sábado, 28 de agosto de 2010

O modelo atual de pensar é de fato cartesiano? Osvaldo


A ciência moderna, tanto quanto os vieses racionais da atualidade, empregam a base cartesiana para se propor o que de fato é "verdadeiro".
Mas devemos salientar que a razão em si toma um rumo diametralmente oposto daquilo que havia proposto Descartes. Como tudo acontece em filosofia, parece que o que é bom ao homem se torna uma área de conhecimento à parte e, a partir disto, hoje o que resta em filosofia propriamente dito é somente aquilo que não debate as áreas dos saberes, a exemplo de psicologia, ciência, antropologia, sociologia, física e biologia. Estas que outrora faziam parte de todo um compêndio filosófico.
Descartes propôs uma metafísica que jaz por detrás de sua obra, e esta de fato é o viés necessário para a fundamentação do “eu” cognoscente, e que por detrás de tudo está assegurado pela existência de Deus (há de se ressaltar aqui um debate não teológico, mas de logicismo), para que não caiamos no ceticismo da existência do mundo físico e de nossa própria subjetividade, como em um idealismo, ou seja, o mundo só existe em nossas mente (este foi um dos problemas iniciais de Descartes após o descobrimento de sua primeira verdade, a do cogito.
Oras, a saber, ciência e Deus hoje não mais combinam. Tanto quanto o fato da metodologia cartesiana, se fosse bem empregada, não haveria os erros idiossincráticos daqueles que o fazem segundo suas “razões”. E razão hoje ainda é “irracional”, tendo em vista que ela não é bem empregada e conduzida, preferindo-se muitas das vezes aceitar o irracionalismo do mundo, ou seja, a presente sociedade vive, mata e morre de modo mecânico, sem motivos lógicos, sem dar conta dos próprios atos. Irracionalismo é agir sem inteligência, sem equilíbrio entre razão e emoção.
Penso que há um erro endêmico em se dizer que o atual “modus operandis” seja cartesiano. Não é! Ao menos não completamente, pois creio que para a ciência prevaleceu o método e seu rigor apenas, e para a humanidade a ilusão de que o senso comum, capitado e elaborado pelos sentidos, ainda salta à razão como verdades eternas.
É uma circularidade, que nos remete de novo a Parmênides e Heráclito, que por sua vez a Platão, para “depois” Descartes , David Hume, Kant, Hegel, e que por sua vez volta para Parmênides...
O que acontece de fato é que hoje ainda praticamos bem menos filosofia do que outrora. Razão é um sinônimo radicalmente oposto à emoção, como em uma relação paradigmática entre o sagrado e o profano, ou seja, os dois coabitam, no entanto um fenômeno de cada vez apenas pode ser apreendido. E entre as batalhas da razão e emoção, nossos instintos ainda acabam por sobressaírem, na esmagadora maioria das vezes, e lembrando Pascal, o coração tem razões que apropria razão desconhece.
Que isso não nos sirva de arrimo jamais! .

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