segunda-feira, 5 de abril de 2010

Da espiritualidade de Sócrates


Quando se fala em espírito, estabelece-se automaticamente, para a maioria das pessoas, uma conotação com religião, ou crenças religiosas. Bem, pesquisando um poço mais além, nos deparamos com o fato que no caso de Sócrates e dos gregos de sua época, os mitos não se identificavam com a religião, pois a mesma estabelece um vínculo “individual” e social com o poder concebido como transcendente. O mito grego, pelo contrario, não ligava o homem à divindade, nem criava uma relação necessariamente doutrinária e normativa, como em nossas instituições religiosas. O mito se entendia mais como metáfora.
A espiritualidade de Sócrates não estava ligada a uma religião especifica. Suas crenças (ou mitos) sobre a espiritualidade situavam-se num nível mais racional e lógico.
Cada mito que citava encerrava um ensinamento ou conceito plenamente definido em suas crenças.
É notório que Sócrates, segundo meus estudos, acreditava inclusive na imortalidade da alma e sua reencarnação, porém a espiritualidade como valor maior da vida em Sócrates não consistia em fazer algo que agradasse ou satisfizesse sua relação com Deus, uma espécie de troca comercial segundo suas próprias palavras, ou “petitório”. A espiritualidade era um nível voltado para o conhecimento e a ciência, contendo um ideal de vida, como o que estava assinalado no frontão do oráculo de Delphos: “Conhece a ti mesmo”.
O que eu quero expor aqui é simplesmente a “confluência” de forças entre a ciência e a religião, que inextricavelmente reflete no homem, ou no mais incauto.
Se partirmos como base o conhecimento “a posteriori” segundo Kant, este é impossível, mas aí jaz a maioria das justificativas de fé da igreja e da ciência, porém todo este “conhecimento” não é “empírico” e sim parte da subjetividade. A ciência, análoga às religiões, tentam a todo custo provar a existência de uma “auto-ordenação” cósmica, e para tal estão neste momento tentando recriar de forma “empírica” , através do mais moderno acelerador de partículas, o momento da “criação” do universo, e a procura do “Bóson de Higgs”, teoria secular que se não provada de forma empírica irá ruir todos os pilares da física moderna acerca da única explanação do momento inicial de toda nossa cosmologia.
Em suma, uns se preocupam com a questão da “dogmatização” do homem, enquanto outros estão com o olhar cada vez mais projetados na cosmologia e suas teorias “a priori”. Ambos se esquecem do presente, e também se esquecem que o homem, via racionalidade, tem todo o poder latente de viabilizar um tão sonhado humanismo.
Quem sabe se nossa “fé “fosse de tal forma análoga à dos gregos antigos, viveríamos um pouco mais atrelados ao presente bem mais do que, egoisticamente, pensar na salvação de nossas próprias almas no post-mortem, ou de tantas “instituições” que crescem a rodo, que colocam Deus focado em escalas de bens de consumo, a saber, o da prosperidade, o da “blindagem” e “escape” do mundo cruel lá fora, e o da “isenção” de responsabilidade para com a alteridade, ou seja, as questões básicas de convívio com o próximo sem imputar a minha ou sua crença!
Nota zero para tudo isto!

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