quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Existencialismo e Freud (baseado em texto diverso)


Parto de Sartre, ao refutar a idéia de causas inconscientes dos fatos psíquicos; para ele tudo que está na mente é consciente. Rompe-se desta forma com a psicanálise por ela retirar a responsabilidade do indivíduo ao invocar a ação de uma força subconsciente e estados mentais inconscientes, que para Sartre, não existem. A consciência é necessariamente transparente para si mesma.
Todos os aspectos de nossas vidas mentais são intencionais, escolhidos, e de nossa responsabilidade, que é incompatível com o determinismo psíquico postulado por alguns autores.
Teríamos de atribuir a repressão inconsciente a alguma instancia dentro da mente , como a censura, que distingue entre o que será reprimido e o que pode ficar consciente, de forma que essa censura tem de estar a par da idéia reprimida a fim de não estar a par dela. Portanto, o inconsciente não é verdadeiramente inconsciente.
Por isso penso que não podemos usar "o inconsciente" como va´vula de escape parameu comportamento. Mesmo que não possa admitir para im mesmo, eu estou consciente e escolhendo. Mesmo na decepção que sofro, eu sei que sou eu aquele que me decepciona, e o assim chamado "censor" de Freud deve estar consciente para saber o que reprimir.
Ao usarmos o inconsciente como desculpa do comportamento, acreditamos que nossos instintos, nossas inclinações e complexos constituem uma realidade que simplesmente é; que não é verdadeira nem falsa em si mesma mas simplesmente real.
De certo esta proposição de Sartre é uma linha dura, pois não trata de nenhum dualismo o qual o ser humano se locupleta ao fugir de suas questões existenciais e seu real papel de responsabilidade perante o mundo enquanto forma e humanidade.
Penso que muita das idiossincrasias vista na humanidade são dadas ao fugir deste escopo de responsabilidade ontológica; da alta "voltagem" que constitui a obrigação imediata do homem de arcar com os danos de sua própria casa que engloba todo o outro, longe do solipsimo que lhe nega sua alteridade.
Somos responsáveis também por nossas emoções, visto que há maneiras que escolhemos para reagir frente ao mundo. Somos também responsáveis pelos traços de nossa personalidade. Não posso dizer "sou tímido", como isso fosse um ato imutável e inextricavelmente pré-determinado ao meio; uma vez que nossa timidez representa a forma como agimos, e que podemos escolher agir diferente, pois na vida nossos atos se definem, o homem se compromete, desenha seu próprio retrato e não há mais nada senão este retrato.
O que sobra são ilusões e imaginação a nosso respeito, sobre o que poderíamos ter sido, que são decepções auto-infligidas.
Por isto citei o papel de uma "psicologia" mais voltada ao escopo existencialista, que é um movimento que se aflora hoje.
Eu mesmo, em minhas grandes indagações existenciais, sempre em relação a sociedade, nunca encontrei tantas respostas no existencialismo que em diversas terapias que discorriam em eterna procura de meu "self".
Senti-me bem melhor ao assumir minhas "responsabilidades"; tentando definir, sem aspectos causais, a mim mesmo.
Isto não é uma forma de solipsismo, para maior esclarecimento consulte "Sartre e o Humanismo".

domingo, 27 de dezembro de 2009

Do suicídio (Osvaldo)


Boas referências ao tema também se encontram no livro "O mito de Sísifo" de Camus, que ao meu ver também é de maior compatibilidade e congruência ao tema por se tratar de uma abordagem existencialista. Na obra ele também começa citando que só existe um problema absolutamente sério e este é o suicídio, e cita também a questão do "absurdo", uma ótima literatura, embora às vezes um tanto prolixo demais.
Penso antes de qualquer coisa que devemos nos certificar das causas medicinais, da psiquiatria, que hoje claramente "diagnostica" um ímpeto de vontade suicida se o mesmo for de ordem de desajustes bioquímicos e advindos de estados depressivos profundo; pois qualquer banalidade que não seja de ordem "existencial" também é motivo de depressão.
Creio que o homem moderno mais do que nunca se defronta com estados de "lampejos" frequentes acerca de sua existência; e isto se dá ao fato da saída de um estado contemplativo em oposição ao mergulho puramente racional dos menos preparados a viver suas vidas sem um auxílio metafísico, no sentido da garantia do determinismo do homem e seu post mortem.
O homem vive cada vez mais cercado de estímulos que o leva a um foco fora de si; o hedonismo não é um "amuleto" de auto-suficiência que corrobora com a sensação de bem estar permanente, e até lembrando da metafísica da vontade de Schopenhauer quando este cita a efemeridade dos desejos humanos.
Pois bem, então penso que é dado um momento de nossas vidas, ou vários deles, que nos assombramos com o sentido da própria existência independentemente de sermos filósofos, religiosos ou cientistas. Mas pior ainda é quando hoje estamos envoltos de uma realidade social que não se explica em si mesma; o homem passa a ser seu pior inimigo, resultado de um movimento histórico do absoluto almejo do "fora-de-si" ontologicamente dizendo.
A consciência do homem enquanto ser social, gregário, e constituinte de seu próprio meio, desvirtuou-se ao longo do tempo no sentido de negação de si mesmo em auto-análise.
Sempre se tratou o suicídio apenas como um fenômeno social, mas penso que ao contrário, trata-se da relação entre o pensamento individual e o suicídio. Um gesto desses se prepara no silencio do coração como uma grande obra.
Começar a pensar é começar a ser atormentado. A sociedade não tem muito a ver com esse começo, a não ser pela promoção dissociativa do homem de seu meio que o torna cego à questões mais pragmáticas de seu cotidiano, porém, não obstante, penso que exista uma má sinergia do homem contemporâneo entre o pragmatismo enquanto cumprimento de seu papel social e uma má fé no mesmo quando este deveria ser antidogmático.
Há vários motivos para o suicídio, em sua maioria motivos "superficiais". A noção de "Absurdo" que trata Camus, do "Nada", da "Angústia" e "Inautenticidade" de Sartre, são interpretados com má fé ou concebidos tardiamente e equivocadamente.
Raramente alguém se suicida por reflexão. O que desencadeia a crise é quase sempre incontrolável. Torna-se então difícil o instante preciso, o percurso sutil que o espírito apostou na morte, é mais simples extrair do gesto em si as conseqüências que ele supõe.
Matar-se, em certo sentido, é como um melodrama; confessar que fomos superados pela vida ou que não a entendemos, que isto "não vale a pena".
Penso que viver, de certa forma, não é fácil, mas refutar a vida em meu conceito é um ato de covardia. Continuamos fazendo os gestos que a existência impõe por muitos motivos, o primeiro dos quais é o costume, de um caráter ridículo, ausência de um motivo profundo, de caráter insensato da agitação cotidiana e a inutilidade do sofrimento.
O "Absurdo" existencial talvez ocorra de forma mais clara no confronto da razão que é insuficiente para o homem formular todos os aspectos existenciais e volitar em diversas hipóteses, pressuposições e proposições da mesma. É dado ao homem em sua grande maioria se apegar a uma "fé" somente que lhe norteie a vida.
Permanecendo ainda em uma questão existencialista, penso que o homem deve rejeitar o suicídio na medida em que assume um estado de revolta e aceita o caráter absurdo da vida, de forma "suficiente", aceitando suas contingências.
Schopenhauer parte de um caráter mais profundo porque sai de um fundamento metafísico, da doutrina da negação do querer viver É estranho o fato de Schopenhauer "negar" o ato suicida tendo em vista toda uma analogia ao niilismo passivo e ressentido em relação à vida, se fizermos um certo correlato, ele e Camus de certa forma comungam com algumas coisas; pois me parece que para um schopenhaueriano a vida também é absurda, mas seu caráter é menos denso do que para um ateísta que não acredita em uma metafísica que seja, mesmo que de cunho pessimista.
Não poderia deixar de finalizar com Nietzsche quando ele cita o "amor fati", o niilismo ativo:
"Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás passar, para atravessar o rio da vida - ninguém, exceto tu, só tu.
Existem, por certo, atalhos sem números, e pontes, e semideuses que se oferecerão para levar-te além do rio; mas isso te custaria a tua própria pessoa; tu te hipotecarias e te perderias.
Existe no mundo um único caminho por onde só tu podes passar.
Onde leva? Não perguntes, segue-o!"
A vida exige que se enfrente sofrimentos, incógnitas e obstáculos sem fim, entretanto, ela é cheia de mistérios e tesão que, inexoravelmente, nos fazem até estarmos aqui debatendo estes temas, ao menos por enquanto; pois não nos esqueçamos que podemos dizer não a tudo isto e viver ordinariamente.
Não vamos também nos esquecer do suicídio mental, que é um problema de maior cunho iminente.
Bem, o termo suicídio mental ou intelectual me veio como insight na hora que escrevia o texto do tópico aqui,
Eu penso que toda fuga que o homem possa ter referente a sua condição enquanto "ser-no-mundo", se traduz como um suicídio intelectual, da aquisição de valores fúteis e volatilidade se si e de teorias, em detrimento de sua razão frente a ilusões adquiridas e vivenciadas "ipsis-litteris" dos fenômenos dados à consciência.
Ao se discutir a questão do sentido do ser, a fenomenologia compreende a verdade com um caráter de provisoriedade, mutabilidade e relatividade, radicalmente diferente do entendimento da metafísica que pressupõe uma condição estável e absoluta.
Esta é uma das razões de dizer que a fenomenologia é uma postura ou atitude, um modo de compreender o mundo, e não uma teoria, um modo de explicar.
Isso em ultima análise, representa o rompimento do clássico sujeito/objeto.
Para além desta minha menção acima, podemos no referir às marteladas de Nietzsche no quesito temporalidade de conceitos e desnivelamento intelectual do homem.
A coadunação do homem com o sistema vigente e a hiper realidade, sem a desconfiança mínima de um caráter malicioso que jaz por detrás disto, o leva ao ordinário, se locupletando no trivial e banal. Desta forma o homem se conforta em um estado de realidade "forjada", um simulacro, que deleta de sua mente quaisquer resquícios de crítica mediante tais fatos; sua racionalidade é também volátil e tende a dar as mãos com a melhor e menos custosa das aquisições enquanto objetos para o sujeito, uma zona de conforto intelectual que se resume na imbecilidade do ser humano.
Viver autenticamente é viver na plena consciência da nulidade do próprio ser, e plena consciência da nulidade significa estar certo de que nosso futuro é a morte.
De fato nossa "natureza" também é nada até que um caráter é escolhido. Somente desse modo podemos viver autenticamente em termos existencialistas.
Voltando ao assunto do suicídio, penso que indubitavelmente o homem é assolado por este fantasma do "Nada", ou um estado de ansiedade e angústia.
A ênfase de Nietzche no papel fundamental da "vontade" fornece a base do pensamento existencial, uma filosofia de "liberdade" desejada e o inescapável fato da escolha humana mediante a nulidade, e a fenomenologia visa uma austera inspeção dos conteúdos lógicos da mente, que Heiddeger usa para investigar estados extremos de ansiedade, preocupação, autenticidade e o nada.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Esperança na educação? (Osvaldo)


Nossa sociedade nunca falou tanto em educação: violência, desemprego, aquecimento global, mudança de valores. É na educação que imaginamos encontrar a solução de todos os impasses que vivemos. Mas será que escola pode dar conta dessa enorme expectativa?
Que tipo de pessoa a escola busca formar? Enfim, o que é a escola hoje?
A escola é uma forma de educar que nasceu na Grécia antiga, com propósito de formar cidadãos, mas foi só com a modernidade que adquiriu o objetivo que tem hoje: formar mão de obra de qualidade.
Desde então, basicamente nada mudou. O modelo educacional que predomina ainda hoje no mundo foi influenciado pela revolução industrial, é como se a escola fosse uma linha de montagem como em uma fábrica.
Português, matemática, química, geografia, etc, são peças a serem encaixadas; no final da linha sai um produto para atender as exigências do mercado, um aluno formado.
Mas hoje diante do enorme desenvolvimento tecnológico, e ao mesmo tempo, o extremo caos social em que vivemos, precisamos nos perguntar: será que é apenas para o mercado que a educação deve nos formar?
A escola que nós temos ainda é aquela que parece que é o único espaço de construção do conhecimento científico, e não é.
Segundo o filosofo e educador Edgard Morin, a escola não lida com indivíduos, mas com uma massa de alunos.A escola não está montada para desenvolver a capacidade de cada um, apenas ensina conteúdos isolados, separados um dos outros sem relação com a vida, acumulando informações que se empilham, sem sentido.
Penso que não existe uma separação dos saberes, só fazemos isto metodologicamente.
Vivemos numa sociedade cada vez mais desigual, dividida, e nós não podemos nos omitir e achar que tudo isto não nos atinge. Costumamos falar de um ser humano violento, cruel, que destrói o planeta, que desrespeita o vizinho e a cidade. Mas não falamos de um novo cidadão e de uma nova "cidade", portanto mais do que nunca devemos nos perguntar: "Quem somos, quem queremos ser, e qual a"cidade" em que queremos viver?"

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Da música como arte que transcende (Osvaldo)


Schopenhauer e a música, que eu tanto gosto. Os méritos vão para ele nessas afirmativas quando o mesmo a elucida como uma via de atenuar a "vontade", e sem sombra de duvida o mérito de expor a música como uma das mais importantes das artes e seu efeito sobre o homem é dele.
Nietzche recorda a velha lenda na qual o rei Midas procura Sileno, o companheiro constante de Dionísio, e lhe pergunta: "Qual é a maior felicidade do homem?" O demônio permanece mal-humorado e sem se comunicar, até que finalmente, forçado pelo rei, solta um riso agudo e diz:
"Patife efêmero, nascido por acidente e trabalho árduo, por que me obrigas a dizer-te o que seria tua maior benção não ouvir? O que seria melhor para você está bem fora de seu alcance: não ter nascido, não ser, ser"nada". Mas a segunda melhor coisa é morrer cedo!"
Como a cultura helênica suportou essas terríveis verdades? Com a ajuda de outro deus: Apolo.
Apolo, o Sol, deus da ordem e da razão, incorporado no sonho da ilusão, representa o homem civilizado. O culto apolíneo gera otimismo.
Sua insistência na forma, na beleza visual e na compreensão racional ajuda a fortificar-nos contra o terror dionisíaco e o frenesi irracional que ele produz.
Para serem capazes de viver os gregos deviam colocar diante de si mesmos a brilhante fantasia do Olimpo, com Apolo como seu maior deus. Autocontrole, autoconhecimento e moderação: o caminho do meio de Aristóteles.
Nietzche pergunta então que efeito estético é produzido quando as forças da arte e apolínea e dionisíaca, usualmente separadas, são forçadas a trabalhar lado a lado. Ou para dize-lo de forma mais precisa, em que relação a música se coloca frente à imagem e ao conceito.
A melhor resposta estaria com Schopenhauer:
"a musica se diferencia de todas as outras artes pelo fato de que não é uma copia do fenômeno, mas uma copia direta da própria vontade."
Ainda ao meu ver coadunando com Schopenhauer, Nietzche diz que a arte dionisíaca, portanto, afeta o talento apolíneo de uma maneira dupla. Primeiro, a musica nos incita a uma intuição simbólica do espírito dionisíaco, em segundo lugar, dá aquela imagem de significação suprema.
O espírito dionisíaco na musica nos faz entender que tudo que nasce deve ser preparado para enfrentar sua dolorosa dissolução. Ele nos força a olhar fixamente o horror da existência individual, porém sem sermos transformados em pedra pela visão.

Crítica ao cristianismo (Osvaldo)


Soa um tanto "romântico" e abstrato demais ainda o fato do homem estar à procura de uma síntese que o justifique em sua existência além daquela que o recoloque em seu papel social, interpessoal e constituinte de uma coletividade.
Eu penso que toda e qualquer abstração ou proposição que tenha implícito uma ordem de incognoscibilidade para o homem apenas o afasta de sua própria compleição enquanto ciência de si mesmo e perda de suas matrizes instintivas.
Dada qualquer circunstância que nos leve para um atributo de atemporalidade, este ainda nos remete a simples contingências que nos desconectam de um estado contemplativo de sermos "solistas" para engendramos nossa própria historia concomitantemente com o tempo a nossa frente; excluindo ou atenuando desta forma um maior vislumbre do bojo existencial ao qual somos inseridos na qualidade de humanos, e da mesma forma sermos menos resistentes a "frustrações" que, em nossa existência, se contrapõem a "idéias" nas quais subjazem certas explanações categóricas que ilustram o ser humano de forma reducionista; esquecendo das premissas ontológicas num sentido mais existencial.
Não adoto nenhuma postura que seja puramente "externa" a mim; ao menos tento preservar o fato de que enquanto homem preciso cotidianamente dar um sentido a tudo e reinventar-me.
Penso que a cultura é nossa meta mais importante, poderíamos perguntar o que acontece com as teorias metafísicas que especulam sobre a natureza fundamental da realidade usando apenas a razão. A possibilidade absoluta da metafísica dificilmente pode ser discutida, portanto também não posso ser radical ao extremo, partindo do pressuposto que tudo está no crivo da razão humana.
Apenas penso que teorias que tentam responder a esta questão estão fora do escopo da investigação humana. Historicamente, esta questão sempre exerceu um fascínio sobre os filósofos, mas que ganhamos ao especular o tempo todo a existência de uma dimensão metafísica? Por que?
Porque somos habitantes de um mundo físico, somente aqui nossos pensamentos e desejos têm uma aplicação; e é através deste processo que o homem deve se aprimorar cada vez mais tendo ciência das idiossincrasias perpetuadas por ele mesmo; e não advindas de uma realidade subjacente; forças antagônicas que anulam o potencial humano e o reduzem ao cataclismo especulativo e escatológico.
O homem precisa bem mais de motivação de suas capacidades latentes do que o constante levantamento de suas temeridades.
Eu mesmo nada posso afirmar em relação à existência de Deus, me posiciono em um patamar agnóstico; nada, além disso.
Carl Seagan: " A ausência de evidencia não evidencia a ausência".
Mas sigo Nietzsche no que diz respeito ao cristianismo como um todo, e toda outra religião de massas. Defendo de certa forma a filosofia budista, sou simpático ao movimento de Richard Dawkins e na questão virtude sigo o raciocínio do amigo Jório.
Mesmo dada existência de Deus, não se pressupõe que o homem tenha que se lograr nesta fé para ter sua formação social e altos valores apreciativos para com seu semelhante, portanto digo novamente que "existir" é o que importa, nossos maiores problemas sociais estão veementemente truncados com uma metafísica não somente das más interpretações de livros sagrados, dogmas e ditames escatologicos e apocalípticos que inculcam uma má fadada moral e virtude para com o outrem, mas também porque o homem é temeroso e covarde de sua própria historia de mundo, de seu existir.
Eu li uma trilogia literária um dia que se chama "Conversando com Deus", que creio que seja uma obra muito rica e para além de nosso tempo para quem quer se livrar do conceito de "demiurgo" do velho barbudo sentado no trono dos céus. O que extrai ainda desta obra é um papel existencial do ser humano, pois deus não vai interferir na tua vida, na minha e de ninguém aqui; você é dado ao mundo, faça sua existência; pois suas ações são inexoravelmente marcas no todo da coletividade, sejam elas boas ou ruins.
Existencialismo também é humanismo.
Bem, vou entrar aqui em defesa de Schopenhauer e sua primazia sobre a ética cristã, isto na minha opinião é singular, pois é dada a natureza humana se referir ao outro e entendo que isto está inserido de certa forma na "compaixão" que cita Schopenhauer.
Agora, Rodrigo meu caro, longe se soar uma atribuição que lhe estou dando, percebo um proselitismo de tua parte ao defender o cristianismo.
Ao que me parece, até bem pouco tempo atrás e inferido de suas postagens passadas, você simpatizava com as "marteladas" de Nietzche acerca da moral estabelecida; e esta é veementemente associada ao transcorrer do cristianismo em nossa historia de humanidade, uma mancha sem precedentes na qual o ser humano foi desprovido de toda sorte de auto-crítica em prol de um sistema infame, pífio, hediondo, expoente do irracionalismo humano e suas idiossincrasias no que refere a uma alteridade do ser humano somente em função de seu ego salvo pelas indulgências do pai e do filho.
Refuto seu pressuposto que na moral cristã estão os exemplos de "valores" humanos, pois estes são em função da "pseudo" salvação do próprio homem, ainda um expoente egóico em detrimento das reais motivações para o bem comum, ou seja, não há a necessidade de uma moral cristã ou outra que seja estabelecida para fundamentar o homem enquanto pré-determinismos para o embate entre o "bem e o mal".
É impossível que toda o boa ação humana seja por causa de uma moral cristã tão somente, ao meu ver, como um existencialista, isto seria apenas uma linguagem para se realizar o desejo, uma ação voluntária inerente ao ser sem o escopo de uma determinação.
Na própria filosofia temos vários autores que mesmo sem a concepção de um criador formulam exemplares passagens acerca de um humanismo.
o cristianismo tolhe completamente o homem, assim eu refuto veementemente este conceito.
Se eu hoje tiver que dar um conselho para alguém que quer seguir uma religião, que este seja budista.
A imagem de Deus está diretamente e inexoravelmente relacionada a uma antropormofização do mesmo como ente paralelo e demiurgo em relação ao ser humano; esta é a carga cultural que todos temos, e vejo em Nietzsche um expoente ao atacar essas mazelas da maior massificação religiosa que existiu.
Eu mesmo já fui evangélico por forças das circunstancias quando era criança, depois fui católico, espírita e tudo foi passando pelo crivo de uma crítica sob a luz de um raciocínio não extemporâneo da realidade que o homem se encontra. A religião e seus conteúdos são meramente muletas existenciais ao homem fraco e acovardado mediante seu existir.
Como já lhe disse, Deus não iria, se fosse o caso, interferir nas ações humanas e tampouco Cristo, pois se você acredita que foi "dado" a existir por parte de uma pré-determinação, dentro disto ainda você iria se defrontar com suas questões existenciais (vide Kierkegaard).
A volatilidade e alta tensão que o ser humano encontra comparados com as premissas evangélicas são inconcebíveis no ponto de vista existencial. Mesmo partindo do pressuposto da vida de Jesus Cristo e sua passagem "existencial" até sua crucificação, ainda resta ao homem ou indagar acerca do absurdo existencial ou dar um salto de fé no fundamentalismo religioso, que via de regra é cego e anárquico no sentido de instintos represados; se fores um homem não tens vocação à santidade, pois esta está em fabulas fictícias somente.
Por que você acha que seria conveniente ao homem ter este conceito "evangelizador"?
Convicções morais de ordem religiosa são, portanto, sempre convicções de grupo, e o grupo é maior que qualquer indivíduo discordante. Com a moral, o indivíduo só pode dar valor a si mesmo como uma função do rebanho. A censura e o controle moral somente podem surgir através do consenso social.
Ela representa o poder daqueles que são individualmente fracos, mas coletivamente fortes. Suas leis os protegerão (eles esperam), assim como justificarão o seu modo de vida.
Não ter a certeza desta metafísica religiosa, ou mesmo nega-la, apresenta um terrível e ao mesmo tempo hilariante pensamento. Terrível porque mos sentimos abandonados por nosso antigo protetor, e ao mesmo tempo hilariante porque subitamente nosso mundo se abre ao infinito. "Qualquer coisa" agora é imaginável, qualquer aventura temerária do conhecimento está permitida outra vez.
Não há nada natural na religião organizada. Pode-se substituir a palavra "natureza" por "neurose", pois não vejo nada natural nisto. A história viu numerosas "epidemias" religiosas (por exemplo, a inquisição, o fundamentalismo, a auto-flagelação corporal e psicológica), mas a aflição, a angustia, o absurdo sempre existiu em algum nível no ser humano.
Resta ao ser humano que tenta refutar a fé cristã um profundo sentimento de condenação por sua própria razão, uma temeridade e temor; parece, de uma maneira terrível, um prolongado suicídio da razão; pois a fé cristã desde o começo é sacrifício, escatologia temerária para o homem, sacrifício de toda liberdade, toda autoconfiança de espírito, e ao mesmo tempo escravidão e auto-escárnio, automutilação.
Kierkegaard embora cristão chamou a fé de "divina loucura", um "absurdo" que requeria um "salto" sobre nossa capacidade de raciocínio. Uma condição de que nenhum desespero existe e também uma formula de acreditar, ou está transparentemente ligado ao poder que o constitui; mas é auto-sacrifício outra vez; neste caso, para salvar seu espírito do desespero.
O homem faz o máximo de seu sofrimento, mas ironicamente, existem elogios à religião quando ela serve ao homem comum. A maioria dos seres humanos encontrará grande consolo nos ensinamentos religiosos.
"aos mansos e humildes será dada posição igual que os mais importantes da terra"; "todos são iguais aos olhos de Deus"; "nossos sofrimentos atuais são uma apólice de seguro para a felicidade futura".
Acreditar em tais idéias traz contentamento para os homens. É necessária uma vontade FORTE para dizer NÂO quando tanto está sendo oferecido.
Desde que existem os seres humanos existem também os rebanhos humanos (grupos familiares, comunidades, tribos, nações, estados igrejas), e sempre muitos que obedecem, comparado com o pequeno número daqueles que ordenam; considerando, por assim dizer, que até agora foi praticado e cultivado entre os homens de forma melhor ou por mais tempo do que a obediência, é justo supor que como regra, ter uma necessidade dela é, por agora, algo inato, como um tipo de "consciência formal" que ordena: você tem que fazer isso incondicionalmente, e incondicionalmente não fazer aquilo, em poucas palavras, uma obrigatoriedade.
Esta necessidade procura ser satisfeita e preencher suas formas com conteúdo: fazendo isso ela agarra tudo a sua volta sem pensar, de acordo com o grau de sua força, impaciência e tensão, como um apetite bruto, e aceita qualquer coisa que qualquer comandante, pai, professor, lei, preconceito de classe, opinião publica, gruta aos seus ouvidos.
O conceito de bem e de mal está inextricavelmente unido à moral cristã; em uma época anterior (pré-moral?) não teria utilidade para o conceito. Aquilo que uma época considera ser o mal é usualmente um eco posterior e extemporâneo daquilo que anteriormente era considerado o bem, o atavismo de um ideal mais antigo.
Desta maneira a mágica, a ausência de deus. A adoração de falsos deuses (satanismo?), o comportamento irracional (esquizofrenia?), o erotismo, foram todos classificados como fenômenos "do mal" do ponto de vista do grupo em uma outra época. Isso porque eles elevavam o individuo acima do grupo, ameaçando a maioria. Que essa ameaça seja chamada de mal!
Por fim peço desculpas se meu texto soa um tanto "acirrado", mas eu particularmente esperava uma crítica sua longe da sombra do cristianismo; ao invés de usa-lo como um fim. E sua suposição de que a bíblia foi alterada, eu diria que ela só existe a partir de seus fundadores sob uma razão coercitiva mediante mistérios insondáveis da natureza humana; é a pior obra que já existiu na vida.
As criticas em relação a Nietzsche mostram duas vertentes; ou você de fato é cristão ou, como a maioria das pessoas, lê-se mais de Nietzsche do que ele realmente escreveu, e o acusa de formar até o nazismo pela precariedade de quem lê de ordem hermenêutica.
A crença evangélica e as igrejas que a ela representa, não são mais naturais para mim. Com os evangélicos e católicos de carteirinha não há diálogo saudável e sustentável; pois eles são "delirantes" a ponto de dar medo e de não querer gastar meu latim.
Um exemplo disso é que o fundamentalismo cristão das pessoas não nos permite uma aproximação "fraterna" sem que elas tirem seus "óculos" da moral de cristo todo poderoso. Não há meio termo aqui, compreende? Ser cristão é inexoravelmente estar preso em uma camisa de forças da irracionalidade humana.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Da auto consciência da mulher na sociedade (Osvaldo)


O fato é que (uma observação minha) eu percebo uma certa constância das mulheres em geral, não todas, levarem muito as elucubrações filosóficas antes por um crivo deveras emocional; isto é percebido em muitas comunidades.
Um pensamento raso meu com toda certeza. Mas ainda quero tentar provar o contrario.
Já fiz convites a algumas delas, de outras comunidades, mas até agora uma velha conhecida se prontificou, e foi bem autentica dizendo que só dará futuras contribuições quando estudar mais acerca de Schopenhauer.
Não obstante, é desnecessário citar o escárnio de tantos filósofos sobre elas, algo que não concordo muito, ou em quase nada; pois se inserem na questão de "ontologia" assim como nós os homens; portanto talvez a importância do existencialismo para todos nós, quando este se resume também em "humanismo"; ao menos o de Sartre, que com sua companheira, de modo de um não interferir no outro, teve uma grande crítica ao seu lado!
Uma é a inexorável questão de sentimentos que impregnam as mulheres no que se refere à sua composição e o papel que lhe foi "concebido" ao longo das eras.
Não precisamos nos basear em filósofos e nem em axiomas aqui para tal; pois mesmo perante uma observação constante de seus atributos, comportamentos, e anseios; podemos inferir como ela se "apercebe" no meio social.
Hoje a mulher mais do que nunca procura sua autonomia em contrapartida ao "poder" masculino estabelecido; já não são meras donas de casa, e menos que isto, subservientes ao homem no papel esposa.
Não raro, nos deparamos com algum homem que não se sinta "ameaçado" com a análoga inteligência feminina; ou o desconforto por estas não seguirem mais seus padrões de outrora quando o flerte era proveniente do homem no geral; ou seja, a mulher frente à seus desejos sexuais é sinônimo de "promiscuidade".
Ao meu ver, há muitos resquícios em todas as partes de machismo e autoritarismo por parte dos homens que ainda sufocam uma inconsciente tomada de atitude da mulher em seu real posicionamento no "estar aqui", no "vir a ser".
Podemos também citar o existencialismo, que de seu pressuposto da liberdade das nossas tomadas de atitudes mediante os estratagemas do "mundo" e "consciência" de estória de vida, a maioria das mulheres talvez sempre preferiram e preferem optar pelas "estórias" que foram e são precedentes de sua atual condição mediante a sociedade; ou seja, o "formato" daquilo que já conhecemos. Muitas outras vão preferir optar em dizer que "o inferno são os outros" também quando se mobilizarem em causa própria; mas mesmo neste parâmetro tanto o homem como a mulher não pode se dissociar um do outro, pois se "precisam" mutuamente para este "menu" de opções no qual na sociedade os outros são nossos "observadores" enquanto sujeitos.
Eu particularmente penso que a elas não foram dadas as oportunidades iguais à de um homem; seja no seio familiar, seja por processos de repetição de modelos impregnados, tanto em nível de "inconsciente coletivo".Em suma: uma matrix exclusivamente feminina. rs...rs..., ou uma alusão à alegoria da caverna de Platão na qual as mulheres não se apercebem de seus reais e melhores atributos; uma evolução de personalidade estagnada e de forma até equivocada se si mesmas.
Mas a realidade é esta e as idiossincrasias "colaterais" do sexo frágil estão aí.
Raramente a mulher foi citada no passado como uma filósofa, salvo algumas personalidades que passam desapercebidas até na historia da filosofia; que na maioria das vezes não tiveram um final feliz. Talvez se adotássemos o método desconstrutivista para esta analise poderíamos achar mais elementos; ou então perguntemos, se assim fosse possível, para "Simone de Beauvoir", Marilena Chauí (apesar desta ser muito tendenciosa) e Viviane Mosé; intelectuais que eu admiro muito.
Alguns outros dados para complementar minha postagem anterior; pois penso que aqui de fato a questão da mulher deva "transcender" pressupostos temporais, e creio que no Existencialismo isso é possível de se "realizar" ao menos no intento de questionamentos mais profundos.
Simone de Beauvoir influenciou muito Sartre e foi uma figura importante do Existencialismo. No entanto, talvez seja mais lembrada por sua influência no feminismo.
Seu livro seminal "O segundo sexo" iniciou uma nova onda de feminismo que também questionava a filosofia e sua incompreensão da natureza histórica e específica da opressão da mulher. De Sócrates a Sartre, a questão da mulher havia sido filosoficamente invisível. Isso era muito estranho, já que as mulheres pareciam constituir uma grande parte da humanidade. A pergunta "o que é uma mulher?" perturbava os filósofos.
Sartre acreditava na liberdade, a liberdade de tomar decisões, de dar "saltos" existenciais para o desconhecido. A pergunta de Simone em "O segundo sexo" era: como explicar a eterna opressão das mulheres se todo mundo tinha essa liberdade? Seria uma opção delas?(coadunando com minha postagem anterior) ou esse potencial de liberdade seria meio ilusório, especialmente para a mulher?
A filosofia pretendia ter respostas para tudo, mas nem sequer fizera a pergunta. Esse era realmente um problema importante que não acabaria.
Se a filosofia concebia a mulher como "outro" em relação ao homem, e, portanto, como subserviente, a própria filosofia estava deixando de conceituar as condições sob as quais operava. Estava tão cega quanto os homens na caverna de Platão.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Richard Dawkins contra a religião (Osvaldo)


De antemão digo que é interessante a idéia de trazer os céticos que estão na "berlinda" a um debate mais elucidativo acerca da razão de adotarem esta posição, tendo bases sólidas para também argumentarem em seu favor mediante o fundamentalismo religioso e proselitismos.

"Ele também defende e divulga correntes como o ateísmo, ceticismo e humanismo. Também é um entusiasta do movimento bright e, como comentador de ciência, religião e política, um dos maiores intelectuais conhecidos no mundo. Esses assuntos são devidamente retratados em seu mais recente livro, "Deus, um delírio", livro que já é best-seller em vários partes do mundo. Através de diversos fatos científicos, Dawkins nos mostra sua idéia da inexistência de Deus. Em enquete realizada pela revista Prospect em 2005, sobre os maiores intelectuais da atualidade, Richard Dawkins ficou com a terceira posição, atrás somente de Umberto Eco e Noam Chomsky"

Bem, penso que muitos estão um pouco "enfadados" e tolhidos com essa conversa fundamentalista religiosa e metafísica. Acho que o ponto crítico do livro é a questão do fundamentalismo religioso, pois Dawkins mesmo alega não poder provar veementemente a inexistência de Deus, mas também tenta inculcar o porque de acreditar; em que bases? Como pode ser racional alguém atribuir a uma criança em formação uma religião? Que arbitrariedade seria esta? E quem decretou que no ensino fundamental deva haver religião?
Este é um campo que não deve haver uma moral estabelecida para julgar as atitudes de Dawkins; é mais do que estabelecer se existe um deus ou não; é comportamental.
Claro que o oposto pode ocorrer, isso também se tornar um fundamentalismo, mas será? Não seria interessante ver até onde vai isto ao menos?
Não creio também que se esteja ofendendo culturas alheias; desculpe, mas desde quando "religião" é simplesmente cultura?
Muitas pessoas que conheço afora já relataram as idiossincrasias e ações deletérias de toda sorte provenientes desta moral e muletas de estupidez humana que teoricamente alegam o "bem estar" de todos; e todos nós sabemos da sujeira social herdada ao longo da historia ao brado de um deus insipiente.
A única forma que se assemelha de um conceito muito respeitável de ação não intolerante é a do "budismo", e este para os que realmente conhecem o sentido desta filosofia.
Da mesma forma que debatemos muitas proposições filosóficas aqui, creio que um ateu deva ter a sua para sustentar de fato se é um ou não. Porque não refutar os "superastros" das grandes massas? Pode até soar a tentativa de uma "metodologia" esta de Dawkins.
Não obstante, quem lê Dawkins estaria se interessando também por outras coisas além de conceitos ateístas, como por exemplo, a própria ciência e o humanismo; paradoxalmente possa isto parecer.
Especular se isto ou aquilo não daria certo antes do tempo não seria uma prova cabível.
Porque será que falar de deus aos ateus incógnitos é o mesmo tabu que falar de sexo para outros tantos?
Vocês sabem em qual proporção os evangélicos, estes mais lunáticos, crescem tanto quanto outros movimentos místicos? Será mesmo que Deus está morto? Acho que nem tanto, foi apenas reinventado.
Pois bem, se a morte de Deus se resume também na pós-modernidade, que tenham os ateus sua voz ativa ao menos; já que o quadro está estabelecido e ninguém viverá além das elucubrações contrarias a isto.
Tomando o exemplo de Dawkins, ainda penso que se dá a impressão de tratados filosóficos serem "self-centered" somente. Seria muito mais interessante ver talvez um filósofo sair de seu estado "autofágico" e dar um brado que fosse contrário a tanta imbecilidade editorial, ao invés de professar suas filosofias para determinadas "castas" somente; elucidando de forma "inteligível" às massas um teor de "lúdica" crítica elementar.
O que talvez falte a Dawkins seja um argumento menos dialético e mais lógico em suas refutações.
Muitos são adepto da "martelada" inicial, e isto não necessariamente quer dizer que quero ver o circo pegar fogo ou qualquer outra apologia que o justifique.

sábado, 28 de novembro de 2009

O poder ilusório da auto-ajuda (Osvaldo)


Vejam por si mesmos aonde chegou a sociedade de modo geral e suas preferências literárias.
Na capa da revista Veja de 2/12/2009 logo se faz a advertência: "não adianta torcer o nariz!"
O que devem estar imaginando os filósofos ao lerem esta matéria?
Creio que dá para acessar o site da revista para ver a matéria na íntegra. Eu nem a li direito, me recusei; mas li nas duas escassas paginas finais o hediondo: " A prima rica da autoajuda é a filosofia. AMBAS se propõem a compreender e interpretar a existência humana, a diferença é que a filosofia vai fundo na definição de conceitos, e nem sempre tira lições práticas de suas conclusões". Depois citam o epicurismo e Sêneca.
Para finalizar citam algumas frases clássicas de alguns pensadores como Spinoza, Montaigne, e outros; com uma alusão final de se pensar na "vida" e esquecer a morte.
Nota-se uma clara concepção de valores opióides que lhes proporcionam o torpor da felicidade momentânea.
Pasmem, onde está Schopenhauer, Nietzsche e tantos outros?
Schopenhauer vaticinou que o futuro da literatura seria a banalização, as ditas "literatices"; termo criado por ele; e que a quantidade de escritores ruins vive somente da tolice do publico.
Aqui fica uma reflexão consoladora de minha parte: a sociedade não ousaria ouvir a verdade; a de que ela aperta cada vez mais a corda no pescoço!
Como isso lembra a morte de deus não?
E a revista, não importa qual fosse, faz um desprezo à filosofia, e nota-se que ela coloca apenas um "momento", uma frase, de um pensador como Spinoza, por exemplo.
Com mil diabos; como um pensador como Spinoza, talvez o mais indicado para uma baliza mediante esta matéria, pode ser citado apenas como um "axioma"?
Troca-se toda a sorte de filosofar por um padreco pop star e seus receituários, outro que pesca nas "sagradas escrituras" versículos mirabolantes, e outro que se afirma no capitalismo empresarial com um nome muito sugestivo para as presas fáceis: "O monge e o executivo".
Isto é o que se chama de niilismo.


Para explicar isto também, segue um texto de quem vaticinou mais de um século atrás este advento literário, Arthur Schopenhauer:

"Parece premonição. Quando o filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860) escreveu os três textos que compõem o livro Sobre o ofício do escritor (Martins Fontes, 222 págs., R$ 21,50) – originalmente para a obra de pequenos ensaios intitulada Parerga e paralipomena, lançada em 1851 –, não poderia supor que seus fundamentos seriam tão verdadeiros num futuro distante. O livro é um prognóstico de tragédia na área das letras. Deixemos de lado a parte em que fala dos problemas da língua alemã, pela especificidade que não é de interesse geral, para centrar nas críticas aos escritores, estilos e vícios. Parece que ele adivinhava que o futuro da literatura seria a banalização – basta ver entre os milhares de títulos lançados diariamente quais realmente merecem ser lidos. Feitas as contas, o resultado é pequeno.
Mas a responsabilidade pela proliferação de obras ruins é repartida com o leitor: “Uma grande quantidade de escritores ruins vive somente da tolice do público”, diz. Schopenhauer chama de literatice – termo certamente criado por ele e que significa literatura chata – “cerca de nove décimos de todos os livros”. E diz o motivo: os autores são “cabeças ocas que querem socorrer seus bolsos vazios”. Ele condena quem escreve para alcançar a fama ou, pior, para ganhar dinheiro. Só se deveria escrever por amor ao assunto, ensina. Não viveu o suficiente para conhecer o marketing, mas pediu que a literatura fosse avaliada apenas pelo pensamento original, e não pela capa ou presepada em volta. Bate pesado nas interpretações e compilações. “Só quem tira diretamente da própria cabeça a matéria do que escreve é digno de ser lido”, afirma. Considera que “os que pensam” são exceções e “no mundo inteiro, a regra é a canalha”. Ou seja, os que se apropriam de reflexões alheias e reproduzem idéias como se faz com “moldes de gesso”.
Schopenhauer afirma que não existe nada mais fácil do que escrever difícil, e que este é um recurso que visa ao logro. A exibição de erudição pomposa, estilo prolixo e palavras que ninguém entende é, na verdade, uma forma de o autor reconhecer que não merece ser entendido e que seu pensamento não é significativo. Dizem que a filosofia está na moda no Brasil atualmente e que os filósofos estão sendo procurados em livrarias. Ok, essa onda pode nos redimir da saga que ele critica em seu livro. “Há gente que lê mais sobre o que foi escrito a respeito de Goethe do que por Goethe e estuda com mais diligência a lenda de Fausto do que o próprio Fausto.” É aconselhável ler Schopenhauer por ele próprio".

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Das muletas existenciais e da crença em Deus (Osvaldo)


Quantos já indagaram o porquê da crença em Deus? E na falta de Deus, por que tantos outros se apegam a outras crenças? Como do consumismo, da hiper realidade, da "estética" do posicionamento social, do par perfeito e outras tantas?
Alternativas para a substituição de Deus, ou para uma simbiose Deus totalmente idéia subjetiva/agnóstica mais realidade fugidia é que não faltam.
Primeiramente, devemos voltar a tempos atrás quando o homem se norteava em seus instintos puros tão somente; a natureza e o homem eram apenas um. Isso foi corrompido pela tentativa de racionalização através do intelecto de um conceito metafísico e cosmológico, originando-se a partir destes as mitologias e os adereços para a natureza.
Como o passar do tempo, o homem foi se tornando mais reflexivo, inquisitivo, deixando de ser guiado por seus instintos somente para dar lugar à dialética, como uma nova arte de "iluminismo"; e o resto é historia.
Acontece que se tornou evidente no homem, dado um certo tempo, a necessidade de conforto metafísico, pois este já teria perdido grande parte de seus puros instintos de proteção; arriscaria até dizer que, ignorados deste conceito, o homem primitivo já se encontrava em um contexto existencialista, pois tudo era concebido de forma irracional anterior à largada do aprimoramento razão/intelecto; e a sobrevivência, a existência mediante tal quadro era seu instinto verdadeiro, livres de quaisquer conceitos extemporâneos.
Mas a metafísica sempre foi de fato o assunto preferido entre grandes pensadores, preocupando-se mais com indagações exteriores do que interiores para os homens, uma tomada de consciência que se justificava pelo simples ato de filosofar e de obter conhecimento como indagações do que é natural e o que é real.
Advém disto também, por caprichos e conveniências de alguns, a idade das trevas do pensamento humano, o cristianismo, a escolástica, os grandes doutores da igreja, muito antes disto ainda o neoplatonismo e suas corruptelas e falácias. O homem volta então ao obscurantismo, mas este de forma perniciosa e premeditada; pois isso é latente no ser humano; um engodo magistral de sandices religiosas e tantos outros sofismas para nós todos que estamos ainda na "caverna" de Platão.
Dá-se depois deste período um grande respiro, da renascença e do iluminismo; este ultimo de forma ímpar com pensadores que remontavam à razão e critica, tentando posicionar o homem novamente em seu centro crítico, com grande colaboração dos louváveis empiristas como John Locke, David Hume e até Descartes,que mesmo dentro de um conceito metafísico abriu uma brecha para o ceticismo metodológico; sem falar em Kierkergaard, precursor do grande pensamento existencialista; bravo, intrépido; tanto quanto Spinoza, inseridos em uma religião e desafiando os próprios conceitos.
Voltando para um pouco mais próximo do tempo atual, temos Schopenhauer com seu estilo literário e filosófico jamais visto antes, e logo após Nietsche, que sabiamente vaticina grandes idiossincrasias sociais jamais vistas até hoje, e não desmerecendo muitos outros que não citarei oportunamente agora. Cito, porém Freud com sua inigualável contribuição ao catalogar proposições oriundas dos dois últimos filósofos mencionados.
Grosso modo, esse é o movimento dado para a constituição intelectual do homem; mas como um cipó parasita, a metafísica suga a seiva do conhecimento humano ao tentar alegar ao indivíduo um conforto tal que não a própria razão crítica; mesmo porque metafísica hoje caiu na sua falácia etimológica, tamanho é desejo do individuo de projetar para lá bem longe de si suas responsabilidades e necessidades imediatas.
O resultado não poderia ser diferente; só pode ser uma piada de mau gosto para quem conta a uma platéia de bípedes autômatos.
Os homens deveriam se invejar dos animais, que cumprem seu círculo na natureza de forma menos deletéria que a nossa. Eles são irracionais? Qual o conceito de razão? Ok, dois pesos duas medidas; esta é outra piada pueril.
Em nome das religiões se fazem guerras, atrocidades e se comete insanidade social. Em nome de uma moral distorcida, se é que alguma seja boa, se oprime os verdadeiros instintos criativos, e, por conseguinte, todo "valor" que hoje existe é um que é multiforme, sem identidade, com máscaras, em polaridade díspar e alta voltagem perniciosa.
Em que se tornou o homem senão um espectro daquilo que ele gostaria de ser, imerso em ideais voláteis e mesquinhos, nem tomando posse de sua real existência ao longo de sua vida e contando apenas seus grandes feitos superficiais; garantindo-se na consoladora "metafísica" do "post mortem", e, se necessário, recomeçar, adiar, deixar sempre para o "amanhã"; idealistas perdidos em elucubrações baratas.
Oras, para encararmos a "realidade" precisamos de certas muletas, hoje a idéia de Deus também pode estar escorrendo entre nossos dedos e esvaindo-se. A pós modernidade e a hiper realidade nos faz cada vez mais esquecermos dele; bem disse Nietzsche que nós matamos Deus!
Afinal, qual é a crença também do ateísta? A crença na ciência? Qual sua posição? Ser ateu e respeitar a metafísica alheia? Pois cada vez mais em nome de Deus cresce a intolerância não somente entre religiões, mas a intolerância a quem não tem religião nenhuma; prova disto é de que uma metafísica de alguma pilhéria qualquer sempre esteve em todas as plataformas sociais, em todos os seguimentos, sem exceção alguma, se fazendo expressiva minimamente que seja em sua moral torpe, pífia e nauseabunda.
Entrementes, o mercado editorial é abarrotado de "literatices", a arte de escrever bem para não dizer nada, somente sofismas, incredulidades e muletas estratosféricas.
A psicologia por sua vez apenas é uma "tabula rasa", que explica o homem e seu comportamento a partir de fatos empíricos, devaneios próprios da sociedade; o homem inserido na própria armadilha que ele criou, os cenários que nós mesmos pintamos, mas agora queremos sair, ou não, desde que o advento "Prozac" veio à tona.
Se não tenho amor à vida? Eu apenas cumpro o papel que a mim mesmo "estabeleci".
Vive-se melhor sob uma ótica iluminista, deixando a adolescência para trás e as referências existenciais de viver. Torna-te o que tu és! É paranóico? Enlouquecedor?
Cada um que segure sua onda! Lembre-se dos primeiros homens que de nada sabiam, e que tinham fé em si mesmos. Mediante o irracional, que possamos posicionarmo-nos criticamente e acreditarmos em nós mesmos.

O mundo como vontade e representação (Osvaldo)


Quando Schopenhauer diz "o mundo é minha representação", não quis dizer que o homem simplesmente representa mentalmente as coisas, ele quer dizer muito mais: que toda a realidade existe, a princípio, enquanto meramente representada pelo homem. O que é dado a este imediatamente é como as coisas talvez pudessem ser em si mesmas; imediatamente dadas são apenas representações das coisas.
O exemplo que se dá: o homem não sabe nada da árvore mesma, mas apenas da representação da árvore. Ele também diz no mesmo sentido que o homem “não conhece o sol algum e terra alguma, mas apenas um olho, que vê o sol, e uma mão, que toca a terra”. Portanto, todas as coisas são aparições ou fenômenos. Daí ele se baseia em Kant, e recusa também espaço, tempo e causalidade aos objetos e os atribui ao espírito humano. Diz que temporal, espacial, causado e causador NÃO são as coisas em si mesmas; mas são coisas do olhar do homem que lança em si, a fim de projetá-los fora no mundo, é de caráter fenomênico. Mas assim a realidade seria idealismo para ele, portanto seria o mundo nada mais que um sonho e aparência do espírito humano.
Mas ao refletir acerca da aparição ou fenômeno, fica claro para ele que, atrás da aparição, tem que haver algo que apareça. Isso Kant tinha observado na coisa em si, um mero “x” sobre o qual não se pode afirmar nada.
Schopenhauer vai adiante e ousa afirmar sobre a essência desta coisa em si, tomando outro caminho para entender como o homem se sabe como ser corpóreo. Ele diz que é de duas maneiras: por um lado uma coisa como as outras, objeto da representação. Por outro, há uma perspectiva interna, pela qual o corpo é sentido. Neste caso é a expressão da vontade do homem. Os movimentos corpóreos vêm dos atos da vontade, da vontade observada exteriormente.
O corpo aparece como coisa material, mas conforme seu ser-em-si, é vontade.
Depois de toda explanação da vontade e sua representação, sofrimento e sublimação do mesmo pelo homem, Schopenhauer cita referencias ao pensamento platônico, as idéias das coisas, dizendo que elas são as eternas e essenciais formas originárias da realidade, acima da transitoriedade: o arquétipo da pedra, do homem, da árvore. Elas se expressam na realidade e nas suas múltiplas configurações. E as idéias por si mesmas o que são? São as puras exteriorizações da vontade originaria que precedem toda a realidade. A vontade originaria se realiza antes no reino das idéias, para depois se realizar na realidade visível.
Schopenhauer propõe então que o mundo é apenas um, mas que há dois pontos de vista nele, da representação e da coisa em si (vontade).
Sendo o fenômeno e a coisa em si uma coisa só, não é preciso que o objeto saia de onde quer que seja para adentrar a mente humana, pois Schopenhauer diz que a mente é uma criação espontânea do mundo; a coisa em si não precisa causar a mente, ela simplesmente se torna mente e passa a ver as si mesma como representação.
É mais ou menos isso, creio.

Amor, um delírio metafísico.(Osvaldo)


As pessoas não concordam com o fato de que por detrás das justificativas que promovem a união de um casal, seja em namoro ou casamento, oculta-se uma inexorável permuta de interesses próprios e ilusões, dada a cognição do mesmo.
Partindo-se do pressuposto biológico, que aqui não se faz necessário discorrer, o corpo humano com o cerne em sua atividade cerebral, produz mecanismos singulares que despertam interesses subjacentes ao processo de acasalamento tal qual fazem os animais irracionais, porem estes se diferem pela não racionalização do evento em si, seguem a lei natural da vontade da natureza.
Uma vez sendo o homem dotado de razão, ele se esquece que esta razão é pífia e mal administrada, empiricamente dotada de valores distorcidos, moralistas e vigentes na sociedade atual mais do que nunca, sobressaindo-se desta forma a procura incessante de parcerias ideais como em um catálogo de compras, à sombra da união abençoada por um deus fatídico, puritano e opressor, ou de forma oposta na crença de um deus como conforto metafísico que não existe.
O que nos move na procura de alguém? Talvez seja a concepção de estórias e histórias mirabolantes que expressam a certeza do amor, mesmo que não seja o perfeito, tanto quanto a concepção do reino dos céus e seres alados que nos protegem das agruras de nossas próprias idiossincrasias e feitos deletérios, ou um estoicismo romântico de redenção àquele que locupletará nossas próprias deficiências e necessidades; pois o erro sempre está em nós também, movidos por modinhas esdrúxulas da era "new age" de lorotas terapêuticas e sofismas acerca da real felicidade do ser; pilhérias pueris, enfados e mesquinharias editoriais, filosofastros que incutam apenas predicados depreciativos do ser.
Pasmem, aqui uma boa dose de razão pura e ceticismo acerca da historia como nos contaram nos remete ao um juízo no qual se infere as causas multiformes das separações, divórcios e outras quinquilharias juvenis.
Os indivíduos gostam de sofrer por amor, se tornando isto um vício, um torpor que em primeira ordem nos alenta na mera especulação do "bem me quer ou mal me quer"; um frisson desajuizado advindo da ordem dada pelos hormônios e outras substâncias que nos preparam para o acasalamento, e este se traduz por sexo apenas, e no final de forma descompromissada; e ao se arriscar nas volições destas aventuras que cada qual se une temporariamente à subjetividade alheia, vem acompanhado o desgaste de tudo ter conhecido em relação ao outro; assim emergem todas as destemperanças do ego.
Quais seriam então estas âncoras que, mesmo ao serem fincadas, ainda deixam os indivíduos à deriva e em movimentos nauseantes dos relacionamentos antes destes decidirem por alçar as âncoras e respirarem a brisa de seu próprio oceano? A reposta é a ilusão, o determinismo, as influencias, o outro como baliza de sua existência, a falta de amor próprio e a necessidade de formar esta auto confiança em outro que não seja a si próprio; a falta de fé em si mesmo, a inferioridade, o porto seguro mediante o absurdo existencial, a falta da personalidade própria, o auto flagelo, os interesses econômicos, a libido sexual, na mulher a mensagem subliminar que uma prole se faz necessária, no homem meramente a vontade de potência, tudo isto de forma consciente ou não.
Mostram os fatos e estatísticas esmagadoras que a união amorosa se torna cada vez mais uma meta inalcançável, e este amor um sentimento peremptório, um desvio das reais necessidades do ser humano, a obliteração de algumas faculdades instintivas do ser para a sobrevivência de seu auto-juízo, adversa da mera propagação da espécie.
O amor se torna hoje uma metafísica imanente, uma meta e ideal intangível, inteligível, um apelo delirante, um sonho de consumo, um assunto que se leva até o fim dos tempos para os românticos, em versos, prosas, trovas e tercetos, um devaneio; explicando-se assim este fenômeno hoje de forma simplesmente mais elucidativa, mais apurada, mas que sempre existiu no meio do homem.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Ateísmo e Neo Ateísmo (Osvaldo)


De fato quando cita-se a questão do neo-ateísmo, me lembro sumariamente de Nietzsche quando este advertiu ou mesmo vaticinou alguns fatos que poderiam resultar nisto, e me faz recordar de fato que ainda ele se encontra póstumo, ou seria o neo-ateísmo uma configuração de seus vaticínios em ultima instancia?
Pelo pouco que sei, o neo-ateísmo se dá como efeito colateral da indolência filosófica dos "clássicos"ateus que não conclamaram sua posição mediante vários segmentos sociais, face à proliferação de movimentos religiosos circunscritos e impregnados em qualquer lugar que seja; política, educacional e tantos outros aparatos ideológicos. Forma-se daí também a dicotomia entre ambos, ou seja, quem suplantará quem, acusando-se mutuamente, porém os neo-ateus advertem para a bancarrota de ambos se não tomada uma ação até mesmo legislativa contra a falácia moral-religiosa impregnada nos recônditos sociais.
Penso que talvez essa conscientização dos neo-ateístas seja de fato uma via de congruência filosófica, uma vez esta dicotomia se faz por ora instalada.
No tocante a transdisciplinaridade entre biologia e filosofia ética, isto é de fato algo inevitável e carece de mais discussão, eu mesmo preciso estudar isto melhor, entrementes, fico com o que Nietzsche pensava acerca de uma certa perda dos instintos elementares que protegem a vida, nos tornando viciados em conhecimento com certas consequências,dado como a ciência é praticada hoje:conhecimento com que fim? Dizia ele que o que conseguimos são descrições de maior complexidade e sofisticação, mas não explicamos nada; tais fenômenos permanecem tão mágicos para nós hoje como para os mais primitivos seres humanos, e que as quantidades epidêmicas de teorias pós modernas, o sentido paranóico de existir em um vácuo hiper real, não são volições meramente científicas e teóricas, mas uma tentativa desenfreada de manter-se junto às revoluções pós modernas em cosmologia, genética e tecnologia digital; a ciência como valor absoluto, como uma nova "religião" para nossa era sem Deus.
Entretanto, ouvindo o cientista Richard Dawkins em sua obra, "Deus, um delírio", percebo que algumas de suas assertivas são de fato convenientes, e isso faz eu voltar ao primeiro assunto em questão, no que lê diz que já é hora daquele que se diz ateu não simplesmente dizer que respeita o conceito de religião, mas se faz necessário refuta-lo com argumentos claros e óbvios.
É para se pensar!

domingo, 1 de novembro de 2009

Da metafísica e o ópio. (Osvaldo)


Muito se comenta nas comunidades em que eu participo acerca de diversas possibilidades que elucubram o porquê da humanidade chegar a este ponto em que estamos, mas muito pouco se fala aonde ela irá culminar.
A escola filosófica aponta diversas proposições à luz da expansão do conhecimento humano, livre do obscurantismo metafísicos e doutrinas incapacitantes, dogmatismos e determinismos.
A metafísica no sentido mais restrito da palavra é hoje sinônimo de apenas vida para além da vida, ou vida que não seja agora, e até mesmo a superação de mim mesmo de acordo com minhas “percepções”. Desvia-se desta forma de seu sentido filosófico de entender a humanidade sem estar baseado em dogmas ou formas superficiais para formular as indagações que intrigam a existência do homem e sua essência. Sendo assim metafísica não é religião, mas podemos pensar metafisicamente quando questionamos o motivo de sua prática e sua influencia no viver diário. Entretanto, ela não está interessada em saber como se faz, mas sim nos “porquês”.
Penso que algumas das escolas filosóficas mais existenciais deixam de lado esse verniz da metafísica quando esta aborda assuntos como: O que é real?; O que é liberdade?; O que é sobrenatural? O que fazemos no nosso planeta? Existe uma causa primária de todas as coisas?
De certo que o homem precisa se situar em sua existência ou até meditar na existência anterior à essência, vislumbrando assim caminhos de auto-supremacia de si mesmo, mas daí também é um passo ao abismo colossal, a grande maioria não quer o existencialismo, e sim o metafísico na sua corruptela.
O medo, a priori, de estar só, lança o homem aos estados mais diversos e mirabolantes de sua percepção no mundo, mesmo porque na nossa mente se processa toda forma que damos à realidade, maneira que concebemos este e a ordem que damos aos eventos e categorização de um mundo que nos é peculiar. Tampouco se resume a metafísica a um “esforço de se pensar com clareza”, aceitando percorrer a vida em axiomas em detrimento de um pensamento claro e da dialética.
O intelecto do homem não é tão forte quanto sua vontade, então acredita no que querem acreditar, em razão de seus esforços comuns e perpetuação de suas crenças a partir deste cenário cognitivo e empírico, dos fenômenos e suas próprias aspirações em relação ao objeto de sua vontade.
Somos então exortados, ao acompanhar o raciocínio que se segue, a suspender nossos juízos finais sobre as coisas.
Forma-se então um pilar no qual levantamos um raciocínio critico acerca dos valores que adotamos e de onde se originam, tanto quanto da necessidade de crenças religiosas ou dogmas dentro de um compêndio catastrófico que leva o homem para além da ética entre os semelhantes, para consigo mesmo e própria natureza.
Caminha-se, portanto, ao sabe-se tudo, mas nada se sabe, à alegoria da caverna de Platão, da necessidade de nos libertar da escuridão que nos aprisiona intelectualmente através da luz da verdade.
Ora o ser humano se perde em seus devaneios “metafísicos”, ora se perde na irracionalidade tecnológica enquanto própria impersonalidade, ou nos conhecimentos científicos sem saber a razão de sua prática e esquivando-se ainda de suas verdadeiras metas cientificas.
Situa-se o homem numa posição folgada mediante a capacidade de avanços advindos da vontade de controlar o que lhe é incognoscível.
A filosofia se situa num campo neutro, entre a teologia e a ciência, na qual é bombardeada por ambas as partes. Formou-se daí, por falta de conhecimento e mesmo por parte do processo evolutivo do homem o qual pensamos ser muito diferentes dos primatas, mas somos apenas pela razão, a necessidade do homem viver assistido, vigiado e julgado por um deus como ainda é pertinente nos dias atuais nos reality shows da vida.
As religiões, a necessidade da fé pelo incognoscível, a falta de ética no coletivo, o não exercício da cidadania, a falta de conscientização para com a natureza em seu limite, poderiam ser mais elucidadas à sombra do exercício do conhecimento desprovido do medo de conhecer sempre mais e da noção de libertar-se do dogmatismo e determinismo.

Eros ou tânatos? Apolíneo ou Dionisíaco? A morte intelectual (Osvaldo)


Os conceitos modernos e ultra virtuais, que são na sua contingência ainda de ordem subjetiva advindas da procura por respostas de como situar-se no mundo atual, ressuscita varias proposições de ordem ético-moral e mais do que nunca metafísicas.
Apregoa-se que, no entendimento mais racionalizado em vista da realidade subjetiva e da ordem que concebemos o mundo, o que lhe propõe prazer esta intrinsecamente relacionado com o desejo de viver, que é “Eros”, ao passo que, dentro ainda destas percepções voláteis e frugais, sua contraposição é “morte”- Tânatos.
É certo que na individualidade e característica de cada qual o que prevalece sempre será o modo particular de ver as coisas, e estas, sempre são de ordem empírica e causais na nossa mente.
Precisamos então entender que os valores, condicionamentos, observações do mundo em nossa volta, e intelectualidade do observador que se atém ao reducionismo da equação Eros – Vida, se limita a tão somente categorizar estes conceitos, escapando ainda da percepção de si mesmo nesta contingência.
Como poderíamos apenas classificar o que é o ímpeto de vida e o que também a cerceia? Pela mera supressão da do sofrimento ou o que nos propõe prazeres absolutos?
A psicologia poderia muito bem tratar destes tratados enquanto movimento das grandes massas, mas a filosofia propõe um estudo da fenomenologia para tal, que não pode ser desprezado, ou seja, há uma distinção entre pensar o que é de fato “ser” e o porquê se pensa desta forma.
O que se atém a Eros, a priori, podemos dizer que são sensações do prazer mais imediato como assim é o sexo e suas formas mais lúdicas. Este se situa nas esferas mais abrangentes do ser humano e, consequentemente , desvela-se latententemente, empiricamente e causalmente uma ampla gama de atribuições para objetivar tal estado de prazer, assim como se dá a forma os prazeres mais elementares extraídos da subsistência do ser humano como o calor, alimento, afeto e toda sorte de manutenção a vida.
Não obstante, pode-se dizer também que a antítese ao supracitado, embora suscite na esfera da temporalidade da razão determinista a idéia tanática, é uma proposição ou até via de regra para elucidar as reais aspirações da “idéia” do ser humano que vive mais focado em sua própria natureza mais do que sentidos e percepções temporais das representações que sua mente impinge a si mesmo, salvaguardando suas necessidades básicas e estas não a revelia.
O que mais ouvimos atualmente é uma determinante acerca de nosso bem estar em oposição com o verdadeiro conteúdo que habita as reais necessidades do homem, como a mídia de forma geral no seu papel avesso, inculcando uma falsa realidade e aspirações para além de suas capacidades, sendo estes estéticos ou mesmo sociais; a hiper tecnologia que rouba uma grande porção da capacidade do homem de criação e pensamento crítico, a má educação escolar na qual não se advém indivíduos críticos, e por fim, mas não último, o norteamento que as grandes massas seguem desviando-se da auto-conscientização política e sócio-econômica, valorizando-se mais a realidade subjetiva da aquisição dos prazeres imediatos do que o bem estar coletivo e uma ética assertiva mediante os devaneios políticos e seus praticantes. Desvela-se mediante de nós então um ciclo de vicissitudes.
Forma-se a partir disto um embasamento da morte intelectual, que contrapõe a idéia de “Eros” pelo fato de que estando o ser humano nessa dormência intelectual não está apregoando sua própria salubridade intelectual e até racional ao não confrontar o que de fato o mantém muito além da apreensão de si mesmo.
Outra inserção que se adequa aqui é a dicotomia do homem “contemporâneo” com o metafísica, de sua necessidade de crenças no “para além desse momento”, que promete, equivocadamente em si, um objetivo final para além desta realidade no qual se faz valor a perpetração do mundo subjetivo concomitantemente ao juízo de que nesta dualidade se encerra o ciclo homem-existência, na promessa de, ou de um deus redentor, ou punitivo.
Isso também nos remete ao “Apolíneo e o Dionisíaco”, um embate filosófico ou necessidade de nos despertamos perante o que seguimos de convenções, dogmatismos, formatos e estatutos, mesmos os religiosos, em contraposição com o que de fato queremos, somos ou necessitamos, dentro de uma perspectiva de resgate da capacidade humana de criar, recriar e criticar, de longa data tolhida por nos mesmos, que deixamos desprotegida a lacuna do saber e da lucidez morrendo intelectualmente, já que assim entendemos o mundo na sua representação.

sábado, 31 de outubro de 2009

Crítica ao apego e à filosofia individualista (Osvaldo)


Todos nós partiramos de um pressuposto filosófico individualista advindo de outro discurso de alguma escola filosófica de determinada autoria, e frente nossa própria realidade se aplica devidas determinações, aquilo que faz bem e é conveniente professar. Forma-se a partir disto uma forma de pensar própria, que é bom, mas desde que objetivando o dialogo que engloba outras conjecturas também.
O assunto levantado aqui referente ao apego é interessante porque hoje a sociedade procura respostas mediante varias opções de como conseguir uma vida “classificadamente” melhor e preocupações banais, e não mais uma resposta acerca do “quem sou eu “, meu papel na sociedade e o que fazer para me tornar um indivíduo melhor para comigo mesmo não atritando em diversos níveis com os demais. Suas referências ainda são catalogadamente dispostas de forma pontual e não creio que resignar-se a este movimento seja interessante em termos de coletividade, isso é banal demais para o homem, tanto quanto pensar que cada um se vire da forma que desejar conquanto se adquira, passe por cima, destrua, e infinitas ações deletérias provindas de sua “situação” no meio. Ao invés, se publica nas revistas o apocalipse em 2012 em antagonismo com a necessidade do homem se tornar insuperável nos negócios, no amor, sexo, beleza, etc...
Ainda penso que os grandes discursos na maioria, principalmente os ininteligíveis para a população, não levam a lugar nenhum, embora alguns seletos pensadores de fato souberam “premeditar” ou até tornar ainda vívido seus conceitos para os dias de hoje.
Não é uma questão de determinismo somente, que é o que parece nos dias atuais, ou aforismos ao pé da letra, ou eterna reciclagem de livros de auto ajuda , (as literatices, segundo Schopenhauer nada mais fácil do que escrever difícil).
Formulas de prateleiras, unidas ao fermento social, resultando em um mundo voltado para si com as mascaras do que não é, e de que tudo está bem no meu mundo, ao passo que o individuo se assombra com sua falta de poder de escolhas mediante tanta oferta e frente a convenções.
Porque não dizer que isso tudo também é obscurantismo e apego ao vazio?(que não é o “nada”), e sim ainda um estado de torpor que não se desperta o verdadeiro gênio em si.
O determinismo reflete ainda suas “irracionalidades” e, a grosso modo,ao se calçar no indeterminismo geral o homem volta à toca preferindo o verniz das múltiplas escolhas da contemporaneidade e seus desdobramentos “ocupacionais”.
Vamos então ser racionalistas, usar os quatro métodos para refilmar o clássico “assim caminha a humanidade”.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

A Solidão/Crítica aos Relacionamentos (Osvaldo)


Por que nas desventuras do cotidiano alguém se deparar com um estado de solidão do outrem, isso se faz motivo de preocupação de quem observa o fenômeno?
Ser/estar solitário pode ser um estado muito saudável para os que intelectualmente precisam apenas de paz e harmonia, para estarem em contato consigo mesmos para além das aparências de uma objetivação empírica criada pela maioria das pessoas ao redor de quem se cala. Se calar frente à banalidade contextual, a literatice, e as percepções mais esdrúxulas do cotidiano é uma proeza e tanto, como a qual de estado em que se faz necessário um momento mais sublime de inspiração, ao recorrer ao silencio absoluto para não ser açoitado pela agressão intempestiva e indolente do barulho que agride o momento que no silêncio se dá forma a concepção da arte e seu artista.
No meio de uma massa amorfa que segue essa sociedade em que vivemos, a qual cada um estabelece caoticamente seus preceitos e pré-conceitos inadequadamente e pressupostamente à luz da vã racionalidade, estar no silencio nos transporta para um estado de segurança longe deste torpor anestesiante, de cólera inadvertida da ignorância latente sem valores e sem nada, niilismo mental, o vazio cerebral.
As pessoas sempre carecem, como numa matilha, agregarem umas as outras, por instintos básicos e primitivos, é certo, porém a tagarelice dos indivíduos pode ser indicadores de outras pressuposições que divergem das meramente amistosas ou do banal cotidiano. Que resultado pode advir de abordagens repetitivas e maçantes em ambientes corriqueiros? Que sentimento pode algum intelecto mais esclarecido que fomenta aspirações do conhecimento recíproco e abrangente obter das mesmices cotidianas grupais?
Diversas são as máscaras, muitas vezes até inconsciente, empregadas para dissimular mimos e afabilidades entre as pessoas, sejam elas por beneficio próprio ou por estabelecimento inconsciente do “poder” de persuasão e astucia sobre os demais. Em qualquer grau de relacionamento, as pessoas se adéquam ao outro para não perder sua “colocação” na vida alheia, para poder gozar do sentimento benfazejo de pertence, muitas das vezes momentâneo, de que “possui” o outro nas mais diversas escalas do inconsciente, perdendo assim sua vida em detrimento dessas concessões. Uma metamorfose deletéria daquilo que não se consegue ser por si só, buscando no outro a auto-afirmação diária em um processo de auto-estima decadente e sentido de pertence.
Ao se abrir os olhos para tal descoberta, uma força interna impele o individuo a proclamar seu novo “estado”, sua “individualização” mediante tais processos mesquinhos, produzindo-se assim a dor da partida, as desavenças, a incompreensão, o ato de se fazer julgado por não seguir a ordem das convenções e estatutos sociais, mas segue-se a partir daí a compreensão que a maturidade em escala maior, e a razão farão companhia para ser solitário novamente com esmero.
Quem realmente tem os olhos voltados para a amizade real que se estabelece entre dois indivíduos, passara alhures dessa rasa insipiência de fazer sempre para o outro em beneficio de si próprio e estabelecer uma dialética banal, mal conseguindo promover a síntese seja lá do que for, desferindo apenas conjecturas dentro de abstrações do que é um ser comunitário ou uma parceria.
Estar em silencio faz bem, e compreender isto de forma inteligível e não ser banal na abordagem é melhor ainda, contribuindo de forma auxiliadora à promoção da tarefa alheia e respeitar a individualidade de cada um e de quem também está próximo, compreender que nem todos precisam do ópio generalizado como o pop, futebol, novela das oito e tantas outras coisas que tocam única e exclusivamente o indivíduo, e não contingentes.
Ser igual é a preferência, ser diferente tem seu preço, mas tem sempre sua identidade e individualidade impressa sob vários adjetivos. Ser você mesmo supera tudo isso: o comum. Que bom navegar com um barco por um oceano de mentes que se igualam em sua composição.
Sua consciência, não a dos outros, é sua melhor amiga.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Tendencionismo filosófico (Osvaldo)


Muitas das citações de certas pessoas são uma“ilusão da onipotência individual”,sendo mais ideologia do que o processo de filosofar, uma tendência proselitista que confronta o pensamento individual de cada um negando a mescla de várias correntes filosóficas no sentido da pura análise e debate para fins esclarecedores.
Existe o que nós temos acolhido como norteador e aquilo que também não podemos expor sequer em uma sala de aula de ensino médio, a dita grade curricular: é fraca do ponto de vista de seu conteúdo, mas adequada a um início de formação de opinião e necessária, assim como a sociologia, voltar massivamente para as escolas.
Muitos pensam que filosofar hoje é ser “descolado”, encher o caneco de breja até o talo ou fumar um baseado em frente suas “respectivas” instituições de ensino e discutir o pseudo-marxismo dentre aqueles que são burgueses por si mesmos (salvo muitos que levam a idolatrada “coisa em si” para além da diversão e do vociferar).
A filosofia é o seguinte, quando a água bate na bunda, nossos instintos considerados mais imbecis se mostram na superfície proveniente dos remanescentes culturais, familiares, da realidade social, etc. Daí se emprega o que? Caos? Niilismo? Existencialismo? Racionalismo? Volta-se a acreditar no anjo da guarda? Já passaram por situações que de fato viram a face daquilo tudo que não gostariam de ver e nem imaginavam porque estavam tão protegidos em um “bunker social” diverso?
A imparcialidade se faz mister para quem se denomina filosofo.Mesmo eu curtindo muito Nietzche ou Schopenhauer, também tenho apreciação por outros tantos, mesmo porque muitos se fundamentaram sucessivamente.
O que vale de fato é pensar em quais bases a humanidade caminha e a projeção de tudo isso, e que ainda a sociedade se impõe limites e que ainda se espelha em modelos absurdos para os bilhões que precisam de seus ídolos em diversos seguimentos: culturais, metafísicos, educacionais e políticos.
Quem já vê a luz no fim do túnel que me diga, antes de me acusarem de niilista apenas digo que estou usando a razão, fatos e estatísticas para tal, embora esperança possa ser algo frustrante também, mas no caos valerá a lei do mais forte.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Aos críticos de Schopenhauer- Osvaldo


Verborragias à parte, o fato é que há um certo cheiro de "proselitismo" filosófico e de certa forma um dogmatismo em certas referências individualistas quando se aborda Schopenhauer, deixando de lado a imparcialidade.
No que tange sua filosofia, nada é mais apropriado que seu pensamento para elucidar sua escola que de fato desagrada sobremaneira vários intelectuais ate os dias de hoje apenas por mostrar a face “noir” da humanidade que é em si própria uma constatação de si mesmo e de um lado da realidade que nos apresenta inexoravelmente. Este também foi precursor de outro pensador que apenas rompe com esse niilismo de forma reativa, trocando em miúdos.
Não há mal nenhum em mostrar o que há de mais feio no mundo ou da forma que chega em nossa percepção, assim como existe suas belas nuances.
O impacto da obra vai de acordo com a afinidade de cada qual para com seus interlocutores e suas elucubrações,classes sociais e própria filosofia: todos somos filósofos a partir de questionamentos contra verdades e morais estabelecidas, nunca se esquecendo que a filosofia em si visa o esclarecimento de idéias frente a nossa hiper-realidade com pilares ruídos.
Alguns apontaram aqui algumas outras faces do pessimismo humano, mas o que também há de tão positivo socialmente e politicamente nos dias de hoje? E nossa educação que é informativa e escassamente formativa? E os meios de comunicação torpes? A elite social pífia?Medonho. Quem vai nos salvar? Chapolin Colorado? Não, ninguém (...) no homem ainda devemos depositar nossas “esperanças”, é a superação a cada dia como uma montanha russa desgovernada em meio às trevas do absolutamente necessário para a sobrevivência primeva mascarada em conhecimento cientifico adquirido em tonalidade de potência messiância.
Schopenhauer,entre outros e suas definições mais esclarecidas, uma mera questão de semântica.
Considerando o mundo da maneira que se mostra, e reformulando a metafísica partindo de Kant,Schopenhauer convida-nos a assumir um ponto de vista diferente, e considerar que a felicidade não está em questão da mesma forma que não estaria para porcos-espinhos ou macacos. Ele não queria nos deixar deprimidos, mas nos libertar das expectativas (quem não as tem) que podem acabar gerando frustrações.
De fato um pensador muito próximo do ser humano, sendo distinto em sua forma de elucidar e elegância da escrita, uma afronta aos que pensam que a vida é um bolo cheio de creme com a cereja no topo.
Penso que não há necessidade de tanta erudição ao propor, atualmente, temas que já foram massivamente devorados, digeridos e formatados. O que se nota é que o ser humano nunca deixou de ser primitivo de fato até esse estágio da evolução e que as correntes filosóficas que de fato tentam dar um salto qualitativo geral são as que incutam a “existência” livre de paradigmas dogmáticos, fazendo os homens descerem de um pedestal arrogante e ilusório.
Devemos agradecer a Schopenhauer o fato de mostrar a vida despida de contos de fada, e ao mesmo tempo, ouvir que é um alento se muitos aspectos da vida nos trouxerem tristeza é porque a felicidade não fazia parte da equação inicial. Faz parte de nosso impulso de vida até questionarmos tudo isso aqui e até discordarmos uns dos outros ou mesmo juntar um pouco de cada grande filosofia.
Quem pode dizer que o mundo caminha para a dissolução de seus emaranhados de toda sorte?
O que de fato, a não ser bases humanísticas que toquem o individuo e sua sociedade em prol de seu desenvolvimento maior, poderia ser sugerido?
Somos HUMANOS com o DNA impregnado de lorotas celestiais do obscurantismo da escolástica e biologicamente temos “necessidades” emocionais pertinentes.
As vezes os pensadores mais pessimistas, paradoxalmente, podem ser os mais consoladores.
So se estampa em Schopenhauer o pessimismo,mas quem de fato é depressivo poderia procurar um psiquiatra, já que se espera diretamente na filosofia uma “estampa” de um pensador levando apenas a obra de um filosofo ao pé da letra. Há diversas “máscaras” filosóficas nesse sentido que podemos escolher.
Voltando ao assunto de forma séria e em última análise, o que merece respeito é a falta de complacência de Schopenhauer. Ele não se situa em terreno seguro, arriscando-se em vez disso a enfrentar problemas dos quais não podemos deixar de nos mostrar “inseguros”, (ou mesmo sem as aspas aqui).
Ele pergunta o que é o eu, e não tem como dar aqui uma resposta fácil. Ele se lança então ao que há de mais inseguro, perguntando que valor pode ter a existência do homem, e a conclusão que chega nesse ponto é ainda menos agradável.
Os especialistas em filosofia se comprazem com seu estilo maravilhoso e julgam suas idéias provocadoras, mas não costumam tomá-lo como modelo: para uma pessoa versada em Kant ou Aristóteles, ele pode se afigurar demasiadamente “literário”. Mas é filosofia que ele pratica, fazendo poucas concessões, e muitos leitores que ele inspirou o têm tomado como paradigma de metafísico profundo, difícil. É pena que o rejeitem por considerá-lo filosófico demais, ou pessimista, (pessimismo, ou seu oposto, tomado muitas vezes também literalmente de forma “new-age” de prateleiras de supermercado).
Ainda que o calcanhar de Aquiles de Schopenhauer seja o fato de seu “sistema” desabar mesmo sob a mais tolerante prova analítica, grande é nossa perda mediante seus pontos fortes, uma tola atitude de um especialista em filosofia.

Nietzsche e o Niilismo


O legado da obra de Nietzsche foi e continua sendo ainda hoje de difícil e contraditória compreensão. Assim, há os que ainda hoje associam suas idéias ao niilismo, defendendo que para Nietzsche:

"A moral não tem importância e os valores morais não têm qualquer validade, só são úteis ou inúteis consoante a situação"; "A verdade não tem importância; verdades indubitáveis, objectivas e eternas não são reconhecíveis. A verdade é sempre subjectiva"; "Deus está morto: não existe qualquer instância superior, eterna. O Homem depende apenas de si mesmo"; "O eterno retorno do mesmo: A história não é finalista, não há progresso nem objectivo".

Outros, entretanto, não pensam que Nietzsche seja um autor do nihilismo, mas ao contrário um crítico do nihilismo. Pois, para ele o homem pode ser, além de um destruidor, um criador de valores. E os valores a serem destruídos, como os cristãos (na sua obra, faz menção à doença, à ignorância), um dia seriam substituídos pela saúde, a inteligência, entre outros. Tal afirmação se baseia na obra Assim falou Zaratustra, onde se faz clara a vinda do super-homem, sendo criar a finalidade do ser. Tal correspondência é totalmente contrária ao nihilismo, pelo menos em princípio. Ou um "nihilismo positivo", para Heidegger. Todavia, Nietzsche, contrário ou não, não deixando escapar de suas críticas nem mesmo seu mestre Schopenhauer nem seu grande amigo Wagner, procurou denunciar todas as formas de renúncia da existência e da vontade. É esta a concepção fundamental de sua obra Zaratustra, "a eterna, suprema afirmação e confirmação da vida". O eterno retorno significa o trágico-dionisíaco dizer sim à vida, em sua plenitude e globalidade. É a afirmação incondicional da existência

Friedrich Wilhelm Nietzsche


Biografia
Friedrich Nietzsche nasceu numa família luterana em 1844, sendo destinado a ser pastor como seu pai, que morreu jovem em 1900 aos 55 anos, junto com seu avô (também pastor luterano). Entretanto, Nietzsche perde a fé durante sua adolescência, e os seus estudos de filologia afastam-no da tentação teológica. Durante os seus estudos na universidade de Leipzig, a leitura de Schopenhauer (O Mundo como Vontade e Representação, 1818) vai constituir as premissas da sua vocação filosófica. Aluno brilhante, dotado de sólida formação clássica, Nietzsche é nomeado aos 25 anos professor de Filologia na universidade de Basiléia. Adota então a nacionalidade suíça. Desenvolve durante dez anos a sua acuidade filosófica no contacto com pensamento grego antigo - com predileção para os Pré-socráticos, em especial para Heráclito e Empédocles. Durante os seus anos de ensino, torna-se amigo de Jacob Burckhardt e Richard Wagner. Em 1870, compromete-se como voluntário (enfermeiro) na guerra franco-prussiana. A experiência da violência e o sofrimento chocam-no profundamente.

Em 1879 seu estado de saúde obriga-o a deixar o posto de professor. Sua voz, inaudível, afasta os alunos. Começa então uma vida errante em busca de um clima favorável tanto para sua saúde como para seu pensamento (Veneza, Gênova, Turim, Nice, Sils-Maria… ) : "Não somos como aqueles que chegam a formar pensamentos senão no meio dos livros - o nosso hábito é pensar ao ar livre, andando, saltando, escalando, dançando (… )." Em 1882, ele encontra Paul Rée e Lou Andreas-Salomé, a quem pede em casamento. Ela recusa, após ter-lhe feito esperar sentimentos recíprocos. No mesmo ano, começa a escrever o Assim Falou Zaratustra, quando de uma estada em Nice. Nietzsche não cessa de escrever com um ritmo crescente. Este período termina brutalmente em 3 de Janeiro de 1889 com uma "crise de loucura" que, durando até à sua morte, coloca-o sob a tutela da sua mãe e sua irmã. No início desta loucura, Nietzsche encarna alternativamente as figuras míticas de Dionísio e Cristo, expressa em bizarras cartas, afundando depois em um silêncio quase completo até a sua morte. Uma lenda dizia que contraiu sífilis. Estudos recentes se inclinam antes para um câncro (câncer) do cérebro, que eventualmente pode ter origem sifilítica. Sua irmã Elizabeth Vöster Nietzsche falseou seus escritos após a sua morte para apoiar uma causa anti-semita. Falácia, tendo em vista a repulsa de Nietzsche ao anti-semitismo em seus escritos. Entretanto, sua irmã morre confortavelmente sob a tutela nazista.

Durante toda sua vida sempre tentou explicar o insucesso de sua literatura, chegando a conclusão de que nascera póstumo, para os leitores do porvir. O sucesso de Nietzsche, entretanto, sobreveio quando um professor dinamarquês leu a sua obra Assim Falou Zaratustra e, por conseguinte, tratou de difundi-la, em 1888.

Muitos estudiosos da época tentaram localizar os momentos que Nietzsche escrevia sob crises nervosas ou sob efeito de drogas (Nietzsche estudou biologia e tentava descobrir sua própria maneira de minimizar os efeitos da sua doença).

Obra

Nietzsche ao lado de sua mãe.Crítico da cultura ocidental e suas religiões e, conseqüentemente, da moral judaico-cristã. Associado equivocadamente, ainda hoje, por alguns ao niilismo e ao nazismo - uma visão que grandes leitores e estudiosos de Nietzsche, como Foucault, Deleuze ou Klossowski procuraram desfazer - Nietzsche é, juntamente com Marx e Freud, um dos autores mais controversos na história da filosofia moderna, isto porque, primariamente, há certa complexidade na forma de apresentação das figuras e/ou categorias ao leitor ou estudioso, causando confusões devido principalmente aos paradoxos e descontruções dos conceitos de realidade ou verdade como nós ainda hoje os entendemos.

Nietzsche, sem dúvida considera o Cristianismo e o Budismo como "as duas religiões da decadência",embora ele afirme haver uma grande diferença nessas duas concepções. O budismo para Nietzsche "é cem vezes mais realista que o cristianismo" (O anticristo). Religiões que aspiram ao Nada, cujos valores dissolveram a mesquinhez histórica. Não obstante, também se auto-intitula ateu:

"Para mim o ateísmo não é nem uma conseqüência, nem mesmo um fato novo: existe comigo por instinto" (Ecce Homo, pt.II, af.1)

A crítica que Nietzsche faz do idealismo metafísico focaliza as categorias do idealismo e os valores morais que o condicionam, propondo uma nova abordagem: a genealogia dos valores.

Friederich Nietzsche quis ser o grande "desmascarador" de todos os preconceitos e ilusões do gênero humano, aquele que ousa olhar, sem temor, aquilo que se esconde por trás de valores universalmente aceitos, por trás das grandes e pequenas verdades melhor assentadas, por trás dos ideais que serviram de base para a civilização e nortearam o rumo dos acontecimentos históricos. E assim a moral tradicional, e principalmente esboçada por Kant, a religião e a política não são para ele nada mais que máscaras que escondem uma realidade inquietante e ameaçadora, cuja visão é difícil de suportar. A moral, seja ela kantiana ou hegeliana, e até a catharsis aristotélica são caminhos mais fáceis de serem trilhados para se subtrair à plena visão autêntica da vida.

Nietzsche golpeou violentamente essa moral que impele à revolta dos indivíduos inferiores, das classes subalternas e escravas contra a classe superior e aristocrática que, por um lado, pelo influxo dessa mesma moral, sofre de má consciência e cria a ilusão de que mandar é por si mesmo uma forma de obediência. Essa traição ao "mundo da vida" é a moral que reduz a uma ilusão a realidade humana e tende asceticamente a uma fictícia racionalidade pura.

Com efeito, Nietzsche procurou arrancar e rasgar as mais idolatradas máscaras. Mas a questão é: que máscaras são essas? Responde, então, que as máscaras se tornam inevitáveis pela própria vida, que é explosão de forças desordenadas e violentas, e por isso, é sempre incerteza e perigo.

A vida só se pode conservar e manter-se através de imbricações incessantes entre os seres vivos, através da luta entre vencidos que gostariam de sair vencedores e vencedores que podem a cada instante ser vencidos e por vezes já se consideram como tais. Neste sentido a vida é vontade de poder ou de domínio ou de potência. Vontade essa que não conhece pausas, e por isso está sempre criando novas máscaras para se esconder do apelo constante e sempre renovado da vida; pois, para Nietzsche, a vida é tudo e tudo se esvai diante da vida humana. Porém as máscaras, segundo ele, tornam a vida mais suportável, ao mesmo tempo em que a deformam, mortificando-a à base de cicuta e, finalmente, ameaçam destruí-la.

Não existe via média, segundo Nietzsche, entre aceitação da vida e renúncia. Para salvá-la, é mister arrancar-lhe as máscaras e reconhecê-la tal como é: não para sofrê-la ou aceitá-la com resignação, mas para restituir-lhe o seu ritmo exaltante, o seu melismático júbilo.

O homem é um filho do "húmus" e é, portanto, corpo e vontade não somente de sobreviver, mas de vencer. Suas verdadeiras "virtudes" são: o orgulho, a alegria, a saúde, o amor sexual, a inimizade, a veneração, os bons hábitos, a vontade inabalável, a disciplina da intelectualidade superior, a vontade de poder. Mas essas virtudes são privilégios de poucos, e é para esses poucos que a vida é feita. De fato, Nietzsche é contrário a qualquer tipo de igualitarismo e principalmente ao disfarçado legalismo kantiano, que atenta o bom senso através de uma lei inflexível, ou seja, o imperativo categórico: "Proceda em todas as suas ações de modo que a norma de seu proceder possa tornar-se uma lei universal".

Essas críticas se deveram à hostilidade de Nietzsche em face do racionalismo que logo refutou como pura irracionalidade. Para ele, Kant nada mais é do que um fanático da moral, uma tarântula catastrófica.

Para Nietzsche o homem é individualidade irredutível, à qual os limites e imposições de uma razão que tolhe a vida permanecem estranhos a ela mesma, à semelhança de máscaras de que pode e deve libertar-se. Em Nietzsche, diferentemente de Kant, o mundo não tem ordem, estrutura, forma e inteligência. Nele as coisas "dançam nos pés do acaso" e somente a arte pode transfigurar a desordem do mundo em beleza e fazer aceitável tudo aquilo que há de problemático e terrível na vida.

Mesmo assim, apesar de todas as diferenças e oposições, deve-se reconhecer uma matriz comum entre Kant e Nietzsche, como que um substrato tácito mas atuante. Essa matriz comum é a alma do romantismo do século XIX com sua ânsia de infinito, com sua revolta contra os limites e condicionamentos do homem. À semelhança de Platão, Nietzsche queria que o governo da humanidade fosse confiado aos filósofos, mas não a filósofos como Platão ou Kant, que ele considerava simples "operários da filosofia".

Na obra nietzscheana, a proclamação de uma nova moral contrapõe-se radicalmente ao anúncio utópico de uma nova humanidade, livre pelo imperativo categórico, como esperançosamente acreditava Kant. Para Nietzsche a liberdade não é mais que a aceitação consciente de um destino necessitante. O homem libertado de qualquer vínculo, senhor de si mesmo e dos outros, o homem desprezador de qualquer verdade estabelecida ou por estabelecer e apto a se exprimir a vida, em todos os seus atos - era este não apenas o ideal apontado por Nietzsche para o futuro, mas a realidade que ele mesmo tentava personificar.

Aqui, necessário se faz perceber que, involuntariamente, Nietzsche cria e cai em seu próprio Imperativo Categórico, por certo, imperativo este baseado na completa liberdade do ser e ausência de normas.

Para Kant a razão que se movimenta no seu âmbito, nos seus limites, faz o homem compreender-se a si mesmo e o dispõe para a libertação. Mas, segundo Nietzsche, trata-se de uma libertação escravizada pela razão, que só faz apertar-lhe os grilhões, enclaustrando a vida humana digna e livre.

Em Nietzsche encontra-se uma filosofia antiteorética à procura de um novo filosofar de caráter libertário, superando as formas limitadoras da tradição que só galgou uma "liberdade humana" baseada no ressentimento e na culpa. Portanto toda a teleologia de Kant de nada serve a Nietzsche: a idéia do sujeito racional, condicionado e limitado é rejeitada violentamente em favor de uma visão filosófica muito mais complexa do homem e da moral.

Nietzsche acreditava que a base racional da moral era uma ilusão e por isso, descartou a noção de homem racional, impregnada pela utópica promessa - mais uma máscara que a razão não-autêntica impôs à vida humana. O mundo para Nietzsche não é ordem e racionalidade, mas desordem e irracionalidade. Seu princípio filosófico não era portanto Deus e razão, mas a vida que atua sem objetivo definido, ao acaso, e por isso se está dissolvendo e transformando-se em um constante devir. A única e verdadeira realidade sem máscaras, para Nietzsche, é a vida humana tomada e corroborada pela vivência do instante.

Nietzsche era um crítico das "idéias modernas", da vida e da cultura moderna, do neo-nacionalismo alemão. Para ele os ideais modernos como democracia, socialismo, igualitarismo, emancipação feminina não eram senão expressões da decadência do "tipo homem". Por estas razões, é por vezes apontado como um precursor da pós-modernidade.

A figura de Nietzsche foi particularmente promovida na Alemanha Nazi, tendo sua irmã, simpatizante do regime hitleriano, fomentado esta associação. Em A minha luta, Hitler descreve-se como a encarnação do super-homem (Übermensch). A propaganda nazi colocava os soldados alemães na posição desse super-homem e, segundo Peter Scholl-Latour, o livro "Assim Falou Zaratustra" era dado a ler aos soldados na frente de batalha, para motivar o exército. Isto também já acontecera na Primeira Guerra Mundial. Como dizia Heidegger, ele próprio nietzscheano e nazista, "na Alemanha se era contra ou a favor de Nietzsche".

Todavia, Nietzsche era explicitamente contra o movimento anti-semita, posteriormente promovido por Adolf Hitler e seus partidários. A este respeito pode-se ler a posição do filósofo:

Antes direi no ouvido dos psicólogos, supondo que desejem algum dia estudar de perto o ressentimento: hoje esta planta floresce do modo mais esplêndido entre os anarquistas e anti-semitas, aliás onde sempre floresceu, na sombra, como a violeta, embora com outro cheiro.[3]

… tampouco me agradam esses novos especuladores em idealismo, os anti-semitas, que hoje reviram os olhos de modo cristão-ariano-homem-de-bem, e, através do abuso exasperante do mais barato meio de agitação, a afetação moral, buscam incitar o gado de chifres que há no povo…

Sem dúvida, a obra de Nietzsche sobreviveu muito além da apropriação feita pelo regime nazista. Ainda hoje é um dos filósofos mais estudados e fecundos. Por vários momentos, inclusive, Nietzsche tentou juntar seus amigos e pensadores para que um fosse professor do outro, uma espécie de confraria. Contudo, esta idéia fracassou, e Nietzsche continuou sozinho seus estudos e desenvolvimento de idéias, ajudado apenas por poucos amigos que liam em voz alta seus textos que, nos momentos de crise profunda, ele não conseguia ler.

Idéias

Nietzsche em 1862Seu estilo é aforismático, escrito em trechos concisos, muitas vezes de uma só página, e dos quais são pinçadas máximas. Muitas de suas frases se tornaram famosas, sendo repetidas nos mais diversos contextos, gerando muitas distorções e confusões. Algumas delas:

1."Deus está morto. Viva Perigosamente. Qual o melhor remédio? - Vitória!".
2."Há homens que já nascem póstumos."
3."O Evangelho morreu na cruz."
4."A diferença fundamental entre as duas religiões da decadência: o budismo não promete, mas assegura. O cristianismo promete tudo, mas não cumpre nada."
5."Quando se coloca o centro de gravidade da vida não na vida mas no "além" - no nada -, tira-se da vida o seu centro de gravidade."
6."Para ler o Novo Testamento é conveniente calçar luvas. Diante de tanta sujeira, tal atitude é necessária."
7."O cristianismo foi, até o momento, a maior desgraça da humanidade, por ter desprezado o Corpo."
8."A fé é querer ignorar tudo aquilo que é verdade."
9."As convicções são cárceres."
10."As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras."
11."Até os mais corajosos raramente têm a coragem para aquilo que realmente sabem."
12."Aquilo que não me destrói fortalece-me"
13."Sem música, a vida seria um erro."
14."E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música."
15."A moralidade é o instinto do rebanho no indivíduo."
16."O idealista é incorrigível: se é expulso do seu céu, faz um ideal do seu inferno."
17."Em qualquer lugar onde encontro uma criatura viva, encontro desejo de poder."
18."Um político divide os seres humanos em duas classes: instrumentos e inimigos."
19."Quanto mais me elevo, menor eu pareço aos olhos de quem não sabe voar."
20."Se minhas loucuras tivessem explicaçoes, não seriam loucuras."
21."O Homem evolui dos macacos? é existem macacos!"
22."Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal."
23."Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na loucura."
24."Torna-te quem tu és!"
25."O padre está mentindo."
26."Deus está morto mas o seu cadáver permanece insepulto."
Longe de ser um escritor de simples aforismas, ele é considerado pelos seus seguidores um grande estilista da língua alemã, como o provaria Assim Falou Zaratustra, livro que ainda hoje é de dificílima compreensão estilística e conceitual. Muito pode ser compreendido na obra de Nietzsche como exercício de pesquisa filológica, no qual unem-se palavras que não poderiam estar próximas ("Nascer póstumo"; "Deus Morreu", "delicadamente mal-educado", etc… ).

Adorava a França e a Itália, porque acreditava que eram terras de homens com espíritos-livres. Admirava Voltaire, e considerava como último grande alemão Goethe, humanista como Voltaire. Naqueles países passou boa parte de sua vida e ali produziu seus mais memoráveis livros. Detestava a arrogância e o anti-semitismo prussianos, chegando a romper com a irmã e com Richard Wagner, por ver neles a personificação do que combatia - o rigor germânico, o anti-semitismo, o imperativo categórico, o espírito aprisionado, antípoda de seu espírito-livre. Anteviu o seu país em caminhos perigosos, o que de fato se confirmou catorze anos após sua morte, com a primeira grande guerra e a gestação do Nazismo.

Referências nietzscheanas

Contudo, no próprio legado do filósofo podemos inferir suas opiniões em relação a outras filosofias e posições. É sumamente importante notar que Nietzsche perdeu o pai muito cedo, seus primeiros livros publicados até 1878, que não expunham suas idéias mais ácidas, ainda assim fizeram pouco ou nenhum sucesso. Que ele ficou extremamente desapontado com o sucesso de Richard Wagner, o qual se aproximou do cristianismo. Teve uma vida errante, com poucos amigos, e sempre perseguido por surtos de doença.

Na sua obra vemos críticas bastante negativas a Kant, Wagner, Sócrates, Platão, Aristóteles, Xenofonte, Martinho Lutero, à metafísica, ao utilitarismo, anti-semitismo, socialismo, anarquismo, fatalismo, teologia, cristianismo, budismo, à concepção de Deus, ao pessimismo, estoicismo, ao iluminismo e à democracia.

Dentre os poucos elogios deferidos por Nietzsche, coletamos citações, muitas vezes com ressalvas a Schopenhauer, Spinoza, Dostoiévski, Shakespeare, Dante, Goethe, Darwin, Leibniz, Pascal, Edgar Allan Poe, Lord Byron, Musset, Leopardi, Kleist, Gogol, Voltaire e ao próprio Wagner, grande amigo e confidente de Nietzsche até certo momento.

Ele era, sem dúvida, muito apreciador da Natureza, das guerras dos pré-socráticos e das culturas helénicas.