de vida, que faz com que veja o mundo de forma diferente do adolescente e do jovem, é, antes de tudo, a falta de prevenção. Começa, então, a ver as coisas com simplicidade e a tomá-las pelo que são; enquanto que aos olhos do jovem e do adolescente o mundo verdadeiro estava oculto ou distorcido por uma ilusão que eles próprios criaram, composta de fantasias e de caprichos, de preconceitos herdados e de devaneios estranhos. A primeira tarefa que a experiência tem de realizar é despojar-nos dos sonhos, das quimeras e das noções falsas acumuladas durante a juventude."

Nunca podemos conhecer de fato quem é outra pessoa num âmbito de convivência amorosa, mas somente os afins meramente materiais e de pura conveniência a ambos. Jamais um teor meramente "intelectual" ou espiritual pode garantir, novamente dizendo, o determinismo de um campo no qual duas pessoas estão envolvidas, dois universos aparentemente iguais, de natureza intrínseca semelhante, mas com projetos e visões de mundo que se diferem ao longo dos anos.
A necessidade de "liberdade", mesmo sendo para muitos ilusória, é um grito das almas não coadunantes com a opressão indireta que o outro pode promover.
Todo tratado de "união", neste caso, se encerra em conhecer gente nova, compartilhar experiências na tentativa de aprender uns com os outros, até esta troca "saudável" de superficialidades, comercio idiossincrático de ninharias e convívio monótono para apenas ser "gregário", cair no ostracismo e daí partir para novas empreitadas de espírito daquele que ainda crê que alguém pode pertencer a alguém.
Então partindo deste raciocínio sigo Platão em certos aspectos, como bem citei acima, no tocante aos verdadeiros propósitos de uma união, mas obviamente descarto veementemente sua maneira de inferiorizar o sexo feminino.

Nenhum comentário:

Postar um comentário