quinta-feira, 24 de junho de 2010

Do Ceticismo versus a metafísica - Osvaldo


Creio que o interessante são os correlatos que podemos fazer a partir disto, ou seja, voltando um pouco, se verifica que Sócrates está mais voltado a certo “nascimento” de um antropocentrismo, após a as filosofias que o precederam em seus antecessores, que buscavam como causa ultima a imanência de um substancia que fosse caracterizar toda a existência, seja ela a água, fogo, ar ou mesmo o “apeíron” (sem limites) de Anaximandro. Posto isto, os pré-socráticos ainda pairavam nas águas do cosmocentrismo e o do nascimento da física, estes sendo de certa forma posto de lado por Sócrates, que introduzia a “razão”, paralelamente aos sofistas, no cerne social e individual. Não obstante, Sócrates se preocupava com questões de ética, mesmo por racionalidade, diferentemente daqueles.
Nota-se que Platão, penso eu, ao falar de Sócrates por si mesmo, tenta congruir o nascimento da razão, com foco “ontológico”, ao espanto, ainda, das questões cosmológicas e do infinito, que por sua vez é novamente “refiltrado” por Aristóteles, este que é a base da teologia escolástica por ter em seu pressuposto metafísico algumas congruências com as sagradas escrituras, a exemplo da proposição do “motor imóvel” daquele, que por sua vez também “casa” de certa forma com a teoria evolucionista da espécie humana, enfim, isto tudo a grosso modo, pois o assunto é extenso e ainda em filosofia Platão e Aristóteles brigam, inclusive nos dias atuais, pelo titulo de príncipe do conhecimento.
O que vale salientar é que a filosofia antiga nunca esteve obliterada ou estanque, nunca pode ter sido considerada ultrapassada ou inútil. O que temos hoje são divisões no campo epistemológico da filosofia e as filosofias meramente de cunho ontológico, este último quase que se destacando de vez da metafísica para estudar apenas os fenômenos dados a priori, como no caso da fenomenologia e do existencialismo, ou mesmo do pragmatismo americano ou das escolas diversas, como a de Frankfurt, que o homem de fato é, dado a incognoscibilidade de todo restante, a primazia e o centro de estudo filosóficos, dentro de sua alteridade e facticidade, incluindo-se aí o social também e as políticas.
Oras, as questões metafísicas somente não instigam os céticos (em filosofia, não os ateus). De resto, só atrai para si os diversos questionamentos acerca de causas primeiras e causas finais, não em um escopo de causas finais no sentido escatológico, tampouco o da presunção da ciência em travar uma batalha contra a incognoscibilidade do unirverso e a não admissão de nossos recursos parvos para tal. Se fossemos tomar a questão cientifica acerca do desconhecido, poderíamos dizer que, tirando o absolutismo destes cientistas em especular tudo somente em bases apriorísticas somente, que estes são os maiores metafísicos existentes, no que tange o principio de todas as causas.
Não é a toa que a tríade Sócrates, Platão e Aristóteles deixou um legado que nos faz lembrá-los até a modernidade. Advindo destes, se “reinstala” a questão epistemológica na era moderna com descartes, contra o empirismo cético de David Hume, que são resultados de “tese” em Kant, este que por sua vez alude o agnosticismo.
Platão já era conhecido em questões do “conhecimento” em Teeteto, e assim como Sócrates, se preocupavam com o relativismo exacerbado dos sofistas, tal relativismo este que também, séculos depois, indaga Descartes e o impele a uma metafísica também, esta para sustentar que o ceticismo seria uma furada.
Bem, eu penso que metafísica é um campo que é inextricavelmente atrelado à filosofia, seja em que época estivermos, e a de Platão não é tão diferente da de Descartes, Espinosa, ou mesmo Kant, no sentido de conceber uma “ciência”.
Ou seja, no campo das proposições metafísicas, a “lógica” não pode determinar nada em absolutamente, certo ou errado. Mesmo Bertrand Russel, grande filósofo e matemático, se preocupou com o “cogito” de Descartes, este que por sua vez se preocupava com Aristóteles, que por sua vez se preocupava com Platão, que acendeu o estopim.
Para os adeptos do “ostracismo metafísico”, aqueles que não se incluem num ceticismo filosófico, restam remar no mar agnóstico de Kant ou nas marteladas demolidoras nietzschenianas, e para ser mais pontual neste sentido ainda, resta parafrasear a morte da filosofia pela boca de Marx. Afinal de contas, para a humanidade restam os ditames teocentristas, o ateísmo, ou o sofismo. E talvez a metafísica ainda seja uma pulga atrás da orelha deste enorme relativismo ao extremo. Moralismos à parte.
Na realidade o que é filosofia a não ser aquilo que aprendemos da boca dos outros, ou seja, Schopenhauer já nos alertava, embora em sua época, acerca da filosofia universitária, esta que estava sempre atrelada aos interesses do Estado voltando-se para um conceito “racional”, como em Hegel e outros românticos anteriores a este.
Na realidade vivemos sempre à sombra de filósofos ao invés de “pautarmos” nossas críticas também.
Estou neste instante relendo “Sobre a Filosofia Universitária”, de Schopenhauer, que a meu ver é um interessante tratado do real valor do filosofar. Claro que por detrás deste esboço jaz a metafísica da vontade do velho Schops, e de grande modo o fato de seu pessimismo coincidir com a “miséria” alemã e o desespero que toma conta da intelectualidade burguesa de sua época, pós hegeliana.
Há algo nesta obra de Schopenhauer que me chama a atenção no tocante ao papel “perene” da filosofia e do filosofo que engloba em sua função o sentido estrito da palavra filosofar, em amplo aspecto, e não somente em um, como no caso de somente aspectos sociais, ou epistemológicos, ou somente éticos ou estéticos. Ele cita no mesmo livro que no homem, a vontade se objetiva não só como corpo, mas como sujeito do conhecimento (aqui já temos uma refutação ao dualismo de Descartes, interessante isto!), o que possibilita que ela se conheça a si mesma e chegue à sua negação. Revelar o “significado moral do mundo” é a única e suprema tarefa do filósofo verdadeiro. Por isso ele não pode estar submetido a nenhum outro interesse que não seja da busca da verdade.
O interessante também é que enquanto estudantes da história da filosofia, podemos traçar uma linha “dialética”, a la Hegel, de nosso estado filosófico atual, e voltando agora a Platão e sua metafísica, com intertextualidades entre os principais filósofos da história, se encerrando em Nietzsche e no existencialismo provocado pelo mesmo, podemos observar que o homem pouco mudou. Como diária Nietzsche, qual de fato seria esta tênue linha que separa o homem moderno daquele homem primitivo? Em que de fato evoluímos desde a “arrancada” pós advento racional?
Muitos filósofos apenas tentam desdenhar o verdadeiro conceito da metafísica filosófica para se direcionarem apenas ao extremo “antropocentrismo”, mas se esquecem que este mesmo se torna uma força “centrípeta” que não sai de seu bojo tampouco, coisa que deveria ser bem diferente, pois aqui lidamos com argumentação empírica e fatos concretos, e não metafísicos, ou seja, na pior das hipóteses, irão dizer, como já foi dito em um niilismo amargo e passivo, diverso do “amor fati” nietzscheniano, que a raça humana é algo passível de obliteração.
Creio que não. Dentro do real escopo filosófico, nunca ficou mais evidente um olhar de volta às raízes, como que em Sócrates, Platão e Aristóteles, que englobam ainda as mesmas perguntas de sempre. E que alguns ousaram a continuar e outros simplesmente esqueceram.
Creio que estamos perdidos na nossa própria razão, esta que começou apenas a ser “lapidada” algumas dezenas de séculos atrás e, no entanto, se sustentar apenas nisto para esclarecermos os “balizadores” da humanidade, seria como retornar ao tempo em que se refutava o heliocentrismo de Copérnico.

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