segunda-feira, 11 de outubro de 2010

A moral e religião como modelos de medo e prisão humana – Osvaldo


Por certo a retórica não pertenceu somente aos longínquos sofistas.
A arte de falar bem e também a arte de bem escrever, ao longo dos tempos, ganhou uma configuração do que podemos hoje chamar de ganho em causa própria, algo que está endemicamente inserido em todas instituições da humanidade, e quando muito, acobertadas pela “inexorabilidade” de sua premissas não passiveis de contestações.
Como na maioria das vezes o desejo das massas não é o desejo individual de muitos outros, esta confluência externa somente ressalta o caráter idiossincrático e deletério de suas ações sobre o progresso humano e sua aquisição do saber, saber este que ilumina os resquícios últimos de uma sôfrega e cambaleante proscratinação do homem à sabedoria, e o conhecimento de si mesmo, ao invés dos outros ditarem o que é e como deve ser o homem desde seu nascimento. Dentro desta lacuna entre o que é dogmático e o que é contingente, o homem só tem a perder.
Já que filosofia em seu sentido estrito, e não “tendencioso”, tende a abarcar toda forma de questionamento e pensamento, muitos diriam que padecemos por repetir constantemente os mesmos moldes históricos.
Poderíamos talvez criar nossa própria cultura, em vez de perseguir as culturas do passado, engolindo-as inteiras como um crocodilo engole um antílope, o que leva a uma completa inércia.
Com efeito, essa perene ação sobre o imaginário humano está diretamente relacionada ao medo do desconhecido,da falta de provisão, do abandono, e da mescla moderna entre o hedonismo e crenças que suprimem o potencial humano criativo, genuíno e inovador, que poderia levar o homem a sair deste círculo vicioso que se repete de tempos em tempos. Um homem de fato “novo”.
Nietzsche é implacável no que concerne a moral e sua historicidade. Com efeito, muitos de seus dizeres são de fato indagadores no exercício da filosofia.
A pesquisa nos mostrará que existem morais mas não “moral”, nenhum credo ou mesmo um reino onde a “bondade’ e a “verdade” possam reinar felizes para sempre. Isso nos levará finalmente para a mais difícil das verdades concernentes à moral segundo o autor: “não existem fenômenos morais, mas apenas interpretações morais dos fenômenos”.
Por exemplo, consideremos como julgamos uma pessoa “virtuosa”. Uma pessoa virtuosa (isto é, boa) é apreciada pelos outros pelo bem que ela faz a eles. As virtudes, obediência, castidade, imparcialidade, diligência, etc, na realidade são “dano” à pessoa que as possua. Segundo ele, se o homem possui uma virtude, ele é vitima dela. Assim, apreciamos a virtude nos outros porque tiramos vantagem dela.
No entanto, o poder do conceito de “virtude” continua sem desafiantes, talvez como a idéia da “culpa”. Embora os mais perspicazes juízes de bruxas e até mesmo as próprias bruxas estivessem convencidos de que elas eram culpadas de bruxaria, de fato não existia nenhuma culpa. Assim ocorrem todas as culpas.convicções morais, portanto, são sempre convicções de grupo, e o grupo é maior que qualquer indivíduo discordante. Com a moral, o indivíduo só pode dar valor a si mesmo como uma função do rebanho. O rebanho mais tarde se transformará em uma idéia central no pensamento de Nietzsche sobre as origens da moral.
Por certo a indagação central aqui fica no âmbito de se as idéias de moral são de fato o simples resultado do egoísmo humano e do impulso evolutivo de sobrevivência.
Por certo podemos dizer que os homens vivem em um turbilhão de sensações e alta volatilidade intelectual, este último apenas engendrado a partir de uma dialética e apreensão clara de sua existência, e por assim dizer, tudo que se assemelha ao absurdo, não encontra significância dentro de uma comunidade e seus parâmetros estabelecidos para a boa convivência.
Ética e moral, como disse anteriormente, é uma faculdade pertinente à razão, e desta provém certas confluências que, como dizia Pascal, “o coração tem razões que a própria razão desconhece”. Por certo os “lampejos” passionais estão para o “amoral” (não imoral) assim como a Ética está para a liberdade “livre” da passionalidade primitiva do homem mais incauto. Isto é bem socrático, platônico e aristotélico.
Penso que partindo-se de um pressuposto aristotélico da Ética em sua visão “comunitária” , aquele indivíduo que não se configura nos padrões estabelecidos pela maioria, está de certo fadado à suas próprias leis. Isto é moral, e em se tratando de Ética, que é algo desafiador no tocante ao próprio âmago humano, os “juízos” subjetivos estão de igual forma atrelados ao desenvolvimento racional/intelectual individual de humanismo, alteridade, contingência. Liberdade está então inserida neo em um contexto de livre de arbitrariedade, mas sim naquilo que a passionalidade não faz com que o homem não prejudique a si mesmo nem ninguém desta cadeia entrelaçada de humanismo.
A saber, aos que não compactuam com o solipsismo existencial, que apregoa que o mundo é uma ilusão a não ser de sua própria subjetividade, o existencialismo filosófico contemporâneo, em seu sentido estrito, vide Sartre, professa que esta filosofia em si também é um humanismo.
Se escutarmos apenas o galo cantando não se sabe onde, iremos imaginar que nesta singularidade existencialista podemos, ao som de “O homem está condenado à liberdade”, desfrutar de um grande bacanal de ações que visam somente ao nosso bel prazer. Errado! Pois esta liberdade é a obrigatoriedade de sempre “escolher”, em meio a muitas confluências exteriores.
O existencialismo é uma doutrina que nos aponta o homem com uma das maiores cargas de responsabilidade existenciais. Uma vez que a “existência precede a essência”, somos convocados a dar um sentido cotidiano em nossas vidas, nos configurando a cada momento singular de nossas existências como coadjuvantes não apenas de nossas ações responsáveis, mas também daquelas que visam, essencialmente, a alteridade (o outro), pois é somente sob o olhar do outro que nossa apreensão de existência se realiza.
Portanto já que estamos condenados a escolher, de dar significado à existência, isto engloba, por assim dizer, um “comunismo” no qual a atitude do outro não venha interferir com meus projetos pessoais. E como para a maioria, em especial na comunidade “Estado”, nossos interesses são basicamente os mesmos no que tange a pragmática de viver-se em sociedade, todos nós somos responsáveis também em âmbito macro, visando um mundo de melhorias sociais, estas que, em um âmbito existencialista pessoal, corroborará para meus projetos mais singulares, que não se resume em uma pueril e idiossincrática indagação acerca de roubar uma malinha de dinheiro ou não. Este exemplo e análogos, estão muito batidos, fazem parte meramente de uma possível filosofia cética e caótica da terra de ninguém, e onde o ser humano é desprovido de intelecto.
O campo da ética tem vislumbres de maior magnitude hoje do que estas puerilidades do homem que ainda não cresceu.
De fato a filosofia nos leva a vôos altos de uma liberdade de indagações e questionamentos.
A concepção de liberdade é muito efêmera. Se bem analisada em seu sentido estrito, nada mais é do que uma concepção apriorística .Não somos livres a nada, a não ser de fazermos nossas próprias escolhas dentro de muitos “determinismos”, os da própria existência que em seu âmago não é compreendida, ou dentro mesmo de nossa sociedade que em si nos remete aos fatalismos de diversas confluências organizacionais, sejam elas da moral dos “bons costumes” instituída, ou dos ditames do “além” que não encontram as necessidades de um homem pragmático em seu viver.
A Ética só tem um valor a partir da constituição social do próprio homem, seus modelos morais e suas “constituintes”, mesmo dentro de sua contingência.
Se a Liberdade nada mais é do que a escolha dentro das contingências, então a Ética está estritamente relacionada com as ações em que o homem deve escolher e a responsabilidade sobre tal. Talvez aí resida o que há de mais coerente em Ética, ou seja, de que suas ações serão as melhores para você ou não, visando também sua felicidade, tanto quanto daquelas que não levarão o outrem para o “buraco”, pois inadvertidamente, longe de um solipsismo existencial, somos uma malha na qual o outro, a todo instante, nos confere um caráter existencialista.
Ainda em se tratando de Liberdade, podemos inferir das grandes doutrina e teologias, que o homem não escapa do indissociável determinismo de que ele foi criado ao bel prazer de Deus e suas demandas autoritárias.
Oras, ao conceber um Deus castrador, a remissão do homem perante Ele só se dá em caráter de “aprisionamento”. Não há lógica que determine que uma moral teológica esteja estritamente ligada à liberdade de ser “contingente”. O pressuposto de que estarmos sempre buscando um objetivo “além” das questões humanas e terrestres nos libertará, é outro pseudônimo para a Liberdade, conquanto nossas ações mais “libertárias”, a exemplo do fardo social, não são aplicados no aqui agora, vide a procrastinação do homem referente a política, Estado e meio ambiente.
O pseudônimo de Liberdade também se encontra no âmbito social.Se os homens são em essência iguais, não o são em vontade, projetos e ambições, então a partir de uma necessidade inevitável, que foi a elaboração de uma sociedade e Estado, é notório que os desejos da coletividade não atendem os desejos individuais, derivando daí as confluências externas que exercem um “poder” sobre o homem e este inadvertidamente e “subliminarmente” encarna os joguetes das instituições de poder que, como se não bastasse, nos educa de forma a nos transformarem em seres autômatos através de um racionalismo instrumental, perdendo inclusive nossa capacidade de sujeito epistemológico no sentido stricto.
Poderíamos dizer que o homem de fato sempre esteve à mercê de si mesmo, pois os desígnios de Deus veementemente são de caráter incognoscível e, portanto, ninguém pode decifrá-los, o que nos remete ao fato de que o que se diz quando “Deus mandou fazer assim”, é muita pretensão humana. Fala-se de Deus como uma “individualidade” de parâmetros que podem ser captados em toda Sua Essência, como a mais sucinta explanação ontológica de Si mesmo.
É muito mais plausível filosoficamente abordar a liberdade no homem de maneira diversa da lógica maniqueísta para fomentar a ética do bem.
Nada podemos fazer, ao ter que tomar qualquer decisão, senão criar ou inventar nossa própria saída para nossos impasses, exercendo, assim, a liberdade e responsabilizando-nos pelas consequências de nosso ato. Mas essa liberdade está meramente situada entre todos os impasses de nossas vidas, pois não é uma liberdade em que podemos sequer evitarmos o “olhar crítico” de nosso outrem. Mesmo em uma selva, sozinho, todo o instante se constitui de tomadas de decisões que o projetam a um projeto, objetivo.
Nada viria em nosso auxílio para nos eximir, depois, da responsabilidade da decisão que tomamos. Nada teria ofuscado nossa liberdade, pois esta seria a única efetivamente obrigatória em nossa vida. Todos os atos, linguisticos ou não, seriam de nossa responsabilidade, e de mais ninguém.
Mas precisamos ater ao fato que, novamente, liberdade aqui não se refere à teoria caótica, mesmo porque em plena luz deste século, teorias existencialistas nunca foram tão aclamadas como agora para trazer o homem em torno de sua responsabilidade de fato, e isto significa que o ato responsável não está mais somente centrado nos diálogos da célula mater da sociedade e suas convenções.

Um comentário:

  1. Ola osvaldo. Ainda nao tah me seguindo né! rsrss.
    Belo texto. Abraços Erisvaldo Correia (junior)

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