segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Do poder do mito e religião.Dogma versus Filosofia - Osvaldo


Em um estudo da filosofia, em seu sentido estrito, devemos colocar nossos juízos de lado, mesmo sendo religiosos, afinal de contas a historicidade dos fatos é acreditada ou não, assim como tão facilmente aceitamos nossas crenças em detrimento de uma apuração cientifica dos fatos. A junção entre razão e fé não nos dá as respostas para todos os questionamentos da vida.
A saber, o homem sempre “mitificou” a natureza ao seu redor. Dentro deste escopo, a Paidéia grega foi a que mais distanciou o homem, em especial o espartano, da prostração “irrevogável” frente o mito, ao passo que em demais localidades a mitologia e suas religiões já estabelecidas eram analogamente deterministas e de certa forma exerciam um caráter dogmático sobre o homem.
A questão toda não é da apreensão de Deus ou não, mas sim de uma institucionalização daquilo que jamais pode ser concebido como ordens divinas outorgadas a um ser humano e sua atemporalidade de certificação de fé. Mito ou religião no final dá no mesmo, dadas as circunstâncias que entremeiam a gnosiologia e a possibilidade do conhecimento certo.
Talvez eu vá contra sua crença pessoal, mas me sinto na liberdade de expor um ponto de vista histórico e da mitologia que se faz acerca de personagens comuns na história e posteriormente santificados. Talvez nossas crenças de fato sobrepujam toda sorte de questionamento que venha abalá-la.
Joseph Campbell, em seu renomado trabalho “O poder do Mito”, já apontava uma das religiões mais antigas, que são os ensinamentos dos Upanishads, e estas embasadas também em uma mitologia própria e peculiar.
Na realidade, podemos dizer que a distinta impressão de nós seres humanos é que trabalhamos apenas com “capítulos” separados de um único “épico mitológico” do imaginário humano.
Um clássico exemplo que podemos expor é de uma figura muito conhecida e religiosa, que nasceu de uma virgem, utilizou rituais como o “batismo”, beber “vinho”, e partir o “pão”; foi também simbolozado por uma “cruz”, e comemora seu “nascimento” no dia 25 de Dezembro.
Se alguém disse que essa figura foi “Mitras”, acertou! Deus da fertilidade no antigo império romano. Não há absolutamente nada que, em um estudo das causas filosóficas do homem e seu meio, que desmereça um mito que precede uma religião de outra religião “socialmente correta” e aceita nos moldes ocidentais.
Claro que duas concepções imaculadas não são motivo para empolgação para os cristãos. Nascer de uma virgem é uma das idéias elementares mais “elementar” de todas, encontrada não só nas histórias de Mitras ou Jesus, mas na de Deganawida, o grande pacifista dos iroquois, e de Buda, que dizem ter descido do paraíso para o útero de sua mãe na forma de um elefante branco.
Somos análogos, hoje, à Grécia antiga e de sua mitologia. Estamos apenas um tanto sofisticados na maneira de explicar certas coisas que perduram as mesmas por milênios.
Penso que a filosofia que pouco discutimos deveria é a parte quando a ela segue o “iluminismo”, ao passo que a religião se dá pela troca de um dogma pelo outro sem nenhum beneficio para os homens, a não ser o culto à obediência.
No século XVIII, Kant afirma que o iluminismo ou o “esclarecimento” exige o “pensar” pela própria razão. A religião enquanto algo que dita normas para além da razão humana, é posta aversa à filosofia.
Podemos indagar que a filosofia começa em grande medida com a religião (mito), e o primeiro filósofo, Sócrates, era devoto do deus do templo,a quem ele consultou e Sócrates dizia que seu trabalho de filosofar em Atenas era uma missão dada pelo Deus. De certo Sócrates diz isso.
Mas esse é um ponto de amplo debate, a relação entre filosofia e religião. Sócrates diz que o “daemonion” que fala ao seu ouvido e que ele toma como “voz” divina nunca diz o que ele “deve” fazer. Ele sempre julga o que deve fazer pela própria razão.
Não pé este o caráter das religiões que não são as religiões de Sócrates. Elas dizem o que deve fazer mas não explicam por que. Elas dizem que se deve obedecer determinadas regras que seriam “morais”, mas não dizem por que elas são assim. Não explicam por que Deus não gosta de determinados atos humanos, mesmo aqueles que estão dentro daquilo que chamamos de humanismo.
Quando ninguém sabe destas respostas, mas a seguem, ou aqueles que sabem recorrendo à autoridade de textos, a filosofia aí não está. Porque a filosofia é o ato do atirador voluntario, livre, o franco atirador, que não segue partidos, não segue instituições, não segue governos, e não segue doutrinas que não podem ser questionadas pelos seus próprios instrumentos a si mesmas.Este é o filósofo autêntico.
Sócrates conseguiu ter uma relação com a religião e com a filosofia que poucos outros filósofos conseguiram. A maioria deles, para ficar livre e filosofar, abandonou a religião, e os que ficaram na religião abandonaram a filosofia.
Muitos autores costumar brincar com a vida de Agostinho antes de sua total devoção ao cristianismo com a frase: “...dê-me castidade e moderação...só que não agora”.
Se partirmos para uma análise mais coerente frente à própria tese de Agostinho professada após sua ascensão, notaremos algumas contradições que volitam nos recônditos dos mais incautos dos seres humanos. A saber, estas contradições jazem no conceito de pecado, vida eterna e dos eleitos de Deus, segundo Agostinho.
Se for professado, segundo ele, que Deus é bom, que ele é a “própria” bondade, como o mesmo Deus também pode criar o “desejo maléfico” que permite que as pessoas façam o mau? Caso contrário seriamos bons desde o nascimento. As prerrogativas que atestam esta dicotomia maniqueísta jazem em dogmas ditos atemporais e profissão de fé, como da castidade, do pecado “original”, da ascese e da privação dos sentidos mais latentes que já foram largamente catalogados por Freud e outros.
Com poucos séculos de idade, o cristianismo ainda estava em estado bruto. Seu dogma formal ainda precisava ser lapidado. E as seitas proliferavam.
O adiocionismo (visão teológica do cristianismo primitivo), queimaria os devotos do arianismo (nada a ver com Hitler), que refutavam os adicionistas ao dizer que o Pai é o único Deus verdadeiro.
Por outro lado havia o nestorianismo, que alegava que Cristo era “duas entidades”, uma divina e a outra humana. Os monotelistas afirmavam que Cristo tinha uma faceta, mas duas naturezas, e que pendia para o divino. E assim também tínhamos o monofisismo.
Agostinho por certo enveredou para o maniqueísmo, ao proferir que o bem sem o mal não existe, que não poderíamos ver a luz sem a escuridão, e a luz do sol é a origem das sombras.
Os elementos do grande “Maniqueu” revelam isso e muito mais.
Maniqueu foi um místico iraniano que sintetizou diversos pedaços do budismo, da mitologia babilônica (para os que acreditam ainda que religião e mito não dão um bom casamento), e do dualismo de Zoroastro em uma filosofia que se espalhou como um incêndio por toda a Europa, Ásia e Oriente Médio no século três.
A santificação do homem que o cristianismo propõe já foi discutida séculos atrás por um cristão dinamarquês de nome Soren Kierkegaard, que foi um filósofo que abriu um precedente à posterior filosofia existencialista.
Kierkegaard aponta de certa forma os anacronismos da exigência de uma postura santificada ao homem, advinda das religiões de sua época e das escrituras. A exemplo de como poderia o homem estar inserido em um mundo de tantas regras deterministas frente as destoantes deste próprio mundo. Santificação seria portanto algo muito bem escrito em teoria, ao passo que na pratica o homem, seguindo sua própria consciência, poderia dar o melhor de si e não viver em uma crise existencial de culpa e fracasso por aquilo que é incapaz de perpetrar.
Kierkegaard foi obviamente expulso de sua sinagoga e odiado por muitos, mas foi imprescindível para filósofos de peso como Heidegger, Camus, e Sartre.
Hoje o debate pode ser muito diversificado, Aquino obviamente está fora de seu tempo, já que Deus é concebido subjetivamente de formas diferentes e não deterministas. Sabemos que o mal e o pecado não existem, o que difere um homem do outro é apenas seu caráter, ao passo que seu nível de instrução intelectual (filosofia) o separa de medos infundados.

Um comentário:

  1. tenho que fazer um trabalho sobre : o que é que a visao do elefante tem para poder ser objecto de estudo numa aula de filosofia ?
    gostaria que me ajudasse. publicando aqui alguma coisa o mais rapido possivel ou enviando para o meu e-mail : carpintol_dred@hotmail.com

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