quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Das muletas existenciais e da crença em Deus (Osvaldo)


Quantos já indagaram o porquê da crença em Deus? E na falta de Deus, por que tantos outros se apegam a outras crenças? Como do consumismo, da hiper realidade, da "estética" do posicionamento social, do par perfeito e outras tantas?
Alternativas para a substituição de Deus, ou para uma simbiose Deus totalmente idéia subjetiva/agnóstica mais realidade fugidia é que não faltam.
Primeiramente, devemos voltar a tempos atrás quando o homem se norteava em seus instintos puros tão somente; a natureza e o homem eram apenas um. Isso foi corrompido pela tentativa de racionalização através do intelecto de um conceito metafísico e cosmológico, originando-se a partir destes as mitologias e os adereços para a natureza.
Como o passar do tempo, o homem foi se tornando mais reflexivo, inquisitivo, deixando de ser guiado por seus instintos somente para dar lugar à dialética, como uma nova arte de "iluminismo"; e o resto é historia.
Acontece que se tornou evidente no homem, dado um certo tempo, a necessidade de conforto metafísico, pois este já teria perdido grande parte de seus puros instintos de proteção; arriscaria até dizer que, ignorados deste conceito, o homem primitivo já se encontrava em um contexto existencialista, pois tudo era concebido de forma irracional anterior à largada do aprimoramento razão/intelecto; e a sobrevivência, a existência mediante tal quadro era seu instinto verdadeiro, livres de quaisquer conceitos extemporâneos.
Mas a metafísica sempre foi de fato o assunto preferido entre grandes pensadores, preocupando-se mais com indagações exteriores do que interiores para os homens, uma tomada de consciência que se justificava pelo simples ato de filosofar e de obter conhecimento como indagações do que é natural e o que é real.
Advém disto também, por caprichos e conveniências de alguns, a idade das trevas do pensamento humano, o cristianismo, a escolástica, os grandes doutores da igreja, muito antes disto ainda o neoplatonismo e suas corruptelas e falácias. O homem volta então ao obscurantismo, mas este de forma perniciosa e premeditada; pois isso é latente no ser humano; um engodo magistral de sandices religiosas e tantos outros sofismas para nós todos que estamos ainda na "caverna" de Platão.
Dá-se depois deste período um grande respiro, da renascença e do iluminismo; este ultimo de forma ímpar com pensadores que remontavam à razão e critica, tentando posicionar o homem novamente em seu centro crítico, com grande colaboração dos louváveis empiristas como John Locke, David Hume e até Descartes,que mesmo dentro de um conceito metafísico abriu uma brecha para o ceticismo metodológico; sem falar em Kierkergaard, precursor do grande pensamento existencialista; bravo, intrépido; tanto quanto Spinoza, inseridos em uma religião e desafiando os próprios conceitos.
Voltando para um pouco mais próximo do tempo atual, temos Schopenhauer com seu estilo literário e filosófico jamais visto antes, e logo após Nietsche, que sabiamente vaticina grandes idiossincrasias sociais jamais vistas até hoje, e não desmerecendo muitos outros que não citarei oportunamente agora. Cito, porém Freud com sua inigualável contribuição ao catalogar proposições oriundas dos dois últimos filósofos mencionados.
Grosso modo, esse é o movimento dado para a constituição intelectual do homem; mas como um cipó parasita, a metafísica suga a seiva do conhecimento humano ao tentar alegar ao indivíduo um conforto tal que não a própria razão crítica; mesmo porque metafísica hoje caiu na sua falácia etimológica, tamanho é desejo do individuo de projetar para lá bem longe de si suas responsabilidades e necessidades imediatas.
O resultado não poderia ser diferente; só pode ser uma piada de mau gosto para quem conta a uma platéia de bípedes autômatos.
Os homens deveriam se invejar dos animais, que cumprem seu círculo na natureza de forma menos deletéria que a nossa. Eles são irracionais? Qual o conceito de razão? Ok, dois pesos duas medidas; esta é outra piada pueril.
Em nome das religiões se fazem guerras, atrocidades e se comete insanidade social. Em nome de uma moral distorcida, se é que alguma seja boa, se oprime os verdadeiros instintos criativos, e, por conseguinte, todo "valor" que hoje existe é um que é multiforme, sem identidade, com máscaras, em polaridade díspar e alta voltagem perniciosa.
Em que se tornou o homem senão um espectro daquilo que ele gostaria de ser, imerso em ideais voláteis e mesquinhos, nem tomando posse de sua real existência ao longo de sua vida e contando apenas seus grandes feitos superficiais; garantindo-se na consoladora "metafísica" do "post mortem", e, se necessário, recomeçar, adiar, deixar sempre para o "amanhã"; idealistas perdidos em elucubrações baratas.
Oras, para encararmos a "realidade" precisamos de certas muletas, hoje a idéia de Deus também pode estar escorrendo entre nossos dedos e esvaindo-se. A pós modernidade e a hiper realidade nos faz cada vez mais esquecermos dele; bem disse Nietzsche que nós matamos Deus!
Afinal, qual é a crença também do ateísta? A crença na ciência? Qual sua posição? Ser ateu e respeitar a metafísica alheia? Pois cada vez mais em nome de Deus cresce a intolerância não somente entre religiões, mas a intolerância a quem não tem religião nenhuma; prova disto é de que uma metafísica de alguma pilhéria qualquer sempre esteve em todas as plataformas sociais, em todos os seguimentos, sem exceção alguma, se fazendo expressiva minimamente que seja em sua moral torpe, pífia e nauseabunda.
Entrementes, o mercado editorial é abarrotado de "literatices", a arte de escrever bem para não dizer nada, somente sofismas, incredulidades e muletas estratosféricas.
A psicologia por sua vez apenas é uma "tabula rasa", que explica o homem e seu comportamento a partir de fatos empíricos, devaneios próprios da sociedade; o homem inserido na própria armadilha que ele criou, os cenários que nós mesmos pintamos, mas agora queremos sair, ou não, desde que o advento "Prozac" veio à tona.
Se não tenho amor à vida? Eu apenas cumpro o papel que a mim mesmo "estabeleci".
Vive-se melhor sob uma ótica iluminista, deixando a adolescência para trás e as referências existenciais de viver. Torna-te o que tu és! É paranóico? Enlouquecedor?
Cada um que segure sua onda! Lembre-se dos primeiros homens que de nada sabiam, e que tinham fé em si mesmos. Mediante o irracional, que possamos posicionarmo-nos criticamente e acreditarmos em nós mesmos.

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