sexta-feira, 11 de junho de 2010

Crítica aos que desvalidam o homem racional - Osvaldo


O homem é o que é, ele não tem pecado original e tampouco “culpa originária”. O homem por natureza “isolada” de tratados deterministas pode perfeitamente fazer bom uso de sua razão para a solução de seus problemas. Muitas vezes eu mesmo me assombro mediante a crença que se pode ter acerca de um Deus “punitivo” ou rancoroso no tocante a sua própria criação. Vamos colocar então as coisas fora de um escopo teocêntrico e dogmático para então analisarmos esta questão sob um prisma “humanístico”.
Com a derrocada do advento cosmocentrista e teocentrista, o homem começa a ter noção de sua “razão operante” no advento do antropocentrismo, ou seja, todas nossas descobertas em ciência, medicina, engenharia, humanidades e outros, se dá a partir deste momento singular, o do uso da razão , que não necessariamente refuta a idéia de Deus, tampouco o antropocentrismo deixa de “comungar” com a idéia de um Ser infinito e de causas primeiras e finais.
O que apenas vale ressaltar é a forma em que a igreja medieval fez, de maneira sistemática, em atribuir a razão à fé, no período escolástico com Aquino, combinação esta que já estava por ruir mediante o uso “inapropriado” da razão para meramente suportar suas bases teológicas “dogmáticas” e de obediência nos primados racionais de Aristóteles. Este por sua vez, acabou também sendo subjugado por “emprestar”, após vários séculos, sua filosofia para a igreja cristã. Como resultado, a sã consciência diria que nenhum poder humano seria “atemporal” ou “divino”, bases estas que foram e são ainda demolidas pelo constante exercício filosófico, mas não pela teologia própria destas instituições que validam sua autoridade.
Falar do “transporte” destes pensamentos medievais ainda nos dias de hoje é uma tentativa muito improdutiva, assim como a areia escapa por entre nossos dedos, de avaliarmos e balizarmos os verdadeiros problemas do homem, que em suma ocorre pelo mau uso da razão e pela falta de instrução apropriada.
Existe um grande ressentimento dos religiosos e espiritualistas com os tempos modernos, em geral dos mais dogmáticos, em percorrer a modernidade de acordo com as novas nuanças e desafios dos seres humanos. Talvez a grande “sacada” da criação consiste em usar nossa razão da melhor maneira possível para que possa haver o diálogo que abranja as interdisciplinaridades dos seres humanos sem escatologias e nem exclusivismos.
Penso que os estóicos, voltando novamente ao passado,em se tratando de uma “ética de vida”, se configuram como os mais sensatos ao lidarem com questões pertinentes à conduta mediante o hedonismo e a vaidade humana, seja ela do materialista radical ou do espiritualista-religioso, e ainda eles conseguem um diálogo “interno” com o que chamam de harmonia cósmica.(O Estoicismo ainda se faz muito presente hoje como filosofia de vida para muitos).
Tudo se resume em conceitos, pré-conceitos, e crenças do senso comum, questões que a filosofia bem aplicada tem por finalidade demolir. E a partir disto nos centrarmos nos diálogos que venham de encontro com as reais necessidades sociais do homem, parafraseando a perfeição de todo o sistema universal, que pelo mau uso da razão, em muitos, ainda não se faz claro.
Penso então que os argumentos dogmáticos, seus vestígios atuais, assim como a tentativa de fundir razão com dogmas deterministas,estão fora da ousadia filosófica de quebra de paradigmas e vislumbre do novo.
Façamos o exercício socrático que diz: "Homem, antes de conhecer aos deuses e ao universo, conhece-te a ti mesmo".Talvez este tão procurado Deus esteja dentro e não fora. Isto seria um vislumbre apenas, pois nas tentativas de se "agarrar" Deus com as próprias mãos, desastrosamente o homem o faz de maneira antropormofizada, nos remetendo a Kant que diz que esta "possibilidade" é impossível. Mas ao contrário, segundo Descartes,o bom uso da razão pode, de maneira intuitiva, apreender a idéia de Deus, mas para tal, precisamos antes de tudo confundir tudo, desmoronar tudo, para enfim reconstruir o “novo”.

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