sábado, 28 de novembro de 2009

O poder ilusório da auto-ajuda (Osvaldo)


Vejam por si mesmos aonde chegou a sociedade de modo geral e suas preferências literárias.
Na capa da revista Veja de 2/12/2009 logo se faz a advertência: "não adianta torcer o nariz!"
O que devem estar imaginando os filósofos ao lerem esta matéria?
Creio que dá para acessar o site da revista para ver a matéria na íntegra. Eu nem a li direito, me recusei; mas li nas duas escassas paginas finais o hediondo: " A prima rica da autoajuda é a filosofia. AMBAS se propõem a compreender e interpretar a existência humana, a diferença é que a filosofia vai fundo na definição de conceitos, e nem sempre tira lições práticas de suas conclusões". Depois citam o epicurismo e Sêneca.
Para finalizar citam algumas frases clássicas de alguns pensadores como Spinoza, Montaigne, e outros; com uma alusão final de se pensar na "vida" e esquecer a morte.
Nota-se uma clara concepção de valores opióides que lhes proporcionam o torpor da felicidade momentânea.
Pasmem, onde está Schopenhauer, Nietzsche e tantos outros?
Schopenhauer vaticinou que o futuro da literatura seria a banalização, as ditas "literatices"; termo criado por ele; e que a quantidade de escritores ruins vive somente da tolice do publico.
Aqui fica uma reflexão consoladora de minha parte: a sociedade não ousaria ouvir a verdade; a de que ela aperta cada vez mais a corda no pescoço!
Como isso lembra a morte de deus não?
E a revista, não importa qual fosse, faz um desprezo à filosofia, e nota-se que ela coloca apenas um "momento", uma frase, de um pensador como Spinoza, por exemplo.
Com mil diabos; como um pensador como Spinoza, talvez o mais indicado para uma baliza mediante esta matéria, pode ser citado apenas como um "axioma"?
Troca-se toda a sorte de filosofar por um padreco pop star e seus receituários, outro que pesca nas "sagradas escrituras" versículos mirabolantes, e outro que se afirma no capitalismo empresarial com um nome muito sugestivo para as presas fáceis: "O monge e o executivo".
Isto é o que se chama de niilismo.


Para explicar isto também, segue um texto de quem vaticinou mais de um século atrás este advento literário, Arthur Schopenhauer:

"Parece premonição. Quando o filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860) escreveu os três textos que compõem o livro Sobre o ofício do escritor (Martins Fontes, 222 págs., R$ 21,50) – originalmente para a obra de pequenos ensaios intitulada Parerga e paralipomena, lançada em 1851 –, não poderia supor que seus fundamentos seriam tão verdadeiros num futuro distante. O livro é um prognóstico de tragédia na área das letras. Deixemos de lado a parte em que fala dos problemas da língua alemã, pela especificidade que não é de interesse geral, para centrar nas críticas aos escritores, estilos e vícios. Parece que ele adivinhava que o futuro da literatura seria a banalização – basta ver entre os milhares de títulos lançados diariamente quais realmente merecem ser lidos. Feitas as contas, o resultado é pequeno.
Mas a responsabilidade pela proliferação de obras ruins é repartida com o leitor: “Uma grande quantidade de escritores ruins vive somente da tolice do público”, diz. Schopenhauer chama de literatice – termo certamente criado por ele e que significa literatura chata – “cerca de nove décimos de todos os livros”. E diz o motivo: os autores são “cabeças ocas que querem socorrer seus bolsos vazios”. Ele condena quem escreve para alcançar a fama ou, pior, para ganhar dinheiro. Só se deveria escrever por amor ao assunto, ensina. Não viveu o suficiente para conhecer o marketing, mas pediu que a literatura fosse avaliada apenas pelo pensamento original, e não pela capa ou presepada em volta. Bate pesado nas interpretações e compilações. “Só quem tira diretamente da própria cabeça a matéria do que escreve é digno de ser lido”, afirma. Considera que “os que pensam” são exceções e “no mundo inteiro, a regra é a canalha”. Ou seja, os que se apropriam de reflexões alheias e reproduzem idéias como se faz com “moldes de gesso”.
Schopenhauer afirma que não existe nada mais fácil do que escrever difícil, e que este é um recurso que visa ao logro. A exibição de erudição pomposa, estilo prolixo e palavras que ninguém entende é, na verdade, uma forma de o autor reconhecer que não merece ser entendido e que seu pensamento não é significativo. Dizem que a filosofia está na moda no Brasil atualmente e que os filósofos estão sendo procurados em livrarias. Ok, essa onda pode nos redimir da saga que ele critica em seu livro. “Há gente que lê mais sobre o que foi escrito a respeito de Goethe do que por Goethe e estuda com mais diligência a lenda de Fausto do que o próprio Fausto.” É aconselhável ler Schopenhauer por ele próprio".

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