quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Os gregos antigos e nossa atual educação falha- Osvaldo


O processo educativo engendrado desde a Paidéia homérica está inextricavelmente atrelado à sociologia da educação que largamente discutimos hoje.
Bem notamos que a partir de Sócrates, Platão, Sofistas, Aristóteles e Isócrates, a formação educacional tramita entre virtudes, prudência, força, temperança, harmonia na sociedade, discursos claros para todos e discursos de vantagens pessoais e pragmatismo mediante o papel social do homem.
No entanto, ainda se faz necessário salientar que nenhum debate se torna tão atual e verossímil quanto o da sociedade em que vivemos e suas idiossincrasias.
Hoje sabemos que o ideal educacional a partir dos gregos antigos sim vingou de certa forma, no que tange em especial o da oratória e o homem que é a medida de todas as coisas, fator este que se tornou “homem exclusivista”.
Estamos longe de uma educação que, em teoria, é minuciosamente análoga ao pleno desenvolvimento humano, dadas várias circunstancias.
Nossa sociedade nunca falou tanto em educação: violência, desemprego, aquecimento global, mudança de valores. É na educação que imaginamos encontrar a solução de todos os impasses que vivemos. Mas será que escola pode dar conta dessa enorme expectativa?
Que tipo de pessoa a escola busca formar? Enfim, o que é a escola hoje?
A escola é uma forma de educar que nasceu na Grécia antiga, com propósito de formar cidadãos, mas foi só com a modernidade que adquiriu o objetivo que tem hoje: formar mão de obra de qualidade.
Desde então, basicamente nada mudou. O modelo educacional que predomina ainda hoje no mundo foi influenciado pela revolução industrial, é como se a escola fosse uma linha de montagem como em uma fábrica.
Português, matemática, química, geografia, etc, são peças a serem encaixadas; no final da linha sai um produto para atender as exigências do mercado, um aluno formado.
Mas hoje diante do enorme desenvolvimento tecnológico, e ao mesmo tempo, o extremo caos social em que vivemos, precisamos nos perguntar: será que é apenas para o mercado que a educação deve nos formar?
A escola que nós temos ainda é aquela que parece que é o único espaço de construção do conhecimento científico, e não é.
Segundo o filosofo e educador Edgard Morin, a escola não lida com indivíduos, mas com uma massa de alunos.A escola não está montada para desenvolver a capacidade de cada um, apenas ensina conteúdos isolados, separados um dos outros sem relação com a vida, acumulando informações que se empilham, sem sentido.
Penso que não existe uma separação dos saberes, só fazemos isto metodologicamente.
Vivemos numa sociedade cada vez mais desigual, dividida, e nós não podemos nos omitir e achar que tudo isto não nos atinge. Costumamos falar de um ser humano violento, cruel, que destrói o planeta, que desrespeita o vizinho e a cidade. Mas não falamos de um novo cidadão e de uma nova "cidade", portanto mais do que nunca devemos nos perguntar: "Quem somos, quem queremos ser, e qual a ”cidade" em que queremos viver?"
Acho que está faltando um pouco de mobilização social por parte do homem, precisamos dar umas "chacoalhadas" aqui e acolá.
Perda dos instintos básicos de sobrevivência.
Como dizia Nietzsche, se quisermos produzir uma cultura vital autêntica, teremos de ser "menos" educados no sentido tradicional.
De fato o que acontece na sociedade é que o homem não está mais engajado com nada que vise sua promoção enquanto individuo "independente" de uma massificação.
Todos nós apenas agimos como se esperássemos algo ou alguém de forma "messiânica" que nos libertasse da atual condição em que nos encontramos. O homem ainda não tem consciência de uma autonomia em si mesmo e sempre age de acordo com os moldes estabelecidos em detrimento se sua razão crítica.
Vou aqui novamente citar Nietzsche quando ele disse que nós modernos não temos uma cultura para chamar de própria. Estamos cheios de artes, filosofias, ciências e costumes estrangeiros, o uso em abuso da "História" nos tornou enciclopédias ambulantes. A História é um peso morto para o presente ao assimilarmos o passado para fazermos nossa própria vida e cultura.
Agora aqui podemos discutir correlatos, intertextualidades e talvez soluções mesmo que elas sejam impossibilitadas de serem praticadas agora; bem mais do que apontar as falhas metodológicas do ensino como possível fonte singular do movimento da história até o dado momento.
Para mim parte do escopo deletério formativo e educacional do homem ainda se encontra em movimentos históricos/filosóficos na sociedade que cunharam um "proceder" no homem que o desconecta inteiramente se seus atributos de autonomia impregnados pela noção não constituinte de sua ordem ontológica e social. Devemos muito isto a Platão, neoplatonismo e à escolástica por desviarem o homem de seu escopo existencial e traçarem os liames de dependência de um absolutismo que por sua vez mais tarde foi também a do estado e dos homens que representam o poder.
Através da reviravolta da metafísica realizada por Nietzsche, somente resta uma mudança em direção à sua própria desordem e falta de essencialidade.
Heidegger, interpretando Nietzsche, nos diz que para ir além desse estágio é necessária uma nova relação com a "verdade", e para Heidegger isto seria uma nova relação com o ser também.
O homem está à espera de um milagre.
Não existe mais um senso comum que observe estas desordens.
A "superação" do homem é de fato a superação de si mesmo, o domínio de seus próprios desejos e o uso criativo de seus poderes. A força de vontade pode superar o maior poder das armas, e, no entanto a superação mais difícil será a superação de si mesmo. Aquele que não pode obedecer a si mesmo será comandado.Que pena que a sociedade seja tão passiva.

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