sábado, 11 de setembro de 2010

Descartes e a antiga ciência- Osvaldo



Descartes não rompe com a ciência, ele apenas dá outra configuração ao saber, rompendo somente com a essência da ciência escolástica, aristotélica, mas por outro lado não ignorando o saber até então apreendido de seus estudos na escola La Flèche.
A essência é para Descartes a subjetividade, ou seja, todo conhecimento parte do sujeito, em ultima análise, não das sensações do mundo exterior. Configura-se assim o sujeito conhecedor, aquele que determinará, em meio a uma selva, os caminhos que o conduzirão a seu exterior.
Descartes também une a isto o fato das idéias inatas, algo parecido com o que Platão professava em suas “formas”, idéias eternas.
A matemática em Descartes entra como dois benefícios, o primeiro de entes inteligíveis, ou seja, não precisam dos sentidos para operá-los, e o segundo como “rigor” metodológico para se “apurar” uma proposição.
Pois bem, para Descartes a primeira instancia de sua filosofia foi a veracidade do cogito, do ser cognoscente. Deus foi uma necessidade que também passou pelo crivo de sua duvida radical, chamada de “hiperbólica” com alusão à matemática por se tratar de uma duvida em escala universal, ou seja, ao invés de duvidar de cada coisa, ele duvidou de sua própria existência e até de Deus.
Portanto, a primeira evidencia para Descartes não é Deus, e sim o sujeito, a mente, e logo após, para não cair no ceticismo que se o mundo lá fora existe ou não, tornando sua filosofia apenas “idealista” (existente apenas na mente, como diz Berkeley), ele prova a existência de Deus (sem tratados teológicos) para a veracidade da ordem, do cosmos, e das idéias inatas que é de igual a todos os homens. Mas para tal somente a filosofia e o “método” poderiam proporcionar esta visão.
Sem sombra de dúvidas sempre processamos “referências”, e o ato de filosofar é ir além das referencias que se tornar um dogma. Devemos apenas imaginar até que ponto o ser humano consegue ir além dos referencias.
A saber, uma estagnação referencial pode também nos levar ao senso comum, ou crenças verdadeiras. Imagino que filosofar tem um preceito mais importante de todos, que é a dúvida metodológica, por assim dizer. Ou mesmo um método como a dialética ou o silogismo aristotélico para servirem de estopim à indagação. Mas nisto estamos situados ainda na teoria do conhecimento, esta que tenta de certa forma “universalizar” como é dado o saber humano, e até que ponto se pode conhecer algo de fato.
Vindo mais para a contemporaneidade, a filosofia existencialista tem como ponto fundamental não a metafísica, mas sim o “outro”, o próprio homem como referencial de sua existência. Mas aqui estamos então lidando com ontologia e fenomenologia, aspectos que nasceram a partir da metafísica da subjetividade de Descartes.

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