domingo, 1 de agosto de 2010

Da razão lógica e metafísica- Osvaldo


Em principio de conversa, se realmente acreditássemos no caos, estaríamos loucos.
Toda forma de “ordenação” à sua volta, incluindo sua própria vida, é nata de uma “ordem”, mesmo que inconsciente.
Como lhe disse, o caos pode ser social e não acerca do “sentido” das coisas. A forma como o homem interpreta seu “arredor”, dentro de uma subjetividade, é díspar do outro homem, mas há certezas impares que norteiam argumentos contra o sentido “caótico” das coisas como elas são.
Há um bom filme para você assistir que se chama “Quem somos nós”, uma releitura que aborda ciência, metafísica, física quântica e energia perene em nosso universo, e para o observador mais atento às sutilezas, verá que por detrás desta “metafísica” há de fato uma ordenação em nosso universo que apenas foge aos olhos do ser humano, desde o macro, até o micro das partículas subatômicas.
Como lhe havia dito anteriormente, o homem, nós observadores, não temos noção da complexidade de tudo que nos cerca, percebemos apenas fragmentos de uma realidade que múltipla, de certa forma “desorganizada ou caótica”, mas que se contém em si.
O problema do niilismo é, a renúncia à sociedade hedonista, ou meramente um ressentimento pela vida, poderia melhor simplificar esta questão como a “filosofia do avestruz”, que simplesmente enfia a cabeça no buraco na terra como se “apaziguasse” toda confluência contraditória externa a si mesmo, mas isto seria também uma ilusão aos fatos evidentes em nossas vidas.
Alguém se qualificar isto ou aquilo, em minha opinião, mesmo sendo esta qualificação de desordem, ordem, acaso, determinismo, inatismo, empirismo, caos, ainda apela para uma abordagem peculiar mediante a vida, mas não passa de uma mera abordagem acerca do desconhecimento de si mesmo e de tudo.
O fato de não podermos conceber o incognoscível por uma questão de “intangibilidade empírica” não pressupõe que, embora seja algo árduo de se realizar, que devemos conceber em contrapartida um argumento de ceticismo acerca da irracionalidade do “ser-no-mundo”, como figurava existencialistas como Heidegger, Camus ou Sartre, isto é, em ultima instância, é uma proposição que atendia e sempre atendeu a diversidade subjetiva do ser humano, tanto quanto outras proposições filosóficas, dentre outras que abrem um leque maior de possibilidades de indagações como a metafísica, e que não se encerram em um irracionalismo perene acerca das coisas ou mesmo não comungam com o fato pertinente do irracionalismo de que as coisas sejam tidas como elas simplesmente se apresentam, mesmo porque a partir deste pressuposto materialista, como muitos filósofos da contemporaneidade apregoam, nada é oferecido como propostas na maioria das vezes, mas tão somente o diagnostico idiossincrático da ação do homem.
Nas confluências de valores múltiplos existentes por aí afora, é natural que isto esteja inserido em uma questão de relativismo, que hoje é levado à extrema concepção de valores que atendem à exclusividade subjetiva, ora do senso comum, da banalização, ora das “leis” autônomas que quem as professam, mas de forma um tanto quanto inexorável em sociedade, nunca um valor “próprio” ou pensamento próprio serão aqueles diferentes do que já existem lá fora, pois como em uma interconectividade de uma malha, bem explicado por Jung, pensamos quase que de forma coletiva, e nada originalmente.
Sartre, em sua obra “ O existencialismo é um humanismo”, deixou claro que o simples fato da existência preceder a essência, ou seja, não há uma causa anterior à nossa, nem deidades nem Deus único, e portanto o homem deve se criar a cada dia mediante o “absurdo” , segundo Camus, ou do “Nada”, segundo ele mesmo, e que como somos uma “malha” de seres que validam a existência através do observador e observado, ou seja, o outrem, há ainda nisto tudo um elemento de humanismo, que é uma tênue linha entre a total desordem do ceticismo caótico e da organização social, grosso modo.
Em ultima analise, poderemos então citar a irracionalidade de Schopenhauer, com sua metafísica da vontade, sendo esta a “aniquiladora” do próprio homem num desejo irracional de destruir a si própria também, salvo o desejo de perpetuar-se. Convenhamos que o velho Schopenhauer muito contribuiu para o desenvolvimento de muitas outras filosofias, em especial o resgate de algumas questões orientais como “ilusão” e também sua obra singular “A metafísica do Belo”. Mas em contrapartida Schopenhauer foi também um estopim, salvo Nietzsche e Freud, para o ressentimento de outras filosofias, sem juízo de valores algum aqui ao fato de eu expor este comentário.
Posto isto, penso que apenas algumas “verdades” podem ser postas à mesa desta discussão, que são as fabulosas e incognoscíveis formas de nosso cosmos, tanto quanto da natureza das coisas e a do próprio homem, bem mais do que a simples “morosidade” intelectual da distinção entre o metafísico e o operacional concreto de uma razão despótica e escrava de si mesma ao esquadrinhar a existência como “irracional”. Fato este muito moderno e contemporâneo, inseridos em uma primazia dos sentidos que, como bem sabemos, nos enganam.
De fato o homem cria para si próprio as mais nefastas mazelas que o atormentam, sendo ele seu próprio carrasco, criando e impondo seus próprios medos aos demais como a si mesmo.
A meu ver, mediante a perfeição deste sistema no qual me permite o “assombro filosófico” , a única disparidade está calçada na sociedade humana. Ao mesmo tempo em que eu ou você desejamos nos livrar destas pilherias pueris, também não queremos, e para tal fomentamos teorias de escape para aquilo que nosso cérebro ainda não consegue conceber minimamente, pelo escasso estágio atual de nosso processamento cerebral e má vontade.
Mas em ultima análise, o bom conselho que dou é não se aprofundar em questões existências se isto tudo o levar a um caminho sem volta. Talvez o grande primado da filosofia seria separarmos o bom senso do senso comum, e minimizar o relativismo extremo imposto pela razão e da falsa idéia de livre arbítrio, pois como disse anteriormente, em termos de matéria nem esta estaria, em ultima análise, livre de uma subordinação que foge dos conceitos apriorísticos das ciências, como poderia ser diferente para um ser pensante imerso neste turbilhão de possibilidades infinitas?
Minhas únicas prerrogativas são acerca da não sacralização da razão lógica em detrimento das questões inatas, intuitivas, que acredito, cercadas pela sustentação de uma “apuração detalhada” do que realmente podemos nos basear, advinda de um processo “racional”, que é operação básica do ser humano, pois ele "pensa", assim como talvez lá bem na frente possamos cometer menos erros assombrosos oriundos de nossa precária operação mental e longe das crenças verdadeiras que são de fato deletérias frente ao nosso progresso.
Pensa-se em grande parte de forma errada, sei bem, e sei também que o raciocínio puramente lógico está inextricavelmente atrelado ao ceticismo, ou seja, nesta linearidade binária do pensamento, seja ele “comum” tanto quanto “erudito”, não prevalece nada além da tangibilidade de proposições que são tidas meramente como apriorísticas, ou seja, o homem já tem por certo questões, mesmo que científicas, de pressupostos não “a posteriori”, e isto está analogamente relacionado ao senso comum binário, pois se crê veementemente na tangibilidade das operações mentais,istoé, de seu conteúdo, de forma que um escrutínio por parte dos mais leigos acerca de fatos que englobam um “todo coeso” é descartado em beneficio da obstrução do intelecto.
Sendo assim há apenas uma “descrença” de processos levados a cabo também pela intuição humana, ou mesmo idéias inatas, que de fato estariam “guiando” nossos sentidos, de modo que bem conduzidos, ao tentar chegarmos mais próximos de uma “verdade” que não fosse banalmente relativizada, pois toda o conhecimento parte das idéias para as "coisas", principalmente acerca das questões quantitativas, bem mais do que as qualitativas. Tal procedimento pode ser também extendido para as outras áreas do saber, estas que são aseguradas pelo "bom senso", e nos guiam para o progresso humano.
A metafísica da subjetividade, advinda de um filósofo moderno e racionalista e que foi o estopim para estes temas da mente, deixa claro que o homem “não é um piloto em seu navio”, não é uma mente comandando um barco, mas um todo coeso, a dualidade corpo e mente é puramente metodológica, o mental não ocuparia espaço, e o não mental ocuparia espaço, temas semelhantes são abordados hoje em ramos filosóficos como a filosofia da mente ou mesmo em neurociência.
De modo algum o projeto de Descartes, mal compreendido tanto quanto os escritos de Nietzsche, ao pressupor que o Francês foi criador desta contemporânea “racionalidade” despótica e lógica, está relacionado ao ceticismo ou à banalização do saber. Poderia se culpar em enorme escala o relativismo extremado para a banalização do senso comum, coisa que pode ser varrida pelo iluminismo da razão bem direcionada.
Deve-se de fato aqui citar a filosofia moderna cartesiana como precursora desta discussão, pois como bem sabemos quase todas as ciências advêm da filosofia, e o projeto cartesiano, ao menos no campo filosófico estrito, isto é, metafísico, não era o de “entender o homem”. No campo metafísico seu projeto era o de mostrar a inconsistência de posições relativistas e, enfim, céticas. Um projeto daquele que o próprio Platão se fez porta-voz, depois de Parmênides e Heráclito: o de encontrar e bloquear mecanismos pelos quais nós nos enganamos e tomamos o falso pelo verdadeiro.
Assim, o projeto cartesiano é no âmbito da verdade. Mas, a partir dele, e incentivado por ele, as pesquisas filosóficas não serão somente sobre a verdade, mas também sobre o “eu”. A certeza é alguma coisa do âmbito subjetivo, e o trabalho dos filósofos será o de mostrar que o “eu” que apresentam é universal e, ao mesmo tempo, não uma figura estranha aos homens.
A saber, o senso comum foi algo tido como pioneiro pelos sofistas, e se para mim eu sou a medida de todas as coisas, eu também então poderei não ser a medida de todas as coisas, em um raciocínio binário, mas o primeiro argumento é o que de fato prevalece neste emaranhado de relativismos pueris, nos quais a banalização do sujeito tanto quanto do conceito de verdade foram engendrados.
Em última instância, é natural dos homens complicarem aquilo que é tão simples, uma alusão aqui à "Navalha de Occan", só que desta vez não em um contexto de ceticismo ou reducionismo.

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